O final de semana que o jornalista Gordom Smart rendeu duas matérias muito interessantes, mostrando facetas da banda geralmente não abordadas. Na primeira parte, Smart nos relatou os bastidores da rotina atribulada, porém não menos divertida do Coldplay; na segunda, conhecemos o lado “nerd” de Chris, as preocupações dos músicos no que diz respeito à situação política e econômica atual e, por fim, as suas perspectivas, as quais, destaquemos, não incluem a separação da banda
Há uma desvantagem ENORME em fazer parte de uma banda de rock na estrada: perder The X Factor. O Coldplay está em turnê enquanto passam a maioria dos episódios, perdendo o drama das disputas do arrasa-quarteirões televisivo. Antes mesmo que eu pudessefazer qualquer pergunta, Chris exigiu um resumo completo do programa: “Não acompanhamos The X Factor há umas dez semanas. A Laura ainda está na jogada, aquela moça legal de Manchester [na verdade, ela é de Bolton]? Estávamos torcendo por ela. Ela deveria ser a vencedora”.
Revelar a drástica notícia de que ela havia saído há algumas semanas deixou Chris totalmente chateado: “Se ela não está mais lá, não vou mais assistir. Ouvi dizer que alguém cantou Yellow recentemente. É um bom sinal quando as suas músicas são cantadas no The X Factor. É o auge de sua carreira. Toda vez que eu vejo alguém fazer um cover de uma de nossas músicas, a pessoa sempre é eliminada. Acho que a gente é zicado”.
A banda – Chris, Guy Berryman, Will Champion e Jonny Buckland – tem boas desculpas para não estar acompanhando a série. Eles fizeram setenta shows ao longo dos últimos meses durante a comoção diária das eleições estadunidenses. Esses eventos históricos tiveram um imenso impacto nos músicos, especialmente o dia da eleição, quando estavam em Nova Iorque.
Chris, 31, afirmou: “Todo o processo e a vitória de Barack Obama são os melhores eventos que já ocorreram em décadas. É uma época difícil para todos, mas há um otimismo intenso nos Estados Unidos. É um ótimo momento para estar aqui. A atmosfera é de que tudo é possível. As idéias de Obama são muito boas.”
As personalidades envolvidas exerceram grande influência sobre Chris, especialmente a impopular vice-presidente do partido republicano, Sarah Palin. Ele ironiza: “A situação de Palin me deixa atordoado. É um dilema moral quando você se sente atraído por alguém mas não concorda com nada do que diz. Quero beijá-la ou sair correndo? Não sentia isso desde a escola. Vou me ater a esse comentário, mesmo sabendo que ele vai se alastrar pela rede”. Guy, baixista e conquistador da banda, graceja: “Não diria ‘não’ a Sarah Palin”.
O Coldplay orgulha-se de estar envolvido nas questões globais. Eles tizeram um participação essencial no Live 8 (2005) e Chris faz campanhas para a Oxfam e para outras instituições. Todos os quatro membros são pais de crianças pequenas e a tragédia de “Baby P” chegou até eles na América. Guy, 30, que tem uma filha de dois anos, declarou: “Um dos piores crimes que alguém poderia cometer é maltratar uma criança. É deprimente. Não posso acreditar que alguém realmente possa ter feito isso. Não sei o que lhes aconteceu para ter cometido essa barbaridade. Está além da compreensão”.
Outro episódio que os deixou fora de si foi o escândalo “Manuelgate”, da BBC. Diz Chris: “O caso Russell Brand/Jonathan Ross é, agora, notícia mundial. Jonathan Ross é um cara engraçado e ele vai se recuperar. Tenho de admitir que, se alguém ligasse para mim, dizendo ter feito àquilo à minha neta, eu estaria lívido”.
Desde o lançamento de seu álbum número-um “Viva La Vida”, tenho escarnecido das fantasias que o Coldplay veste no palco, sugerindo que elas devem estar encardidas e fedorentas, já que eles trajam os uniformes da Revolução Francesa com tanta freqüência. Mas Chris pagou com a mesma moeda: “Você pode rir da gente por usar a mesma roupa toda hora, mas Russell Brand veste a mesma roupa há dez anos. A verdade é que temos várias. E estão limpas. Temos um novo estilo para desvelar no Natal, de qualquer forma. Vamos de estilo-Manuel. É bem uma influência dos garços espanhóis”.
A banda chega no domingo para os shows britânicos de sua turnê. Eles estão ansiosos por subir ao palco para apresentar a sua brilhante perfórmance ao vivo. Afirma Chris: “A sensação é de que tivemos de deixar o Reino Unido por um tempo e, agora, as pessoas nos querem de volta. Estou nervoso por estar de volta”. Will, 30, acrescentou: “Mal podemos esperar. Sentimos como se estivéssemos longe há muito tempo. Estamos em um ótimo compasso agora e os shows estão a todo vapor”.
Uma questão suscitada nesse contexto é a preocupação da banda em relação à crise econômica que atingiu a população britânica. Diz-se que cada integrante possui uma larga quantia em suas contas bancárias. Porém, não dá para afirmar isso só olhando para eles. Chris usa um par velho de tênis (algo que o seu pai usaria para jardinagem) e Jonny parece mais confortável com seu uniforme de futebol. Eles são incrivelmente generosos e tratam muito bem as pessoas que lhes sãos queridas. Além disso, eles criaram um fundo, cujas finanças eles pretendem utilizar para um projeto de caridade futuro.
O preço dos ingressos para os grandes shows que ocorrerão no estádio Wembley (Londres), em Hampden Park Glasgow) e em Old Trafford (Lancashire) tem ocupado suas mentes. Chris revelou: “Dia desses, trombei com um DJ que havia nos ajudado bem no comecinho. Ele perdeu vários eventos por causa da recessão. Todos estão sendo afetados. Espero que o preço de nossos ingressos sejam justos. Queremos que todos tenham a chance de vir. Custa mais ou menos £50 para ver o Tottenham, então acho que £45 ou £55 para nossos shows é razoável”.
Chris também mostrou-se disposto a informar os leitores de que a possível aposentadoria da banda não poderia estar mais longe da verdade: “Estar numa banda é como jogar futebol. Temos um limite de idade. Não tem problema ser uma banda de meia idade, mas você tem de mostrar trabalho. Quando o Rolling Stone tinha a nossa idade, eles tinham cinco vezes mais álbuns que nós. Antes dos 33, você tem de ter pelo menos cinco álbuns. Não queremos ficar relaxadões, bebendo drinques. Esse é o nosso momento. Você só tem uma única chance. Ainda há tanto que queremos fazer. Vai haver um momento em que estaremos tão carecas, enquanto banda, que não poderemos mais sair em público. Assim que Guy deixar de ser tão charmoso, vamos jogar tudo pro alto”.
Os projetos da banda são realmente impressionantes. Eles lançaram o EP “Prospekt’s March” recentemente e, ano que vem, eles planejam gravar um novo álbum, fazer turnê no Japão e na Austrália, assim como fazer massivos shows a céu aberto no Reino Unido. Will disse: “Temos um prazo de validade, então temos de aproveitar enquanto o sol brilha, enquanto ainda estamos felizes e com vontade de fazer algo de que ainda temos capacidade”.
Perguntei a Chris como ele gostaria de ser lembrado: “Qual será o legado do Coldplay? Adoraria algo como Madame Tussauds, mas isso nunca vai acontecer. Não creio que vamos ser lembrados. Alguém vai nos substituir e isso é o que há de melhor na música; ela está sempre evoluindo. Talvez alguém faça algum cover da gente, numa estrada de ferro, um cara tocando teclado enquanto sua esposa canta”.
Porém, Jonny, 31, dá o reumo da ópera de forma mais apropriada: “Meu maior sonho é alguém fazendo um cover do Coldplay com uma flautinha”.