Matéria no site RTÉ Ten

29 dezembro, 2011

Seguindo a série de matérias sobre o lançamento de Mylo Xyloto, o site de entretenimento RTÉ Ten encontra com Chris e Jonny no estúdio pessoal da banda, The Bakery, para uma conversa sobre o álbum e sobre alguns encontros especiais.

XOXO Coldplay

Eles inventaram uma nova palavra para o título de seu último álbum, Chris Martin diz que pode ser “bem chato” e eles tocaram com Christy Moore como forma de homenagear a mãe do baterista. O Coldplay está se adaptando ao estrelato com estilo. Alan Corr entrevista a banda em seu estúdio em Londres.

A primeira vez que encontro com Chris Martin ele aparece como uma mistura de um borrão azul vívido ofegante com vermelho enquanto desce as escadas do estúdio do Coldplay em Primrose Hill.

Martin está usando o “uniforme da banda”. O novo código de vestimenta envolve camisetas e jaquetas em tons escuros e coloridas e segue a regra estabelecida pela banda para o novo álbum: personalização extravagante. “Eu gosto de experimentar roupas diferentes quando faço os shows, ele declara, “e quando dou entrevistas!”

Pode parecer que ele está a caminho de 1989 para apresentar algum programa de TV bobo, mas, aos 34 anos de idade, a estrela mais sensível do rock é um espécime surpreendentemente bronzeado e saudável, um modelo macrobiótico não-fumante, exalando a saúde polida dos muito ricos. Estamos no The Bakery, estúdio e quartel-general do Coldplay. Todos os quatro integrantes da banda vivem a menos de dois minutos do lugar e o primeiro show que tocaram como Coldplay, em fevereiro de 1998, foi no fim da rua em um lugar chamado The Dublin Castle.

“Quando você tem sucesso com uma banda, tudo pode se tornar bem dividido e o que é ótimo sobre o The Bakery é que é o nosso lar como banda”, afirma Martin, subindo as escadas comigo em direção à saída de emergência. “Ninguém é famoso aqui: ninguém lê as coisas ruins que saem na imprensa. Nós somos apenas o mesmo grupo de pessoas que sempre fomos. Nada do que fizemos fora do grupo significa alguma coisa. É muito calmo.”

The Bakery é o santuário do Coldplay, uma válvula de escape da loucura que é ser uma banda grande. Possui a aparência de um laboratório de artes escolar, com livros sobre artes e DVDs (as coleções completas de Sherlock Holmes, The West Wing [seriado estadunidense transmitido entre 1999 e 2006] e Get Smart [famoso seriado estadunidense da década de 1960]) e uma mesa entupida de cartas de fãs. “Nós olhamos para as coisas que nos são enviadas, mas não é como se fosse uma obrigação”, afirma o guitarrista Jonny Buckland, também vestido com o uniforme da banda, exceto pelo boné e pelo sorriso amigável.

“Às vezes, quando você dorme com uma fã você pensa, ‘’será que isso foi o certo a se fazer?”“, reflete Martin. “E quer saber? Provavelmente foi. Isso foi uma piada, a propósito.”

Martin está em boa forma e, como de costume, ele está desviando sua imagem de alma torturada com piadinhas e comentários auto-depreciativos, porém, tudo isso pode ser uma fachada. “Na verdade, eu estou com muito medo”, ele admite, enquanto deita seu alto corpo em uma das cadeiras/puffs que enfeitam a sala. “Nós temos que entregar a capa do novo álbum até sexta, o que é algo enervante, então estamos tentando achar outras coisas pra fazer para que não entreguemos.”

O álbum, o quinto da banda, tem o ostensivo título de Mylo Xyloto. Certamente algo complicado. Na verdade, soa como um forte vírus de coelho ou o nome de um vilão de algum filme de ficção científica ruim, porém, o nome possui três inspirações distintas – a banda queria palavras que ainda não possuíssem significado; eles foram muito influenciados por artistas grafiteiros que criam seus próprios apelidos; e, talvez, o mais importante, eles queriam muitos “Os” no título. “Eu tenho total consciência de que, por alguns meses, soará ridículo”, afirma Martin. “Ainda não é aceitável no Scrabble (jogo de palavras muito famoso nos EUA e Europa) e nós queremos mudar isso.”

Coldplay no palco com Christy Moore no Oxegen

As novas músicas fazem jus ao título exótico. Mylo Xyloto é uma coisa ornamentada, que soa exótica. É exuberante, tribalística e cheia de hinos que fizeram do Coldplay uma bem-sucedida banda que transita entre gerações. Martin descreve o álbum como um “musical”. “Ou seria um álbum conceitual?”, ele reflete. (Leia a crítica aqui).

Com temas que abordam fuga e vigilância, é provável que seja um álbum conceitual. “Se estivéssemos em 1976, diríamos, é claro, é um álbum conceitual! Mas como estamos em 2011, nós vamos negar, mas se você quiser encontrar uma história com começo, meio e fim neste álbum, seria fácil de fazê-lo. Há claramente uma intenção de fazer uma história de amor Orwelliana. Para ser bem honesto com você, é um álbum com uma história.”

Quando eu lembro que o Snow Patrol lançará seu próximo álbum um pouco depois do Coldplay, Martin diz “Uma batalha de soft rockers. É isso o que nós somos.” Ambas as bandas certamente introduziram uma nova era de educação ao rock e se houve alguma ocasião em que uma banda sabia que não era descolada, essa banda é o Coldplay. Bonzinhos, sim. Descolados, não. “Não é algo que me envergonhe”, Martin afirma. “Eu não quero ser conhecido como um maldito. Nós todos somos, a propósito, pessoas bem chatas, mas eu não acho que há necessidade de mostrar esse meu lado para você.”

Então você nunca teve vontade de jogar a televisão da janela do hotel? “Bem, existem graus diferentes de rock…eu não acredito que disse isso! Hahaha!”, ele ri, se debatendo no puff/sofá. “A gente as vezes extravasa, nas nós nunca seremos como o Megadeth, exceto todas as quintas na noite de tributo ao rock local. Nós somos caras legais, a não ser que você diga algo altamente ofensivo, nesse caso eu vou te dar umas porradas. Você pode perguntar o que quiser. Eu simplesmente posso não responder.”

Então eu faço a “pergunta Gwyneth Paltrow”: o que ele achava da recente participação da esposa no seriado Glee? “Bem, eu adoro Glee. Eu acho que ela esteve ótima”, ele responde, e pronto. Previsivelmente, ele é muito mais articulado ao falar do convidado surpresa do Coldplay no Festival Oxegen – Christy Moore. “Christy Moore é um dos nossos heróis e sendo a prostituta comercial que eu sou, estava pensando em como fazer nosso show no Oxegen especial. Significou muito para nós porque a mãe do nosso baterista Will faleceu e ela era fanática pelo Christy.”

Coldplay: Deixe-nos usar o spray!

A outra conexão irlandesa da banda diz respeito ao seu amor eterno pelo U2. Quando o Coldplay abriu pra eles em 2001 no Slane Castle, Bono convidou Martin e Cia. Para almoçar em sua casa no dia seguinte. “Aí nós pegamos um táxi e dissemos ‘casa do Bono, por favor’”, ele lembra, “e o motorista nos levou lá!” A última vez que ele se encontrou com o Bono foi em junho no Glastonbury. “Foi ótimo. Eu estava na platéia vendo eles tocarem. Eu me senti como um fã do U2 dos velhos tempos”. Você deu algum conselho pra ele? “Não é pra ser o contrário?”

Martin é o homem que acabou com o direito de ser insuportável no rock e trocou por uma nova era de sinceridade vacilante, frequentemente confundida pela geração X Factor como emoção verdadeira. “Uma banda como a nossa deveria participar do X Factor?”, ele pensa alto. “Nah, nossas músicas são muito deprimentes.” No entanto, após resistência inicial e sendo uma “prostituta comercial”, ele cedeu e permitiu que as músicas do Coldplay fossem demolidas pelo arrasa-quarteirão Glee. Talvez Gwyneth tenha tido algo a ver com isso.

Para o vocalista de uma banda tão grande, ele também tem conseguido manter um invejável nível de anonimato. “Eu sou famoso por causa do meu casamento, mas eu não sou reconhecido tanto assim”, ele afirma. “Eu estava em um táxi outro dia e o motorista disse, ‘ei, você se parece com aquele cantor, o cara do Coldplay’. E eu disse, sim, sou eu. Ele começou a rir e disse que o cara morava por aqui. Nós nem nos sentimos como estrelas: nós nos sentimos famosos no palco. Nós não fazemos tapetes vermelhos. Eu tento total consciência de que funciono melhor em doses pequenas.”

O Coldplay permanece como os caras legais do rock e Martin não vê nenhum conflito entre o mundo superficial de Glee e X Factor e lutar por significado como seus heróis do U2. Talvez tenha algo a ver com ser o filho de um contador e uma professora de música. Eles também são todos homens de família com filhos. “Nossos filhos tem passaportes desde que tinham três semanas de idade e eles já estiveram em todos os lugares”, declara Jonny.

“Meu filho está em turnê desde o dia que ele nasceu”, afirma Martin. “Ele disse para mim ontem, ‘pai, eu não quero morar apenas em um lugar’. Eu gosto de ser um nômade. Eu também não quero morar em apenas um lugar. Eu gosto de ser da terra.”

Como se fosse combinado, tanto Martin quanto Buckland precisam sair para colocar seus filhos na cama. Isso é muito Coldplay!

Matéria original: RTÉ Ten

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