Going Back to The Start #2

31 outubro, 2011

:borboleta-m: Na última edição do Going Back to The Start, nos reportamos à época na qual a banda se conheceu e formou o “The Coldplay”, que logo se tornaria o nosso amado Coldplay. No “Going Back to The Start” de hoje relembraremos como Phil Harvey se tornou o manager da banda, tendo um papel fundamental no que estaria por vir, a gravação do primeiro single da banda, The Safety EP e o surgimento de uma figura que mudaria os rumos do Coldplay para sempre.

Com as atenções voltadas para a Copa do Mundo na França, em 1998, o Coldplay começou a criar o seu masterplan. A prioridade era a composição, seguida de perto por ensaios diários em lugares exóticos, como banheiros, adegas, alojamentos de faculdade e até uma sessão num parque de Londres.

Nessa empolgação, a banda arranjou um show em Dingwalls, em Camden, persuadindo a organização do local a adicionar também duas bandas de amigos como atrações. Passaram semanas ensaiando avidamente, até que ficou claro que havia ocorrido uma grande confusão. Na verdade, oito bandas tocariam no mesmo dia que o Coldplay, sendo que eles seriam a quinta e tocariam por apenas 15 minutos. Eles não ganhariam nenhuma parte do faturamento da bilheteria da hora do show, e só ganhariam 10 libras por flyer entregue com o nome deles.

Chris tinha mantido contato com seu amigo Phil Harvey, que estava estudando em Sherbourne, e como que para impedir um desastre, o convidou para ser o gerente da banda. Phil concordou e imediatamente telefonou para Dingwalls para cancelar o show. Depois, como numa sacada incrível, fez uma reserva no mesmo local com seu próprio dinheiro na noite seguinte que o Coldplay estava agendado. Não apenas isso. Ele também ofereceu pagar para que a banda pudesse ir para sua primeira sessão em estúdio, num pequeno estúdio chamado Sync City, para que gravassem sua primeira demo.

O resultado dessa estreia em estúdio foi o Safety EP, que contém três músicas: Bigger Stronger, No More Keeping My Feet on The Ground e Such A Rush.  Todas as três músicas continham a guitarra marcante do Jon e a voz incrível do Chris, mas eram uma versão bem menos “refinada” do Coldplay tal como conhecemos hoje. Nesse ponto, Phil Harvey havia assumido o papel de manager da banda com paixão e trabalhou incansavelmente na divulgação desse primeiro lançamento. Foram produzidas cerca de 500 cópias do EP, mas acredita-se que apenas cerca de 50 foram vendidas, deixando que o resto fosse distribuído para amigos, familiares e seletos membros da indústria musical, para que pudessem conhecer a banda.  Isso tornou o EP uma peça rara desejada para coleção de muitos fãs.

Jonny fez questão de dar uma cópia do EP para seu professor de violão, Jan Beck (citado no primeiro GBTTS), que foi bem aberto para a imprensa a respeito de sua opinião do material: “Ele me trouxe o primeiro EP da banda e eu disse que ele não chegaria muito longe com aquilo- tecnicamente não era bem gravado.”

Nesse momento, shows eram escassos, especialmente durante esses meses viciados em futebol do verão de 1998 e os shows que aconteceram eventualmente terminaram em desastres, como problemas com o sistema de som, atrasos… Um episódio curioso foi no festival  “In The City”, em Manchester. Chris havia deixado o pedal de sua guitarra em Devon. Phil rapidamente arranjou um motorista que teria Manchester como sua rota e pediu para que trouxesse o pedal. Além disso, tiveram problemas com o som novamente, Chris esqueceu a letra das músicas e por aí vai…

Apesar de longe de agradáveis, essas experiências foram essenciais para a aprendizagem do grupo.

Em 7 de dezembro de 1998, o EP porém se provou essencial. Foi num show em Camdem Falcon Club, um pequeno pub onde bandas como Blur, Suede, PJ Harvey e diversos outros artistas tocaram “antes da fama”.  O pub era um dos lugares preferidos dos caça-talentos das gravadoras. Um deles era Simon Willians, às vezes jornalista e então fundador da gravadora independente Fierce Panda. “Eu peguei uma cópia do The Safety EP depois de vê-los tocar no Falcon. Eu adoraria tê-los dado um discurso de gravadoras grandes e dizer que tinha algo no vento naquele dia que dizia que eu tinha que ter ido para aquele show, ver aquela banda, uma obra do destino, mas nós tínhamos o mesmo advogado!! [Risos]. Ele estava trabalhando com o grupo havia alguns meses e sabia que nós estávamos diante de algo especial, mas não conseguiam convencer nenhuma gravadora do mérito da banda. Era tipo a última tacada e foi realmente uma coincidência ele ter mencionado que eles tocariam aquela noite. Eu fui quase como um favor. Eu os achei brilhantes, assim como sua vibe no palco e suas músicas. Fiquei muito impressionado.”

“Não se pode dizer que eles foram realmente rejeitados por nenhuma grande gravadora, porque eles nem tiveram um grande show no In The City [não naquele ano]. Tinham apenas cerca de quatro gravadoras que os viram naquele dia em Manchester. Coldplay não se encaixava em nada. Naquele tempo eles provavelmente tiveram bem mais respostas negativas; diriam que eles estavam apenas dando uma de Radiohead ou de Jeff Buckley. Naquela época esses eram dois dos mais consagrados nomes da indústria musical. Algumas pessoas levavam isso como um pouco de insulto. Era um conto de fadas assistir Buckley ou Radiohead ao vivo, mas não era intenso ver o Coldplay, porque Chris era um pouco boêmio, um pouco engraçado e um pouco ”flertante”, então eu acho que uma quantidade considerável de pessoas consideravam aquilo um insulto. Mesmo assim ainda havia um mix de opiniões”.

De qualquer maneira, Williams nomeou a banda como uma das dicas de sucesso da edição de ano novo da NME, mesmo antes de terem assinado, algo que os deixou delirando de felicidade. Quem ficou curioso com a citação pôde ver a banda tocando num bom número de shows de ano novo entre dezembro e janeiro, num circuito de pubs com diversas bandas desconhecidas que já causavam algum frisson na época, como Muse e Elbow.

Williams assistiu mais alguns shows da banda e cada vez ficava mais impressionado com o que via. As reações da platéia à banda não conseguiam sair de sua cabeça, e depois do show de Falcon decidiu abordá-los para propor a gravação de um single. “A maioria das vezes as pessoas ficam tão chocadas com esse approach que dizem sim na hora. E foi exatamente o que o Coldplay fez”, relembra.

Daí começaria a guinada na carreira da banda.

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