Seqüestrado pelo Coldplay (Parte I)

29 novembro, 2008

Já imaginou passar um final de semana na companhia do Coldplay? Veja como foi a experiência singular do jornalista Gordon Smart.

Algo que jamais pensei poder dizer em minha carreira era: fui seqüestrado pelo Coldplay. No entanto, uma entrevista ordinária em uma cidadezinha estadunidense com a maior banda do Reino Unido acabou revelando-se uma das melhores semanas da minha vida.

Chris Martin, Guy Berryman, Will Champion e Jonny Buckland não apenas me concederam um bate-papo sobre seu novo EP e sobre shows massivos que ocorrerão ano que vem; eles me acomodaram em seu avião particular, me ofereceram um quarto em um hotel de luxo, um espaço exclusivo em seu camarim, um papel de destaque em seu time de futebol e, o mais importante, a chance de vestir um de seus uniformes. Os mesmos que uma vez afirmei serem encardidos. Não são.

Os caras estiveram imersos em uma massiva turnê de 70 shows nos Estados Unidos. Peguei um vôo para encontrá-los em Salt Lake City, Utah, no sábado, com apenas uma semana separando-s do primeiro show, em Sheffield, de sua turnê britânica, cujos ingressos estão esgotados. Fora avisado de que a banda, em especial o vocalista Chris, poderia ser desagradável durante entrevistas. Salt Lake pareceu igualmente espinhosa, uma cidade profundamente religiosa, onde penaria para conseguir um gole.

Não posso dizer que estou ansioso para voltar para Utah, mas posso afirmar que qualquer receio em relação à banda não poderia estar mais redondamente errado.

Trombara com eles diversas vezes ao longo dos anos, sem que tivesse a chance de passar um tempo em sua companhia. Contudo, assim que recebi um passe livre para circular entre os seletos integrantes de uma equipe de peso, passei a me sentir como se fosse parte do time.

Eles são amigáveis, ótimas companhias, divertidos e incrivelmente hospitaleiros. Não há nada de glamuroso neles.

Fui à arena EnergySolutions à tarde para conferir a passagem de som e fazer a entrevista. Chris estava dando uma aula a uma garotinha de oito anos, dando dicas de como tocar seu sucesso Clocks. Tão logo ele pulou do palco para encontrar-se com um grupo que vencera uma competição, ele apertou minha mão e disse: “£25 a hora. É um dinheirinho extra para as despesas da turnê. Creio que meu preço é razoavelmente competitivo”.

Pouco depois, fui conduzido por um mar de faces sorridentes para me sentar com Chris e o guitarrista Jonny para o primeiro tempo da entrevista. Chris puxou para si os lanches que dividiríamos e que NÃO eram macrobióticos e, imediatamente, afigurou-se para mim como um sujeito realmente aprazível. Tanto Chris quanto Jonny estavam engraçadíssimos, gracejando durante toda a entrevista. Guy, por seu turno, foi despertado de um sono profundo e não fez uma única reclamação.

Foi ao final de nosso bate-papo que as coisas se tornaram surreais.

Após banda tentar tirar uma foto comigo, instantes antes de subirem ao palco, Chris aproximou-se e perguntou quais eram meus planos. Respondi que pegaria um avião na manhã seguinte, ao que ele disse: “Esquece. Por que você não vai com a gente para Los Angeles?”

Nunca antes havia sido convidado a ser raptado pela maior banda do mundo.

A banda está no cenário musical há cerca de dez anos. Eles estão realmente confiantes de tudo o que fazem. Estavam absolutamente calmos, apesar dos 15.000 fãs que se aglomeravam nos portões para vê-los. O show passou num piscar de olhos e foi a melhor perfórmance deles que já presenciei. E olha que já assiste a mais de vinte shows deles. Incluindo Glastonbury, T In The Park e Live 8.

Seu novo álbum, somado às suas famosas composições anteriores, é de fato impressionante ao vivo. A sua perfórmance no palco rivaliza com a de U2 e Rolling Stones em sua melhor fase. A parte em que a banda emerge no meio da multidão para tocar umas duas músicas é um delírio completo. E eles são pioneiros de uma nova invenção. Enquanto eles preparam a sua volta silenciosa para o palco, uma versão dance do hit Viva La Vida toca ao longo de uma explosão de imagens de seu último show em Paris. No mesmo momento, fãs começam espontaneamente a balançar seus celulares no ar, criando um impressionante mar de luzes. Os shows estão cada vez mais luminosos, mas isso é o cúmulo!

Já no palco, Chris berrou boa sorte para Ricky Hatton [boxeador britânico], que estava no meio de uma luta enquanto a banda tocava. O show chegava a seu estrondoso fim, com um bis de abalar as estruturas.

Acompanhei a apresentação da mesa de som, ao lado do empresário da turnê, Franksy, a assistente Vicki e Arlene, que trabalha para a administração.

Assim que o show terminou, tornei-me imediatamente cativo da equipe do Coldplay. Franksy certifou-se de que eu havia sido conduzido para os carros de vidros enegrecidos que nos levariam ao aeroporto logo após o término do show. A polícia escoltou-nos através das ruas bloqueadas enquanto o Coldplay deixava Salt Lake City para trás.

Depois, fomos levados diretamente para a pista de decolagem, onde estava o avião da banda. Já dentro dele, foram abertas algumas latas de cerveja e uma garrafa de vinho para o pequeno percurso a Los Angeles. O piloto deu-me boas-vindas à festa do Coldplay. Will e Jonny ficaram vidrados em seus laptops assistindo a episódios de The Wire. Guy ficou a bebericar seu drinque calmamente, ao passo que Chris ficou de um lado para o outro, com um sorriso de orelha a orelha, curtindo com a equipe.

No meio do vôo, Chris aproximou-se de mim com um pedaço de papel com notas rabiscadas. Ele me perguntou se eu achava que a banda deveria tocar em grandes shows a céu aberto ano que vem, quando as pessoas estivessem sem grana. Ele sofre um bocado por ser meio nerd. Mas minha impressão em relação a ele é o oposto: ele é ponderado, espirituoso e muito gentil.

Quando chegamos a LA, já havia carros prontos para nos levar diretamente ao hotel, onde um elegante quarto havia sido reservado para mim por duas noites. Um trato por conta do Coldplay.

Na manhã seguinte, fomos conduzidos para um cortejo de carros negros novamente, quando fiquei mortificado ao descobrir que estava indo para o American Music Awards como convidado. Como haviam me dado carta branca para ter acesso a qualquer área, fui direto ao camarim da banda.

Chris apostou £200 que eu não seria capaz de beber uma dose de whisky, o que eu acreditei ser o mínimo que poderia fazer após terem cuidado de mim tão bem. Todavia, decepcionei-me pela primeira vez: não recebi dinheiro algum.

Ainda estava bebendo no camarim quando Justin Timberlake entrou para dar um oi. Ele trocou apertos de mão com todos os presentes e Chris nos apresentou. Vê-lo no palco, instantes seguintes, entregando um prêmio para Annie Lennox foi surreal. Pink, Leona Lewis, Beyonce, os Jonas Brothers e Mariah Carey foram todos cumprimentar a banda.

Depois de seis horas de espera, eles foram para o palco e tocaram Lovers In Japan com precisão cirúrgica. O som não estava exatamente perfeito, mas a banda não deixou que isso arruinasse a apresentação.

Logo depois, já estávamos de volta ao hotel para outra rodada. A noite seguiu-se agitada: Russell Brand veio dar um olá e Pink veio dar o ar de sua graça. No dia que se seguiu, com a cabeça estourando, fui jogar futebol. Jonny e Will estavam dispostos a manter sua invencibilidade em relação ao time da equipe. Fui escalado para ajudar. E o recorde mantém-se de pé.

Beber e curtir ao lado do Coldplay e fazer parte dele foi uma grande honra. Às vezes, eles são tachados de caretas, mas, na minha opinião, não há mau algum em ser fã do Coldplay.

Adaptado de matéria do The Sun | Fotos: Galeria | Parte 2

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