Entrevista com Mat Whitecross no Coldplay.com

06 janeiro, 2011

Confira nesse post a entrevista que Mat Whitecross deu ao Coldplay.com. Como reportado no site (leia também o Let’s Talk), Whitecross dirigiu o recente clipe de Christmas Lights. Trabalhos do diretor incluem ainda os clipes de Lovers In Japan e Bigger Stronger (o primeiro videoclipe do Coldplay), entre outros. Além disso, Whitecross também co-dirigiu o documentário Road to Guantanamo.

Parte 1

 

Parabéns pelo vídeo.
Oh, obrigado.

Quando você ficou sabendo que você faria a direção dele?
O Phil me ligou, mais ou menos um mês antes de fazermos a gravação. Tudo o que ele disse foi “a gente ainda não sabe o que vamos fazer, mas acho que a gente quer alguma coisa bem simples. Estamos ocupados com o álbum, então tem que ser algo pequeno”. Depois, eu falei com o Chris e ele disse: “Sério, a gente só quer que você venha aqui. Nós vamos andar pela Oxford Street e você pode filmar a gente com uma câmera simples. Só isso”.

E desse embrião…
Exatamente! A idéia era ser um vídeo bem simples. Mas alguns dias depois, o Chris sugeriu fazer alguma no estilo do clipe All You Nedd is Love, dos Beatles, com vários amigos e familiares no estúdios fazendo algo que não fosse natalino demais e não muito piegas, mas alguma coisa divertida e que tivesse a atmosfera de um Natal em família.

O que aconteceu com essa idéia?
Bom, depois eles falaram com os técnicos, que destacaram que a banda está bem no meio da gravação de um álbum e que está tudo arrumado do jeito que eles gostam e que o clipe poderia afetar a continuidade do trabalho. Assim, pensamos em arranjar um outro estúdio para o clipe.

Mas isso também não aconteceu?
Não. Foi quando o Will mencionou que já havia estado no Willesden Music Hall e que tinha adorado o lugar. Ele sugeriu que fizéssemos a gravação ali, para que o vídeo fosse de uma apresentação no palco, mas com uma boa atmosfera natalina. Mas todas as casas de shows estavam agendadas para o Natal. Foi aí que eles sugeriram chamar a Misty Buckley.

Qual foi o papel dela?
Ela é uma designer incrível. Ela fez a turnê Circus do Take That e trabalha no Glastonbury todo ano. Ela é estupidamente jovem e talentosa. A gente sentou junto e começou a discutir o que poderíamos fazer sem conseguir agendar uma casa de espetáculos. A gente teve, então, a idéia de construirmos a nossa própria casa de espetáculo, em um lugar bem legal. Foi assim que o vídeo começou efetivamente.

E essa idéia veio só com algumas semanas antes do prazo final?
Isso. Isso tudo aconteceu quando só havia mais três semanas. A Misty estava bem no meio de um trabalho e eu também estava finalizando outro. A essa altura também não havia nada definitivo ainda. Então, o Chris disse que deveríamos todos ir à Bakery e conversarmos com a banda. Começamos a anotar todas as idéias que vinham à mente e a assistir vídeos na internet e a Misty mostrou alguns dos trabalhos dela para a gente. A banda ficou muito empolgada e disse “Isso! É exatamente isso que a gente vai fazer. Vamos começar amanhã”.

A banda já estava envolvida no projeto, então?
Já. E isso é o melhor de trabalhar com o Coldplay. Sempre que eu trabalho com eles, eles ficam dando várias idéias e a gente tenta incluir as melhores nos vídeos. E o Chris sempre tem idéias. Ele me ligou no meio da noite e disse “eu quero muito que o vídeo tenha três Elvis tocando violino, de macacão”. Eu achei que ele estivesse brincando, mas duas semanas, lá estavam eles!

Que outras idéias o Chris teve?
Bom, foi idéia dele aparecer deitado no chão, perto do piano, no começo do vídeo. De início, ele queria algum tipo de mágica, então entramos em contato com um ilusionista. Ele sugeriu um bocado de coisas, alguma das quais só não entraram porque não se enquadravam na idéia central do clipe. Eu acho que a idéia principal do Chris era tentar fazer um vídeo sem edições desnecessárias e deixá-lo o mais real possível – fazer a gravação em uma única tentativa, se possível.

E vocês ainda tiveram de encontrar uma locação.
É. A gente cogitou fazer a gravação sob a ponte de Waterloo, então o Chris sugeriu um telhado. Conseguimos garantir o telhado do John Lewis [loja de departamento], na Oxford Street. Depois, porém, o Chris achou que seria melhor fazer o vídeo perto do rio, bem onde o mar a cidade se encontram. Depois, fomos para South Bank – e isso tudo cinco dias antes da gravação de fato – e ele adorou. Era para ser só um vídeo simples, com amigos andando pela Oxford Street à meia noite, mas essa idéia inicial acabou ganhando proporções bem, bem maiores. Foi muito legal, mas também assustador ao máximo.

Foi uma experiência assustadora?
É, essa seria uma descrição fiel! Banda e equipe foram absolutamente amáveis e pacientes, mas foi uma das gravações mais difícies que eu já fiz. Eu acho que eu fiquei me pressionando mais porque,  mais do que as pessoas com quem estava trabalhando, eles eram amigos. Por isso, eu estava desesperado por não decepcioná-los. Sempre tem pressão quando você faz um filme ou um clipe que você quer que fique profissionalmente bom, mas quando são amigos e quando eles investiram dinheiro na jogada, você não quer deixar ninguém na mão!

Teria sido horrível se, depois de tudo isso, o vídeo tivesse ficado ruim.
Meu Deus, teria sido horrível. Quando a gente terminou o trabalho naquela noite, eu não tinha certeza absoluta se tínhamos dado uma dentro ou não, porque foi uma gravação particularmente difícil e estávamos todos congelando – especialmente a banda e os três Elvis, que não estavam agasalhados. Mas a banda foi completamente paciente. Estava tão frio. Acho que muitas outras bandas teriam simplesmente desistido.

Mas você está contente com o vídeo?
Sim, muito. É uma música bonita, então tínhamos de fazer o vídeo à altura. Mas a reação do público tem sido fantástica.

Parte 2

Você gosta de trabalhar com o Coldplay?
Com certeza. É sempre algo simples, como se fossem apenas amigos fazendo algum trabalho juntos. Se eles quisessem, tenho certeza que eles poderiam simplesmente pegar o telefone e fazer um clipe com o Michael Gondry ou com o Spike Jonze. Mas, ao contrário, eles falam como se eles fossem uma banda que acabou de assinar um contrato e que estão se divertindo um pouco.

E você certamente sabe do que está falando, já que dirigiu o primeiríssimo vídeo deles.
Haha! Sei. Esse vídeo foi provavelmente tão estressante quanto. Com Bigger Stronger, o Chris me ligou na noite anterior e mudou a música. Era para ser Spies, mas eles mudaram de idéia no último minuto. Eu lembro que eu estava trabalhando num curta para a faculdade com Penelope Keith e ele me ligou fingindo que era ela. Eu estava tão cansado que eu caí. Na verdade, uma noite antes da gravação de Christmas Light, ele me ligou e disse que não ia mais ser essa música. Por sorte, eu sabia que ele estava me zoando!

Quantos vídeos você já gravou com eles até agora?
Bigger Stronger, Violet Hill, Lost!, Lovers In Japan e este. Cinco, então. Seis, se você contar Lost+. E também fizemos filmagens no estúdio e vários shows.

Vocês os conheceu na universidade?
É. Eu estava morando nos dormintórios da UCL [University College London] com eles. No verão, eu ficava no apartamento em Camden em que o Chris e o Jonny costumavam morar. Eles me hospedaram por um tempo enquanto eu estava procurando por um emprego. Eu os conheço faz um bocado de tempo, desde 1996 ou 97.

E vocês sempre se mantiveram em contato?
Isso é coisa incrível. Tem uns 20 ou 30 de nós que mantemos contato, mesmo depois da faculdade. E a razão é por que todos nós nos encontramos para os shows do Coldplay! Mas o principal motivo para trabalhar com eles é que é quase como fazer um vídeo caseiro ou um vídeo de família. A atmosfera no local de gravação é bastante diferente de tudo com que já trabalhei. É basicamente trabalhar com amigos, o que é incrível.

O que você achou dos fãs do Coldplay (recrutados via Coldplaying) que estavam no barco para a gravação do Christmas Light?
Isso foi incrível! Eu conversei com algumas pessoas e elas acharam que era um efeito especial! Foi tão bonito. Acho que a banda ficou muito emocionada quando eles apareceram e fizeram o trabalho de verdade. E eles foram muito pacientes, esperando no frio congelante. Chega a ser comovente ouvi-los cantando junto com a música. É algo de que eu gosto muito. Eles foram brilhantes.

Há muitos detalhes nesse vídeo.
Bom, na verdade, tem até alguns acidentais. […] De certa forma, são esses pequenos erros que fazem com você se dê conta do que é real.

A gravação correu bem?
Na verdade, foi mais um pesadelo, isso sim. Tivemos alguns problemas com o piano e com o guindaste. Mas você esquece essas coisas ao assistir.

Vídeos de Natal tendem a permanecer por um bom tempo. Esse pode ser um vídeo que vamos estar assistindo em cinquenta anos.
Eu espero que sim. A música é tão boa, que eu tenho certeza que as pessoas estarão ouvindo. É muito, muito difícil fazer uma canção de Natal, mas acho que eles conseguiram.

O que mais você está fazendo no momento?
Eu tenho algumas coisas planejadas. Vou fazer um filme com o Ray Winstone nesse começo de ano. É um road movie thriller, que esperamos filmar em março. E tem mais algumas séries de TV, filmes e um documentário em que estou trabalhando. Está meio difícil conseguir financeamento para fazer filmes, mas dedos cruzados para alguns desses projetos darem certo.

Mas [2010] foi um ano bom para você. Sex And Drugs And Rock n Roll foi um grande sucesso.
É. E eu também fiz aquele trabalho para o Take That. Mas, para falar a verdade, estou tentando dar cabo desse road movie desde abril. Parece que já faz um tempão. Tudo o que eu quero é fazer esse filme.

Você acha que fazer o vídeo de Bigger Stronger abriu portas para você?
Não tenho muita certeza se foi esse vídeo, já que foi há tanto tempo. Mas, sinceramente, não acho que eu teria feito Sex And Drugs se a banda não tivesse me chamado para fazer Lovers In Japan. Eles não acreditam quando você fala, mas as pessoas tendem a te levar muito mais a sério se você já trabalhou com o Coldplay. Ajudou muito mesmo.

Por fim, a pergunta que sempre fazemos a nossos entrevistados: qual é a sua música preferida do Coldplay?
Isso sempre muda e eu amo tantas, mas, para falar de algo com que nos conectamos, eu lembro de quando eles costumavam tocar Careful Where You Stand. Eu amo essa música. Eu ainda a acho muito bonita e pungente. Eu costumava escutar bastante essa música quando eles estavam começando.

Isso que é uma escolha de um fã dedicado!
Haha! Eu só me sinto sortudo por ter visto eles crescerem, desde de os ensaios senão no quarto deles até serem uma das maiores bandas do planeta. É surreal. Mas eles levam isso na boa. E eles são pessoas tão adoráveis – e eles continuam em contato com os amigos daquele tempo -, que parece até completamente natural. Estou muito orgulhoso deles

Você também pode assistir ao clipe de Bigger Stronger, com comentários da banda, na Timeline (setembro de 1999).

Confira também as entrevistas que o Coldplaying fez com Matt McGin, Phil Harvey e Miller, clique nas imagens abaixo:

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