Chegamos ao 9º episódio da série “Let’s go Back to the Start”!
No episódio anterior, quando caminhamos pela era “X&Y”, vimos que o saldo final da “Twisted Logic Tour” foi um Coldplay um tanto sem rumo e desfalcado, visto que Phil Harvey – o ‘quinto membro’ da banda – havia desistido de empresariá-los e passava uma temporada dividido entre as distantes Argentina e Austrália.
“O combustível do [quarto] álbum foi um desejo de sair do preto e branco para alcançar a cor” – Chris Martin
O próximo passo, então, precisava ser assertivo e trazer uma nova direção para aquele grupo de quatro amigos que se encontrava bastante desconectado. Para isso, duas decisões foram cruciais: a volta de Phil Harvey e a decisão de trabalhar com o famoso teórico e produtor musical Brian Eno.
Ao invés de voltar como empresário, Phil voltou ‘parceiro da banda’, como ele próprio diz no documentário “A Head Full of Dreams”. Isso trouxe novo fôlego à relação, porque agora ele só ficava com as ‘partes legais’.
“Ele [Phil] foi a maior diferença deste álbum, acredito. Nós sentimos tanta falta dele no último… Ele é nossa sabedoria, nosso juiz, nosso filtro, tudo. É impressionante como as coisas são bem mais fáceis quando ele está por perto” – Jonny Buckland
Já a presença de Eno não foi somente um divisor de águas para a gravação do álbum em si, mas sim um marco na carreira da banda como um todo. Brian Eno, à época, já era conhecido por contribuir com grandes nomes da música – como David Bowie e U2 – e, no caso do Coldplay, o fato curioso é que foi ele quem deu o primeiro passo na relação. Ao propor de trabalharem juntos, recebeu em alto e bom som um belo de um “yes”.
Brian Eno instalou um canteiro fértil nunca antes explorado pelo Coldplay, o que incluiu tocarem com vendas nos olhos, se familiarizarem com novos instrumentos, testarem um tom de voz mais grave do Chris e escutarem músicas de todos os tipos e estilos. Teve até sessão de hipnose no meio do caminho e uma ‘expulsão’ do Chris da banda por algumas semanas, para que os demais integrantes trouxessem suas contribuições sem julgamentos. A palavra de ordem de todo esse processo era “experimentar“.
“É muito fácil você se impedir de fazer algo porque está com medo do que as pessoas podem dizer, mas nós nos forçamos a não fazermos isso” – Chris Martin.
Guy e Will também têm visões parecidas com a de Chris:
“Não sentimos medo de testar nada” – Will Champion
“Eu acho que é o nosso álbum mais ousado e confiante. Nos tornamos muito mais abertos a novas ideias e influências e com muito menos medo de experimentar” – Guy Berryman
Segundo Chris, o pontapé inicial para o quarto álbum de estúdio da banda foi escutar uma música antiga do Blur chamada “Sing (to me)” quando eles ainda estavam na estrada promovendo o álbum “X&Y”:
“Eu me lembro de escutá-la e de pensar: ok, a gente precisa melhorar como banda”
E a música surtiu mesmo um efeito prático porque no dia seguinte eles já tinham em mãos a primeira canção do novo álbum! Incrível, né?
Além do vibrante Brian Eno, as gravações de “Viva la Vida or Death and All His Friends” também contaram com a presença de Markus Dravs. A dupla parece ter sido o balanço perfeito: enquanto Dravs era o que podemos chamar de “tarefeiro”, colocando os meninos para trabalhar muito, Eno trouxe a confiança e a inspiração necessárias.
A gravação do novo álbum durou de junho de 2007 a abril de 2008, ou seja, 11 meses no total. Mas, dessa vez, eles contaram com uma carta na manga que fez toda a diferença: a ‘The Bakery‘.
‘The Bakery’ foi uma espécie de QG do Coldplay durante as gravações de “Viva la Vida and Death And All His Friends”. Situada no norte de Londres, o nome vem de seu uso anterior, correspondente a uma padaria. Ali, Chris, Guy, Jonny e Will se reuniam para compor e ensaiar. Com um espaço próprio adequado, eles conseguiram ensaiar muito e, somente depois de muita lapidação, finalmente gravavam as músicas em estúdio. Muitas das canções foram gravadas lá mesmo, inclusive.
Antes do lançamento do sucessor de “X&Y”, Brian Eno teve a ideia de encurtar o álbum. Segundo o experiente produtor, ninguém escuta de verdade álbuns longos. A intenção era que “Viva la Vida or Death And All His Friends” tivesse 42 minutos (mas ele acabou tendo 46, se levarmos em conta suas faixas escondidas).
Lançado em junho de 2008, o quarto álbum de estúdio da banda foi o álbum mais vendido de 2008 – feito que também havia sido alcançado pelo seu antecessor “X&Y”.
E você pode estar se perguntando: “qual é a desse nome enorme?” Calma que a gente te explica!
“Viva La Vida or Death And All His Friends” recebeu esse título em razão das emoções extremas que o catalisaram. Nas entrevistas que a banda concedia na época de seu lançamento, os integrantes sempre frisavam que ficava a critério do fã/ouvinte se referir ao álbum como “Viva la Vida” ou como “Death And All His Friends”. Pela sonoridade, “Viva la Vida” acabou naturalmente caindo mais no gosto do povo.
E sabem de onde veio a inspiração para o nome desse lado mais vivaz do título? Tudo começou quando Chris visitou o Museu Frida Kahlo, na Cidade do México, em março de 2007, durante a passagem da banda pela América Latina para promoção do álbum “X&Y”. Na ocasião, nosso vocalista se deparou com uma tela pintada pela artista mexicana que levava o texto “Viva la Vida” e ficou impressionado com a resiliência de Frida. Afinal, mesmo diante de uma vida de muito sofrimento, ela optava por levar ao mundo uma mensagem positiva.
O sucesso do álbum foi total. Foram sete indicações ao Grammy Awards e, dentre elas, a banda levou para casa os prêmios de “Melhor Álbum de Rock”, “Canção do Ano” e “Gravação do Ano” – as duas últimas com a faixa “Viva la Vida”. Nada mal, hein?
E é claro que um álbum desse calibre também contou com o lançamento de muitos singles. Foram cinco no total, nessa ordem: “Violet Hill”, “Viva la Vida”, “Lovers in Japan”, “Lost!” e “Strawberry Swing”.
“Violet Hill“, o primeiro deles, foi disponibilizado para download gratuitamente durante uma semana, um feito considerado inovador na época. Era a primeira vez que faziam esse teste com o público.
Não é nenhuma surpresa que “Viva la Vida” tenha sido o single mais bem sucedido. Em seu lançamento, o single alcançou o topo da parada estadunidense “Billboard Hot 100“.
Curiosidade: depois dela, só “My Universe”, parceria com a banda sul-coreana BTS, alcançou o mesmo feito (e isso aconteceu mais de 13 anos depois da conquista de “Viva la Vida”).
“Lost!” inaugurou o que viria a ser usual na trajetória do Coldplay: a parceria com outros artistas. A canção contou com a colaboração do rapper estadunidense Jay-Z. Antes dela, apenas “Til Kingdom Come” – faixa do álbum “X&Y” – havia sido escrita para dispor da participação de um artista externo, Jonny Cash no caso. No entanto, o cantor folk faleceu antes que pudessem gravar a balada juntos, de modo que “Lost!” foi a primeira parceria efetiva da banda.
E como falar dessa era sem mencionar o verdadeiro espetáculo que foi a “Viva la Vida Tour“? Se a “Twisted Logic Tour”, a turnê anterior, priorizava apresentações mais intimistas, em teatros e casas de show menores, na “Viva la Vida Tour” foi a vez dos estádios lotados.
O visual da turnê era de encher os olhos: telões coloridos, confetes lançados ao público, balões enfeitando as arquibancadas e outros balões projetados sobre a plateia durante as apresentações…
Lembram-se da frase de Chris que abrimos esse texto, que o desejo era sair do preto e branco e atingir a cor? Na era “Viva la Vida” isso foi literalmente alcançado. Se na era “X&Y” os meninos vestiam roupas majoritariamente na cor preta ou cinza, na era “Viva” pela primeira vez trajavam roupas confeccionadas com toques coloridos, tanto nos shows quanto em ensaios fotográficos e nas apresentações em programas e entrevistas diversos.
Foi uma era extremamente visual, artística e conceitualmente pensada. Os trajes utilizados remetiam aos uniformes de soldados revolucionários franceses do século XVIII.
E quem aí se lembra dos live blogs, quando acompanhávamos em tempo real os bastidores de vários shows da banda? Quem nos conduzia por esse diário ao vivo era o misterioso Roadie 42, que compartilhava no site fotos extremamente despojadas da banda, dos roadies trabalhando durante o pré-show deixando tudo organizado para a hora da performance, da própria plateia à espera do espetáculo… Era demais se sentar à frente do computador e apertar ‘F5’ para atualizar a tela; uma forma de os fãs de qualquer lugar do mundo sentirem um pouco do gostinho da atmosfera daquele dia.
E, como se não bastasse o sucesso do álbum, ainda fomos presenteados com um EP! “Prospekt’s March” foi lançado em novembro de 2008, contendo oito faixas que foram descartadas durante o processo de gravação de “Viva La Vida or Death And All His Friends”. Lembram-se que Brian Eno tinha dado bomba em um álbum longo? Pois então: faltou espaço para tanta composição boa e tiveram de fazer uso da alternativa dessa espécie de ‘álbum secundário’, rs.
Uma das faixas de “Prospekt’s March” é a instrumental “Postcards from Far Away” (em tradução livre, “cartões postais vindos de longe”). Aproveitando o título da composição, a banda lançou uma ação que engajou fãs do mundo inteiro: pediu que enviassem cartões postais de onde moravam. Eu enviei o meu, será que leram? Rsrs.
E quem acha que a presença de bonecos é uma novidade da era “Music of the Spheres” está enganado! Para a gravação do clipe de “Life in Technicolor II” – a primeira faixa do EP “Prospekt’s March” e uma versão com letra da sua irmã instrumental “Life in Technicolor”, do álbum “Viva La Vida or Death And All His Friends” –, marionetes de Chris, Guy, Jonny e Will foram confeccionados.
Depois da gravação do clipe, os chamados ‘Coldplay puppets’ começaram a rodar o mundo, aparecendo em uma série de fotos dos live blogs do Roadie 42. E as marionetes fizeram passagem até no Brasil, levando para casa algumas havaianas:
Vocês acham que para por aí? Nada disso, ainda teve álbum ao vivo! O “Left Right Left Right Left” foi uma coletânea de nove faixas gravadas ao vivo durante a “Viva la Vida Tour”, tendo sido distribuído na maior parte dos shows da turnê e também disponibilizado para download no site da banda.
“Cara, a gente ensaiou esse álbum mais do que qualquer outro porque a gente tocou ele ao vivo 101 vezes antes de ser lançado” – Chris
Para finalizar com chave de ouro essa era incrível, a banda ainda nos deu um presente final: o lançamento do single digital da lindíssima “Christmas Lights“. Se você nunca ouviu essa preciosidade, faça o favor de se deliciar agora mesmo com esse clipe gravado em uma Londres noturna que contou mesmo até com a participação de alguns fãs sortudos:
“Eu queria que esse álbum nos provasse dignos da posição que recebemos. E não há dúvidas de que saímos uma melhor banda desse processo” – Chris
E aí, diante de tudo o que vimos, vocês acham que a era “Viva la Vida or Death And All His Friends” conseguiu provar o valor da nossa banda do coração? A nossa resposta é em alto e bom som: COM CERTEZA!
No próximo episódio da série “Let’s go Back to the Start”, traremos os detalhes da era “Mylo Xyloto”, que levou ainda mais a sério o mundo das cores, dos efeitos visuais e dos conceitos.
Agradecemos a companhia e nos vemos na nossa próxima parada da nossa série!