Na estrada com Coldplay – Rolling Stone

05 dezembro, 2008

Tradução de uma matéria da revista estadunidense Rolling Stone, cuja edição de dezembro (2008) inclui um breve artigo redigido nos bastidores de um show da banda.

Minutos antes da hora do show, no sombrio camarim de Dallas, Chris Martin abre uma garrafa de Jameson. Ele entorna um gole e gargareja sonoramente. No mínimo uma dúzia de frascos de pílulas estão espalhados pelo chão, ao redor da esteira de ioga de Martin. Contudo, a cena é bem menos deplorável do que poderia parecer: as pílulas são vitaminas e a função do whiskey é lubrificar a garganta do cantor para as muitas notas altas por vir. “Bem empolgante aqui, não?”, graceja o baterista Will Champion, o qual passa boa parte dos momentos pré-show jogando futebol no Playstation 3. “É igualzinho ao Mötley Crüe!”

O Coldplay está no meio da maior turnê de sua carreira e seu último álbum, Viva La Vida Or Death And All His Friends, fez deles a banda com o maior índice de vendas do mundo. (Eles têm problemas em aceitar os fatos: “Na maioria do tempo, nos sentimos como perdedores”, diz o baixista Guy Berryman serenamente.) Enquanto eles estão relaxando nos bastidores, reportagens sobre a sua separação não param de emergir de todos os lugares: Martin, 31, disse a um jornal britânico que ele estaria considerando 2009 como o ano do fim do Coldplay. Mas ele não quis dizer isso de forma alguma. Ele explica que o Coldplay ambiciona gravar e lançar o sucessor de Viva La Vida ano que vem (eles esperam trabalhar novamente ao lado dos produtores Brian Eno e Markus Dravs) e estabelecer uma data de conclusão implica apenas manter o seu enfoque.

“Estamos encarando como se fosse nosso último porque é a única maneira de proceder”, Martin afirma. “Você deve ter prazos, entende? Isso significa que vamos fazer tudo o que conseguirmos ano que vem e não pensar além desse ponto. Sempre dizemos isso e o fazemos com intenções sinceras. Porém, toda vez que falamos isso, alguém escreve uma matéria dizendo que é o fim. Não creio que algum vamos nos separar, mas temos de fazer muita coisa antes dos 33”. A banda está prestes a lançar as últimas sobras de Viva La Vida em uma versão de luxo do álbum, logo, o disco trará canções recentemente compostas, as quais o Coldplay já começou a testar em diversos estúdios. “Gostaria de desenvolver o que acabamos de fazer”, declara Martin, “e apresentar algo breve e otimista”.

Entrementes, os quatros já vestiram seus uniformes inspirados pela Revolução Francesa, conceito subjacente ao visual da turnê. E que suscitou mais discussões do que Martin aprovaria. “O Pittsburgh Steelers se veste igual toda semana e ninguém espera que eles troque de roupa. A gente usa a mesma roupa tanto no Leno como no Letterman e, de repente, isso é notícia”. A banda planeja adotar uma nova versão do figurino na continuação da turnê, no ano que vem. “Não estamos cansados do tema. Só do aroma”, diz Martin, o qual, com efeito, tem cinco ou seis variações da mesma jaqueta –a de hoje tem o nome de Barack Obama estampado em uma das mangas.

Os integrantes da banda começam a se agitar ao ouvirem o som distante de “I Just Wanna Love U (Give It 2 Me)”, do camarada de Martin, Jay-Z, a última faixa da sua compilação de músicas que antecede o show. Eles abotoam suas jaquetas bufantes e marcham para fora, parando a poucos centímetros da cortina que os separa do palco e das 200.000 pessoas da audiência. A música de introdução, “Danúbio Azul” vai evoluindo e banda une-se em abraços e apertos de mão.

A banda está claramente mais inclinada a tocar as faixas de Viva La Vida, mas não deixa a desejar nas perfórmances entusiasmadas e francas de sucessos como “Yellow”. Martin costumava recorrer ao artifício de Dylan e modificava partes da música até que Michael Stipe lhe alertou: “Pára com isso. O público quer ouvir as músicas do jeito que as conhece”.

No show, muitos efeitos são alcançados com truques simples, a começar pelos globos suspensos, que fazem as vezes de telões esféricos. Há também a parte em que a banda vai até o fundo mais remoto da arena para tocar uma versão acústica de “The Scientist” entre os fãs. O momento mais espetacular é quando, durante “Lovers In Japan” milhões de borboletas de papel tombam do teto, brilhando à luz do cenário. É uma visão impressionante, inspirada em medidas iguais pelos espetáculos característicos do Flaming Lips e de um passeio que Martin fez com seus filhos a um habitat de borboletas. “Mesmo que o show esteja uma droga, sei que dois momentos se salvarão: quando ‘Viva La Vida’ for tocada e quando as borboletas brilharem no escuro”.

Fonte: Rolling Stone

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