“Os brasileiros têm muito ritmo”, diz baixista do Coldplay

01 março, 2010

De uma sala com divisórias improvisadas atrás do palco montado na Praça da Apoteose ecoam acordes. Um cordão de seguranças vestindo preto não deixa ninguém se aproximar. Quem improvisa uma canção no recinto é o grupo formado por Chris Martin, Guy Berryman, Will Champion e Jon Buckland, o Coldplay.

A banda inglesa está no Rio de Janeiro para o primeiro show da turnê Viva La Vida no país, que vai passar por São Paulo na terça-feira (2). O baixista Guy Barryman é escalado para deixar a sala para bater um papo com o Terra.

Exibindo um sorriso cordial e uma educação digna da fama do Reino Unido, ele falou por vinte minutos sobre a turnê, o futuro da banda e sobre indústria musical. Confira:

O que você está achando do Brasil?
Tem sido ótimo. Adoro a energia e a vibe das pessoas aqui. Infelizmente não temos muito tempo aqui no Rio, que adoraria conhecer melhor. Tenho algumas horas livres na segunda (1) e vou tentar fazer o máximo que puder.

Qual tem sido a reação da audiência a turnê Viva La Vida?
Tem sido demais. Estamos há quase dois anos com esse show. Levamos um tempo para acertarmos a mão no design e no set list, mas chegamos lá. Acho que é a melhor turnê que fizemos até hoje. E a audiência tem sido maravilhosa. O primeiro show que fizemos na Argentina foi incrível.

É mesmo, por quê?
Não sei. Bem, acho que o público latino americano faz muito barulho. Eles reagem de uma maneira impressionante às músicas. Adoramos vir para cá.

Após 12 anos de banda, tocando e viajando juntos, a vontade continua a mesma?
Somos muito sortudos, eu acho. Muitas bandas parecem se distanciar com o tempo e nós não. Temos uma amizade muito forte. Melhoramos como músicos e realmente nos divertimos. Continuamos com fome de fazer música e estamos bem animados com as músicas novas que estamos criando. Estivemos nos estúdios, gravando material novo, e vamos continuar assim.

Como vai ser o próximo álbum? Tem alguma diferença grande do último? O que podemos esperar?
Estamos trabalhando em um novo álbum que seja mais acústico, orgânico. Não queremos soar pequenos. Queremos continuar grandes, mas colocamos algumas limitações, sabe. Na maneira de gravar, no equipamento que usamos.

Vocês usaram muito sintetizador e efeitos no último disco. Então o novo álbum deve soar bem diferente?
Por enquanto, estamos só usando instrumentos acústicos e pouca amplificação. Ainda não sabemos onde isso vai dar. Mas já temos muitas coisas gravadas e estamos bem contentes com o que fizemos até agora.

O disco deve sair até o Natal, certo?
Bem… esse é o plano. Mas sabe como é. Temos uma habilidade incrível de desobedecer as datas que planejamos. Então não sei. Mas esperamos que, ao terminar essa turnê, possamos voltar ao trabalho e terminar o mais rápido possível. A única exigência é que esteja bom.

Vocês continuam trabalhando com o produtor Brian Eno?
Sim. Ele não está tão envolvido na produção, mas está se juntando a nós para testar novas músicas, uma ou duas vezes na semana. É ótimo tê-lo por perto. Ele sempre traz novas idéias.

Como ele influenciou o trabalho de vocês?
Ele nos fez pensar de uma forma diferente e nos abriu janelas para os ritmos que usamos. As estruturas das músicas estão bem diferentes e ele está sempre disposto a testar algo novo. Ele fica entediado muito rápido. Então, para manter o interesse dele, temos que continuar nos mexendo e apresentando coisas novas.

Vocês prepararam alguma coisa especial para os shows no Brasil?
O show é bem legal. Cheio de surpresas. Acho que a melhor é que temos diferentes palcos. Vamos de um para o outro, ficamos perto da audiência. Para nós é importante essa aproximação. Não gostamos de ficar distantes do público.

Falando em indústria fonográfica, como se sentiria se soubesse que alguns de seus fãs simplesmente baixam suas músicas da internet, sem pagar nada por isso?
Essa é uma pergunta bem difícil. Ninguém sabe realmente o que vai acontecer. Não podemos reclamar. Fizemos tanto sucesso nos últimos dez anos. Não acho que fomos muito afetados por isso. Talvez as bandas novas sofram mais.

Mas você lançaria um álbum de graça?
Se chegar ao ponto de termos que lançar um disco de graça, os artistas teriam que achar outras maneiras de ganhar dinheiro. Acho que cada vez mais bandas e músicos estão mais abertos à ideia de fazer comerciais ou colocarem suas músicas em filmes, por exemplo. Acho que o assunto ainda é tabu, mas as pessoas com o tempo vão se abrir mais e encontrar outra maneira de ganhar dinheiro com música.

Conhece algum artista brasileiro?
Sim, Sérgio Mendes e Marcos Vale. Os brasileiros têm muito ritmo.

Vocês sempre foram engajados em campanhas. A música para vocês caminha junto com a atitude. Ela pode fazer a diferença.
Acho que a música nem tanto. Mas temos acesso a uma enorme audiência. As pessoas escutam o que falamos. Então, quando as pessoas se aproximam da gente e nos pedem para espalhar sua mensagem, nós achamos que devemos (fazer isso). Temos muita influência em relação a muitos jovens. Por aí a nossa música realmente faz a diferença. Veja o trabalho que fizemos com a campanha para o Fair Trade. Muitas pessoas se envolveram. A gente vê nos supermercados pessoas olhando os produtos e vendo se tem o selo Fair Trade.

Qual foi o melhor show da turnê Viva La Vida?
Ah, nenhum show foi ruim. Se fosse para citar um, diria que tocar no estádio de Wembley, em Londres, foi uma coisa memorável para a gente. Sempre sonhamos, desde jovens, em chegar lá.

Tem alguma música que você não aguenta mais tocar?
Não. Realmente, não tem não. O set está muito bem arrumado e não é uma música, é uma jornada. Continuo adorando tudo isso e só temos mais oito shows até o fim da turnê. Passamos por essa muito bem.

Qual música está funcionando melhor com a plateia?
Viva La Vida, com certeza. As pessoas cantam junto e alto (risos).

O que é legal e o que é chato em uma turnê?
É ótimo ver novos países, ficar em ótimos hotéis. Você sabe, acabamos de sair do inverno inglês. É muito bom poder vir a um lugar quente. Não háo que reclamar. Só o fato de ficarmos longe de nossas famílias. Tenho uma filha de três anos (Nico) e não vou poder vê-la por cinco semanas.

Vocês têm algum tipo de ritual antes de subir no palco?
Não. Não sacrificamos nenhum animal ou algo assim (risos). Fazemos alguns exercícios vocais e tentamos ter um momento de silêncio juntos.

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