Tradução da entrevista com Will (e Guy e Bash) na BBC

24 junho, 2011

Conforme reportado na semana anterior, Will (com participação de Bash, técnico de percussão da banda e de Guy) foi entrevistado por Steve Lamacq da rádio BBC. Clicando em ‘leia mais’, confira o áudio (que pode ser baixado aqui) e sua tradução.

Para além do Glastonbury (tema central da entrevista) e do novo álbum (bastante comentado mais para o final da entrevista, quando Guy dela participa, por telefone), temos uma interessante conversa, com detalhes sobre a história de Will, suas opiniões acerca de composição musical, preparação para festivais, para citar só alguns temas. Além disso, Lamacq também faz perguntas interassantes – ele é figura importante na carreira do Coldplay, tendo sido o primeiro a tocar uma música do Coldplay em uma rádio (leia o Telescope Lens #4 para ler uma entrevista com ele).

(Algumas partes foram mais difíceis de decodificar. Quaisquer problemas na tradução, é só avisar aqui.)

Steve Lamacq: […] Agora, conosco, Will Champion, do Coldplay. Uma primeira pergunta: não quero que [essa pergunta] te deixe mais nervoso com o retorno para o Glastonbury, mas quando vocês começam a montar o repertório [setlist] para um evento como esse? Com meses de antecedência, como semanas de antecedência, dias antes?
Will Champion: Dessa vez, a gente começou logo que recebeu a confirmação de que estaríamos no evento.
SL: E desde então vocês têm trabalhado na setlist?
WC: Sim, já nessa hora, a sua mente começa a pensar no assunto porque, mesmo que você fique sabendo com antecedência, não dá para ficar achando que vai dar tempo de ensaiar tudo. E, obviamente, é o maior evento desse verão para nós, então, está tudo focado para que absolutamente tudo dê certo. Antes do Glastonbury, a gente vai tocar em cinco ou seis festivais, então vai ter tempo de arrumar as coisas, mas, basicamente, é tudo uma questão de preparação para o festival-mór. Já começamos a montar a setlist, mas ela já foi revisitada muitas e muitas vezes.
SL: Então, tem muita coisa para ajustar. Eu perguntei para essa outra banda, na semana passada, se eles já tinham feito uma setlist que eles tinham achado que era uma obra prima, mas, na hora de tocar as músicas efetivamente, ela se revelou um fracasso total?
WC: Tem horas que dá para ter mais ou menos certeza que aquela parte da setlist vai dar certo, mas, em outras, especialmente no começo de uma turnê, quando você ainda está tentando encaixar tudo no lugar, não tem como você saber se a setlist vai dar certo, a não ser na hora em que você efetivamente sobe no palco. Já teve vezes que a gente começou a tocar a música e ficamos olhando um para o outro com cara de ‘Isso não tá certo, né? A gente não devia estar tocando essa música agora’, mas não dá mais para parar.
SL: É basicamente como numa partida de futebol, quando, do nada, você muda a sua tática; você começa a movimentar as suas músicas no campo.
WC: Exatamente. E é complicado porque envolve informar um monte de gente, trocar informação com setenta e cinco pessoas.

SL: Estamos aqui com Will Champion. Mas a gente não veio aqui só para falar do Glastonbury desse ano, mas das perfórmances de vocês em anos anteriores. Vocês já tocaram uma vez como revelação [punters?], não foi
WC: Isso. Depois, a gente tocou, eu acho, em 1999, 2000, 2002, 2005.

SL: E quando foi a primeira vez que você sozinho foi no Glastonbury?
WC: Em 1995.
SL: Em 1995. E você foi com uma galera?
WC: Eu fui com dois amigos da faculdade. Cabulamos [?] as aulas de quinta- e sexta-feira e fomos para lá. Foi incrível. Tivemos muita sorte porque o tempo estava brilhante.
SL: Então, vocês fizeram o planejamento com meses de antecedência, estavam empolgados. Vocês dirigiram? Ou alguém teve de levar vocês?  WC: Meu amigo Carl [?] dirigiu.
SL: E vocês estavam plenamente equipados para acampar e tudo o mais? 
WC:
Sim. Com certeza… Eu não estava verdadeiramente preparado. [risos] Mas nunca dá para estar.
SL: Mas a primeira visão das montanhas da fazenda: vocês ficaram coletivamente de queixo caído?
WC: Ficamos. Mas, de qualquer forma, eu acho que eu cresci sabendo como ia ser porque a minha mãe costumava ir todo ano. Quando um amigo dizia que estava indo no Glastonbury, eu dizia “Legal, parece divertido”, sem saber realmente como era. Mas o fato é que você vai acampar e vai ouvir música. Parece ótimo. A gente tem bastante pôster em casa; lembro que a minha mãe costumava trazer um pôster todo ano. […].
SL: E ela deu algum conselho para vocês, porque você disse que algumas pessoas costumam ir bem despreparadas?
WC: Acho que ela só disse para a gente se divertir. A única banda que ela chamou atenção foi [?]. Eu fui ver eles tocando com a minha mãe um monte de vezes – era uma espécie de passeio educacional.
SL: Quando você foi, você tinha uma lista de pessoas que você queria ver tocando? Você estava curtindo alguma banda na época?
WC: Tinha sim. É claro que a melhor notícia na época é que o Stones Roses ia tocar. Quando eles cancelaram, a gente ficou muito chateado porque éramos muito fãs. Mas, estava correndo o rumor que o Pulp ia tocar no lugar, então ficamos empolgados de novo. […]. E o meu amigo Carl [?] era uma grande fã de hip hop e tinha o Dodgy e o The Blue Radleys e todo esse pessoal que tinha nome onde a gente vivia. Então, definitivamente, tinha uma lista de apresentações que queríamos assistir.
SL: Nesse Glastonbury 1995, em que o Pulp tocou, de qual lugar você estava assistindo show?
WC: Mais ou menos atrás das caixas de som da esquerda.
SL: Muito boa visão, então.

SL: Há algumas semanas, conversamos com o [?], que disse já estar esperando pelos sonhos ansiosos com o Glastonbury; ele disse que já tinha tido um em que ele estava passeando pela área aberta em que ocorre o festival até se dar conta que ele tinha de estar se apresentando há dez minutos.
WC: Eu conheço esse tipo de sonho, quando você morre de ansiedade porque não fez a lição ou tem um pesadelo na noite anterior a uma prova ou quando você sonha que a sua bateria não está no palco ou que só a sua bateria está no palco: um solo de percussão – uma desgraça. [risos]
SL: Então, você estava dizendo que a primeira apresentação de vocês no Glastonbury foi em 1999.
WC: Isso, em 99, no palco das bandas novas. A gente estava hospedado em um hotel bem longe. O motorista da nossa van não conhecia muito bem a locação, então simplesmente deixaram a gente em um portão e ocorreu que esse portão era o mais longe possível de onde a gente ia tocar, então a gente teve que literalmente pegar os nossos instrumentos no porta-malas e cruzar toda a fazenda, com o equipamento na mão. Isso levou mais ou menos 25 minutos. Por sorte, boa parte do equipamento já estava lá, mas tivermos de carregar guitarras e alguns outros instrumentos.
SL: Foi a realização daqueles sonhos!
WC: Pois é. Foi literalmente assustador. Mas, com sorte, a gente chegou bem a tempo. Foi uma experiência memorável, mas assustadora, porque você cresce ouvindo falar do Glastonbury e como ele é importante para a música britânica. Foi um grande dia.
SL: Você lembra quem tocou antes de voces?
WC: Eu lembro que o [?] ia tocar ou antes ou depois da gente. Foi quando tocaram uma música nossa no rádio pela primeira vez, quando você, muito gentilmente, tocou uma música no rádio pela primeira vez e ele XXX tinha uma música chamada “Many Rivers Apart” [?]. E ele parecia um cara muito legal mesmo. A gente mantém o contato desde então, mesmo depois de todo esse tempo. Mas eu estou tentando mesmo é lembrar das outras bandas. Acho que teve The Regular Fries, Yo La Tango, bandas que eu guardei na minha mente porque eles estavam fazendo coisas semelhantes à gente e na mesma época. A gente não conhecia muitas bandas, então não sabíamos qual era a tônica do momento […]. Naquela época, mesmo os shows que bandas que não eram muito grandes nos surpreendiam; até então, a pressão não era tão intensa assim.

SL: Quando você chega no local de um festival (e tem um bocado de gente – algo com que você tem que se acostumar), qual é a primeira coisa que você olha? Você pensa ‘uau, que imensidão’?
WC: Você costuma olhar primeiro para as fileiras da frente porque é onde você consegue ver rostos. Desde os primeiros festivais que tocamos – e esse foi um dos primeiríssimos – fizemos a constatação de que um monte de gente do público não foi lá para ver você. Por isso, é necessário ajustar a sua mente para essa ocasião em específico e estar preparado para ela. Quando o show é seu mesmo, tem pelo menos 95% de chance de que a pessoa comprou o ingresso para ver você e não por acidente. Num festival, por outro lado, especialmente quando você está tocando nesse tipo de palco e nesse horário, a maioria das pessoas não sabe quem você é, então você tem que direcionar a sua mente para isso. Tem a chance de conquistar as pessoas, o que é sempre um desafio, mas também sempre tem a chance de que as pessoas já terem formado uma opinião sobre você e não importa o que você faça, não importa o quão bem você tenha tocado, eles não vão ficar contentes.
[…]
SL: Depois dessa primeira apresentação no Glastonbury, vocês foram comemorar?
WC: A gente foi beber alguma coisa e depois foi ver outras bandas. Isso é uma das melhores coisas de tocar em um festival: você consegue ver outras bandas tocando. Hoje em dia, quando você está em turnê, você pode sair e se divertir com as bandas que abrem os shows, mas você não tem muita chance de assistir tantos shows como num festival. Ou seja, os festivais ainda representam a melhor a melhor oportunidade para você ver outros artistas, mesmo fazendo o seu próprio show.

SL: Vou te contar uma coisa. Sempre que eu ouço Pulp, eu me lembro de você porque, há muitos e muitos anos, nos bastidores de um show no Denver Red Rocks, estávamos todos sentados, curtindo, naquele camarim que parecia uma caverna, quase embaixo do palco. E acho que você tocou Disco 2000 do Pulp e todo mundo ficou “Nossa, que música é essa que ele está tocando?” e você olhou para mim com cara “ah, por favor, vai!”, com incredulidade.
WC: Tenho certeza que o problema está nas minhas habilidades com o violão e não com o seu ouvido, Steve. [risos]

SL: Essa música do Flaming Lips [comentário feito após uma música da banda ter sido tocada na rádio] parece que foi composta especialmente para o festival. O Wayne Coyne parece que ele devia morar ali; parece que ele foi originado daquelas terras. O Flaming Lips foi ótimo no ano passado. E foi um desses momentos estranhos em que você tem duas bandas grandes tocando juntas. Não tinha muita gente assistindo o Flaming Lips porque eu acho que todo mundo tinha ido ver o Gorillaz.
WC: Mas o Flaming Lips consegue conquistar as pessoas. Eles têm essa habilidade incrível de convencer qualquer um do quão brilhantes eles são

SL: Parece que muita coisa mudou desde a primeira vez que vocês tocaram no Glastonbury. […]
WC: É verdade, muita coisa mudou, especialmente em termos de proporção. Agora a gente já não conseguiria mais atravessar um campo inteiro carregando o nosso equipamento. [risos] Mas acho que as coisas estão mais tranqüilas agora, já que a gente não precisa mais ficar se preocupando mais com problemas em deslocar todo o nosso equipamento ou em vazar do camarim às duas horas da manhã [risos].

SL: [?]
WC: É sempre estressante, porque em todo festival sempre tem essa energia e essa aura de nervosismo, as quais, no entanto, nunca passam do limite porque você sabe que não é o seu show – tem muitas outras coisas acontecendo e você tem que aprender a viver com o fato de que vai ter coisas que vão funcionar e coisas que não vai funcionar. Se fosse o seu próprio show, acho que você conseguiria ficar mais focado e realmente tentar fazer com que tudo fique o mais perfeito possível.

SL: Então você é um cara tranqüilo, não é?
WC: Eu? Sou.
SL: Bom, podemos avaliar o quão o homem é tranqüilo, podemos consultar o cara que tem literalmente a visão mais próxima de você, o seu técnico de bateria [drum roadie]. Olá, Bash, como vai?
Bash: Olá, tudo bem e você?
WC: Olá, Bash [?]
B: Olá, Will. Tudo bem com você?
SL: Bash, conta para os nossos ouvintes há quanto tempo você trabalha com o Coldplay.
B: Acho que já faz 11 anos.
WC: É, parece que é isso mesmo.
SL: Onze anos! E é verdade que eles todos têm egos do tamanho do mundo agora?
B: Hm… Profissionalmente, não. [risos] Não, de jeito nenhum. São todos caras muito legais.
SL: Estávamos dizendo que é muito comum a progressão na carreira das bandas. E vocês certamente progrediram muitos degraus nesses anos todos, tantos em termos técnicos, como em termos de perfórmance, que vão ficando melhores e maiores.
B: Sim, é claro. O trabalho tem sido volumoso e a produção vai ficando cada vez maior a cada ano. É incrível. Muita coisa vai mudando.
SL: Trabalhar em festivais tem sido um desafio maior para vocês? Porque, agora, vocês têm que fazer a passagem de som diversas vezes e, antigamente, vocês nem tinham a chance de fazer isso, não é verdade?
B: É verdade, porque, nos festivais, é tudo em maior escala e, você tem razão, fazer a passagem de som às três da manhã realmente não é muito legal. [risos]
SL: Mas, além disso, vocês têm que fazer tudo muito mais rápido, como num ‘pitstop’.
B: É verdade. […]

SL: E que formas de comunicação vocês usam durante o show, Will? Vocês têm diferentes expressões faciais de pânico e satisfação?
WC: A gente tem experimentado esses microfones que estão conectados diretamente nos fones da nossa equipe, então, o som não chega na seção de assistentes pessoais. Assim, se tiver algum problema, eu posso simplesmente gritar ou me virar e ficar gesticulando que nem um louco para o Bash e, com sorte, ele vai entender a idéia. Além disso, você acaba descobrindo que você não consegue falar normal; você fala com o mesmo ritmo de qualquer coisa que você esteja fazendo com as mãos: “Bash-vo-cê-po-de-ri-a-por-fa-vor-pe-gar” [risos] De fato, não é a forma de comunicação mais fluente. Mas a gente consegue se virar porque não tem muita coisa que a gente não consegue resolver assim.
SL: Além disso, Bash, você tem o imenso prazer de ouvir o Will cantando, o que é algo que você sempre quis.
B: Com cer-te-za! Não, sério, o Will tem uma voz ótima.
WC: Você é tão gentil…

SL: […] E quanto aos seus momentos preferidos do Glastonbury, Bash? Quais lembranças vêm à sua mente?
B: A gente já foi atração principal [headliner] duas vezes, e foram absolutamente incríveis. Olhar para todos os fãs felizes é de tirar o fôlego, é algo que faz tudo valer à pena.
SL: Você fica no palco e, ao olhar para o público, você tem uma visão semelhante à que o Will tem.
B: Exatamente. Além disso, eu tenho a chance de ficar tocando bateria cinco minutos antes de eles subirem no palco, durante a passagem de som.
SL: Senhoras e senhores, quando vocês estivem esperando o Coldplay entrar no palco, se vocês virem um cara tocando bateria para fazer a passagem de som, esse cara é o Bash.

[Spies tocada ao vivo no Glastonbury de 2002]

SL: Will, você é fã do New Order [Lamacq faz a pergunta após uma música da banda ser tocada]?
WC: Só comecei a curtir depois dos dezessete, dezoito anos, na universidade, quando pessoas que tinham um gosto musical bem mais descolado me mostraram como o mundo realmente é.
SL: […] Que outros músicos você escuta?
WC: É muito difícil escutar música de uma maneira totalmente imparcial porque você sempre fica pensando no trabalho que está por trás, no que está acontecendo, em como chegaram naquela sonoridade em particular. É muito raro eu conseguir simplesmente escutar uma música e isso é muito revigorante porque não se preocupa com todo o trabalho de composição, com a química que está por trás da música. Ainda assim, como banda, é sempre importante olhar para os extremos, sempre procurar influências porque bandas como o Flaming Lips estão sempre tentando fazer algo interessante. O que é incrível sobre o Flaming Lips é que eles têm essa alma particular e não importa o que eles estejam fazendo e quais os traquejos a que eles estão recorrendo, o que há de melhor neles é o que está no cerne da música. E isso é algo importante quando você está gravando um álbum.
SL: Ou seja, antes de gravar um álbum, vocês ficam horas falando sobre o Flaming Lips.

SL: Vamos voltar ao Glastonbury desse ano. Quando vocês são atração principal de um festival, depois de todos esses anos, vocês ainda sentem a pressão da responsabilidade? Quero dizer, seria um problema totalmente diferente se vocês estivessem tocando às cinco horas, o sol ainda está visível e está todo mundo curtindo a música sem muita preocupação.
WC: Em shows como esses [de festivais], nós ficamos realmente nervosos. Se é um show nosso mesmo, é tudo mais tranqüilo porque você segue uma rotina basicamente fixa, você sabe o que está por vir. Em festivais, porém, é diferente. Como eu disse antes, você precisa reajustar a sua mente. Você não quer que as pessoas deixem de se divertir. […] Nesse ano, a gente teve sorte porque a banda que vai tocar antes da gente meio que vai entregar o bastão para a gente [como numa corrida de revezamento].

SL: Antes dessa seqüência de festivais, vocês fizeram uma espécie de ensaio, em uma casa de shows no norte de Londres, em Kentish Town, bem perto do pub onde eu vi vocês tocarem pela primeiríssima vez. Isso nos leva a isso. Fala para a gente sobre isso.
WC: Nossa, a gente te deu isso na primeira vez que você ouviu a gente pela primeira vez.
SL: […] Esse aqui, o Safety EP, de 1998, acabou não entrando num programa efetivamente; acabou indo parar numa pilha [como dito no e-zine, o disco quase acabou indo para o lixo]. Onde ele foi gravado?
WC: Sync City, pelo que eu me lembro.
SL: Hm, que chique. E foi o empresário de vocês, o Phil Harvey, que fez parte do financiamento.
WC: Isso. E graças a Deus ele fez isso porque, do contrário, não teríamos chegado a lugar nenhum.
SL: Todas as músicas foram escritas pelo Coldplay, incluindo essa aqui, Bigger Stronger.
SL: Parece que tem dois pedais de guitarra estão sendo usados nessa música.
WC: Isso mesmo, são dois pedais.
SL: E também tem um eco distintivo na voz do Chris. Quem produziu o EP?
WC: Nikki Rosetti. [leia tradução de entrevista com Rosetti aqui]
SL: Ela fez um trabalho muito bom. E, na capa, tem uma foto bastante enigmática.
WC: É verdade. Ela foi tirada pelo colega de quarto do Jonny, John Hilton [confira entrevista com Hilton aqui], que também tirou a foto que está na capa do Brothers and Sisters, nosso primeiro lançamento oficial. A única razão para o EP se chamar ‘Safety’ é porque está escrito ‘safety’ na foto. A palavra só aparecia no negativo da foto e acabou ficando, nos poupando de escolher um nome de verdade para o EP. [risos]SL: Isso também está presente na indecisão na escolha do nome da banda, não é?
WC: É, talvez a gente tivesse parado em ‘Big Fat Noises’. [risos]
SL: Isso traz lembranças de dias de universidade, de pubs decadentes?
WC: Bastante, na verdade, lembranças das sessões de gravação. Acho que nunca nos sentimos tão livres, já que fizemos tudo sozinhos. Obviamente, não sofríamos pressões de tempo e tomamos decisões a que nos atemos até o fim. Acho que um dos perigos de se estar numa banda e poder estabelecer a sua própria agenda é que, uma vez que você tem a possibilidade de experimentar tudo o que quiser. Como conseqüência, você acaba adiando a hora de tomar decisões até o momento em que isso é absolutamente necessário e acaba com material demais. Naquele tempo [do Safety EP], sabíamos que era necessário finalizar todas as músicas num dia só, então tivemos mais ou menos uma hora para cada. É por isso que tivemos de tomar decisões rapidamente e nos ater a elas, apesar de eu saber que, se pudéssemos voltar no tempo, teríamos tomado decisões diferentes e as músicas resultariam diferentes. Ainda assim, estamos satisfeitos com o resultado porque a sonoridade dessas músicas reflete exatamente o ponto em que estávamos àquela altura.

SL: Você acha que o regime disciplinar é diferente agora que vocês têm estúdio próprio?
WC: Com certeza. É por isso que temos produtores. Se dependesse só da gente, não conseguiríamos terminar nada. A gente sempre muda de opinião em relação às músicas, então, é necessário que uma pessoa fique responsável por nos estabelecer limites e nos dar um foco. O Brian Eno está envolvido novamente e ele meio que nos deu uma série de regras. São mais ou menos como mandamentos, que eu não posso revelar. Talvez mais para frente. Isso faz com que uma banda quase sem restrições tenha uma base; ao contrário de você ficar pensando que você pode fazer o que quiser, tome decisões agora. Ao invés de ter noventa e sete opções na mesa, tenha apenas dezesseis e seja corajoso, tenha bravura. Isso foi um conselho realmente sábio.

SL: Vamos voltar a falar sobre o próximo álbum em breve. Agora, teremos a companhia, por telefone, do baixista do Coldplay, Guy Berryman. Olá, Guy, como vai?
Guy Berryman: Olá, Steve. Estou muito bem.
SL: […] Obrigado por dispor de tempo para conversar com a gente, porque eu sei que a banda está muito ocupada no momento, com festivais marcados para toda a temporada, além do novo álbum. Ele ainda está em progresso?
GB: Está. Está tudo acontecendo ao mesmo tempo, então estamos tentando administrar tudo isso da melhor maneira possível.
SL: Isso é meio que dividir as tarefas domésticas: um lava os pratos, outro faz a faxina?
WC: Basicamente, é isso mesmo. No momento, sou o responsável pelas tarefas midiáticas e o Guy está ocupado com o baixo de uma música nova, que acabou de ser escrita.

SL: Vocês ainda estão no meio de um processo criativo, então. Guy, você consegue acordar de manhã e pensar: ‘Bom, preciso ser criativo hoje’.
GB: A gente não tem muito tempo para pensar nisso, na verdade, porque a gente já está praticamente de volta para a estrada, para os festivais, então tem bem pouco tempo para terminamos o álbum musicalmente. Mas não importa o quanto de tempo a gente para fazer um álbum, a tendência é sempre deixar tudo para última hora. Então, não é surpresa nenhuma; na verdade, é até empolgante, tentar alguma coisa a cabo.
SL: Dessa vez, está sendo como na última, em que vocês tinham um projeto pré-estabelecido [blueprint], algum manifesto pictórico ou musical em que vocês já estavam trabalhando?
GB: Sempre começamos um álbum com uma idéia bastante clara do que estamos tentando fazer, da sonoridade que estamos tentando alcançar. Porém, depois de seis meses ou um ano explorando essa linha, as idéias mudam quase que completamente. As músicas que gravamos agora para esse álbum são quase irreconhecíveis em relação às músicas que tínhamos no começo. […]

SL: E ficou muita música de fora?
GB: Meu Deus, parece que há cerca de cem músicas!
SL: E vocês, em alguma ocasião, retornam a essas músicas?
GB: Às vezes, sim. Às vezes gente retoma alguma música e termina ela; são músicas que realmente gostamos, mas que não conseguimos acertar no momento. A gente de fato tem músicas que foram terminadas assim e tenho certeza que isso vai acontecer de novo conforme a gente vai gente ao fim desse projeto.

SL: Até o momento, houve alguma briga em relação ao álbum?
GB: Acho que a gente está basicamente de acordo em relação a dez ou onze músicas. Há algumas questões em aberto, mas acho que, de modo geral, estamos de acordo.
SL: Sabe, Guy, ao fazer essa pergunta, fique olhando para o Will…
[…] [risos]
WC: Estou parcialmente de acordo com essa afirmação. [risos] Como o Guy disse, estamos basicamente de acordo com tudo. Só restam algumas interrogações. Não queremos que o álbum seja longo demais; queremos que ele seja conciso e potente; queremos que ele seja breve, mas de uma maneira positiva.

SL: O single Every Teardrop is a Waterfall dá bastantes dicas de como será o restante do álbum?
GB: Essa é uma pergunta difícil de ser respondida porque ainda estamos em meio a todo o processo, mas acho que essa música é um pouco diferente de algumas das outras faixas do álbum. De qualquer forma, porém, não acho que dê para agrupar um subconjunto de músicas em uma categoria em particular; acho que cada música é diferente das outras. Dessa vez, realmente nos esforçamos para experimentar algumas coisas diferentes. Acho que Every Teardrop é só um exemplo do diferente tipo de abordagem que estamos assumindo para diversas músicas.
WC: O que ocorreu é que parecia a música certa para um começo. Ela surgiu bem tarde durante na seqüência de gravações para o álbum, mas ela ficou pronto bem rápido, então pareceu que o correto seria começar com ele. Mas é [uma pergunta] difícil. Não sabemos muito bem o que estamos fazendo; estamos simplesmente compondo músicas, esperando realmente que as pessoas gostem delas. É claro que a gente ouve conselho de pessoas que afirmam saber o que elas estão fazendo [risos]. Mas é difícil. A verdade é que ninguém pode realmente saber. A questão é sair do casco e fazer experiências. [Every Teardrop] soou bem diferente de tudo que já havíamos feito, então simplesmente lançamos ela.

SL: Para o novo álbum, há um figurino novo, equipamento novo?
GB: Tem, sim. Nos esforçamos bastante compondo e passamos um bom tempo fazendo isso. Mas a verdade é que passamos a maior parte do tempo pintando, então vocês podem esperar um novo figurino completo.
SL: […] E tem todo um imaginário por trás desse figurino, não é?
WC: Com certeza. Levamos um bom tempo para nos darmos conta disso, mas os grandes álbuns com que estamos tão acostumados se baseiam antes de mais nada na música, como sempre será, mas é inconcebível imaginá-lo sem a capa, não dá para separar os dois [músicas do projeto gráfico da capa]. Estamos aprendendo a fazer isso, apesar de ser difícil. Acho que é meio difícil sair da sua zona de conforto e abraçar a teatralidade das músicas.
GB: O figurino e tudo o mais dão o tom certo da coisa, especialmente nos festivais. A gente poderia muito bem ir tocar de jeans e camiseta, mas isso seria meio entediante. A gente meio que fez isso no primeiro álbum. Depois do que a gente fez no Viva La Vida, acho que seria meio estranho não ter esse elemento. E, na verdade, tem sido bem divertido.

SL: Uma última pergunta, porque eu sei que o Chris deve estar te escravizando mesmo agora, da mesa de mixagem, enquanto gostas e gotas de suor caem de sua testa [risos]: o Jonny ainda está sorridente?
WC: Não, ele está completamente deprimido.
SL: Não! Sério, porque, quando o Jonny sorri, o mundo melhora: poluição, problemas financeiros: sem preocupação – Jonny Buckland está sorrindo.
WC: Não, o Jonny está intocavelmente de bom humor.
SL: Isso é tudo o que eu precisava saber.

SL: O álbum já tem nome?
WC: Sim-barra-não. Esse não é o título do álbum. [risos], como em X&Y [risos]. É que não estamos certos ainda.
SL: Há uma variedade de títulos? São dois títulos?
WC: Bom, fizemos isso no último álbum, então, em uma palavra: não (esse também não é o nome do álbum). [risos]
SL: E quando ele vai ser lançado? Já tem uma data pré-definida?
GB: Acho que tem mais algumas semanas. Estamos fazendo a mixagem. Tem mais algumas semanas mais de trabalho, mas tenho certeza que vamos tomar mais tempo.

SL: Guy, você ainda está curtindo fotografia?
GB: Nos últimos tempos, não. Eu meio que fico empolgado com alguma coisa e depois largo isso até encontrar outra coisa com que me entusiasmar.
SL: Mas podemos esperar algumas fotos suas do Glastonbury?
GB: Ah, se é isso, sem problemas. Será uma honra.

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