2010: três anos desde a última apresentação do Coldplay no Brasil. Dessa vez, os lugares escolhidos para as apresentações mudaram. No Rio de Janeiro, o Coldplay marcaria compromisso dia 28 de fevereiro na Praça da Apoteose, cuja capacidade de público beirava 35.000 pessoas. Em São Paulo, o compromisso seria firmado para o dia 02 de março no Estádio do Morumbi, de capacidade para 68.000 pessoas. Os preços variavam entre R$160 e R$600 em São Paulo, que contava com mais setores que o Rio, onde só havia pista comum e arquibancada (ambos a R$250) ou pista vip pelos mesmos R$600 da capital paulista. A venda de ingressos começou no dia 07 de novembro.
Era a vez da “Viva la Vida Tour” – o início da grandeza absoluta do Coldplay. Para quem conhecia aquele grupo tímido, que se apresentava majoritariamente em teatros com roupas escuras e fazendo uso de alguns efeitos de luz, se impressionou com a guinada ocorrida. Agora, o grupo lotava estádios, vestia uniformes estilizados em ricos detalhes, trazia instrumentos pintados à mão pelos próprios membros, Chris só fazia pular e correr para todos os cantos dos palcos, bolas amarelas caíam nos ouvintes durante em Yellow, um telão de alta definição congelava imagens coloridas que representavam a era, telões sob a forma de esferas desciam em determinado momento do show para compor o cenário, confetes de borboleta produziam efeito maravilhoso durante Lovers in Japan, balões coloridos enfeitavam as arquibancadas… Ufa! Uma série de sutilezas responsáveis por engrandecer – e muito – a experiência da plateia.
Ah, os segundos antes da banda entrar no palco… Aquele silêncio instaurado, a tensão máxima dos fãs que estão a segundos de ver os ídolos colocarem os pés no palco, o coração a mil diante das luzes que imediatamente se abaixam. Um misto de tensão cortante e o mais intenso êxtase. Nos shows da banda em 2010, esse momento “prenúncio” era acompanhado da valsa Danúbio Azul, do austro-alemão Johann Strauss II. Segundos depois do fim da música, as primeiras notas de Life in Technicolor ocupavam o estádio e o telão mostrava o caminho, no Google Earth, do local de show. Momentos depois, Chris, Guy, Jonny e Will entravam em cena carregando elementos pirotécnicos e se entregavam, em seguida, a uma Violet Hill cheia de energia. No vídeo de fã abaixo, este momento do show em São Paulo é registrado pela câmera:
O Coldplay sempre foi uma banda de perfomance enxuta, máximo de duas horas de apresentação. No entanto, mais sucessos pedem um show maior. A setlist de ambas apresentações foi idêntica, totalizando 22 canções – uma média de cinco faixas a mais que a turnê anterior.
A mesma setlist gerou, porém, diferentes experiências. Infelizmente, em São Paulo, houve reclamação a respeito da qualidade do som. Arquibancada e pista comum foram prejudicados pelo áudio de volume baixo; relatos apontam que a performance funcionou como música de fundo, sendo possível conversar à altura normal. Dedos cruzados a postos para isso não repetir pelos lados de cá este ano.
Se pecaram no áudio em São Paulo, a recompensa veio no final do show, com a entrega do CD “LRLRL” (ou LeftRightLeftRightLeft) – álbum promocional ao vivo da banda, lançado em 2009 para download no site oficial e distribuído fisicamente nos concertos da turnê Viva la Vida. No Rio de Janeiro, no entanto, ele não houve entrega por motivos desconhecidos. Outro recompensa – ou ao menos gracinha – veio depois de Shiver: Will puxou um “Parabéns Pra Você” em português, que foi continuado a altas vozes por todo o estádio. O aniversariante do dia era nada mais nada menos que Chris Martin. No vídeo de fã abaixo, o momento foi registrado seguido por Death Will Never Conquer, também na voz de Will:
O agradecimento do Chris veio antes mesmo da surpresa: “não existe melhor maneira de comemorar o aniversário que tocando para 60.000 brasileiros” foi a frase que deu o pontapé inicial para os primeiros acordes de The Hardest Part – canção que já havia sido lindamente performada por um Chris solitário no piano.
Sabe-se que, para o Coldplay, a experiência de quem paga caro por um ingresso deve ser a mesma daquela pessoa que pagou um valor menor. Neste sentido, para a era Viva la Vida, os estádios foram configurados em palco principal e dois palcos menores – conhecidos por B-Stage e C-Stage. Para momentos mais intimistas, ambos foram utilizados. A ideia da banda era poder chegar mais perto da meiuca do público.
Algumas músicas merecem destaque na setlist. God put a Smile Upon your Face, por exemplo, ganhou uma pegada mais rock’n’roll na turnê VLV, sendo tocada em versão de riffs distorcidos. Confira no vídeo de fã abaixo, emendada por Talk:
Shiver, que não havia sido tocada até então na turnê, resolveu se infiltrar na lista brasileira. Para quem sabe da relação da música com a passagem da banda por São Paulo em 2007, o motivo fica claro: Shiver é a nossa queridinha, nada mais justo que atender aos fãs loucos pela canção. Mas, desta vez, ela foi tocada com a contribuição dos quatro integrantes. Para detalhes do ocorrido em 2007, confira aqui.
Já Don Quixote (ou Spanish Rain) foi uma canção cuja composição nasceu em 2007, exatamente na época em que o Coldplay experienciava a “Latin American Tour”. Podemos assim dizer que a passagem da banda por terras latinas foi bem inspiradora.
Clocks ganhou lasers vermelhos e as cores das bolas de Yellow realmente fizeram jus ao título da canção desta vez, ao contrário das coloridas usadas na passagem anterior da banda pelo Brasil. Um dos ápices do show foi Lovers in Japan, que ganhou cores na forma de confetes em formato de borboleta jogados em direção ao público durante o refrão. Uma ocasião de emoção única, de deixar qualquer pessoa anestesiada com a beleza. O vídeo de fã abaixo ilustra a comoção do momento e também, de modo muito divertido, o alvoroço causado nos fãs que se debatiam para coletar os papeis em movimento. Afinal, lembrança mais eloquente dos shows não haveria.
Durante as apresentações, Chris dedicou uma série de canções a pessoas queridas. À amiga Annie foi dedicada The Hardest Part, à irmã dedicou-se Strawberry Swing… Mas uma dedicatória muito especial e cuidadosa mereceu destaque: em São Paulo, Fix You foi dedicada à Yumi Imanishi Faraci – vítima fatal de um soterramento em Angra dos Reis no início do então ano. Fã dedicada à banda, ir aos dois concertos no Brasil era seu maior desejo. O fã Junior gravou o momento de emoção única – “This is for Yumi”:
Para o “gran finale”, a canção Life in Technicolor II encerrou o show junto a fogos de artifício acima do palco principal. Nada mal, hein, produção?!
Quem deixa as impressões conosco das experiências vividas desta vez são o Lucas Caon e a Sarah Schimidt, membros do Viva Coldplay. O Lucas teve uma bela surpresa com uma passagem de som no Rio de Janeiro e a sortuda Sarah teve uma experiência completa com a banda!
Lucas:
“No dia 28 de fevereiro de 2010 presenciei um dos melhores shows que já vi. Não só por ter sido o primeiro show do Coldplay (e primeiro internacional) que fui, mas devido principalmente a toda atmosfera da turnê Viva la Vida. Na época ainda não morava em Niterói, então ir a shows era um desafio financeiro que ia muito além da compra do ingresso. Falando nisso, em 2010 ainda não havia essa ‘corrida’ toda na compra de ingresso, consegui comprar o meu na bilheteria dias depois do início da venda (na verdade foi uma prima que comprou – muito obrigado, Julia!). Cheguei no Rio de Janeiro no dia do show por volta de meio-dia, almocei e fui direto para a fila do show. O táxi me deixou na avenida Salvador de Sá, que ainda não estava interditada. Já saí do carro ouvindo Coldplay bem alto, a princípio pensei que era algum carro de som ali perto tocando músicas da banda por causa do show, mas quando virei para os portões da praça da Apoteose vi que se tratava da própria banda ensaiando para mais tarde. Fiquei um tempo ali assistindo a passagem de som pela grade e logo fui para a fila da pista normal, que começava lá no início da Marquês de Sapucaí. Consegui ficar bem próximo da grade que divide a pista comum da pista premium e dali observei a Praça da Apoteose ficar lotada. Os shows de Vanguart e Bat For Lashes só aumentaram a ansiedade. Finalmente o Coldplay subiu ao palco ao som de Life in Technicolor e ali começaram os melhores 90 minutos do dia.”
Sarah:
“O show de 02/03/2010 foi o meu primeiro show do Coldplay. Sou fã desde 2003 mas não tive oportunidade de ir nos shows de 2003 e 2007. Quando anunciaram essa turnê Latino Americana de 2010 eu não conseguia pensar em mais nada que não fosse esse show. Trabalhei mais de 10 horas por dia em um emprego temporário de natal para conseguir dinheiro para ingresso, passagem e hospedagem. No dia de comprar o ingresso acordei cedinho, fui ao ponto de venda com uma amiga e depois nós saímos para fazer um tour pela cidade com nossos ingressos de tanta felicidade!
Finalmente, o dia de ir para São Paulo chegou! Fui um dia antes do show para ter tempo de ir ao hotel tentar conversar com os meninos e para isso passei a noite inteira viajando. Cheguei na porta do hotel às 10 da manhã e lá fui encontrando com mais outros Coldplayers amigos e as conversas ajudaram a diminuir a ansiedade da espera. Vimos quando os meninos chegaram, no final da tarde, mas eles não pararam para conversar com a gente. Enquanto eu estava esperando decidi dar uma volta no quarteirão para conferir as outras entradas do hotel e encontrei com o Phil Harvey (diretor criativo) conversei bastante com ele. Pedi para que tocassem Shiver e ele me perguntou se tinha algum motivo em especial para que os brasileiros gostassem tanto dessa música, e eu respondi: porque é uma ótima música! Ele sorriu e falou que ia ver se a banda topava (e eles tocaram!!!!) Também falei com ele que estava com uma bandeira do Brasil que seria assinada por todos que estavam na fila e perguntei como poderia entregar para a banda e ele me disse que iriam me encontrar lá no estádio, me perguntou onde eu estaria e eu falei que com certeza ficaria na primeira fila. E falou: ótimo! Eu pego com você!
Depois disso, e com o passar da noite, muitos desanimaram e as 22h poucas pessoas ainda esperavam. Decidi voltar para o hotel e no meio do caminho vi duas vans pretas e só conseguia pensar que a banda estava lá dentro e eu estava perdendo a oportunidade de conhecê-los! Decidi então voltar e quando cheguei na quadra do hotel um carro parou do meu lado e uma mulher me disse que tinha acabado de sair de um evento em que eles estavam e que eles chegariam em breve. Mais algum tempo de espera e eles chegaram! Só o Chris ficou para conversar com os fãs. Consegui autógrafos nos meus CDs e singles e foto com o Chris, mas a emoção era tanta que não consegui falar nada. Enquanto ele estava conversando com outros fãs eu olhei no relógio e vi que tinha dado meia noite. Isso significava que já era o aniversário do Chris (que foi no mesmo dia do show)! Eu o vi saindo e gritei HAPPY BIRTHDAY, CHRIS! Ele sorriu, me deu um joinha e entrou.
Saí da porta do hotel deles e estava tão animada que sabia que não conseguiria dormir, então fui direto para a fila. E já tinham pessoas lá! Ficamos conversando e logo o dia amanheceu e a fila foi crescendo. Durante o dia eu passei a bandeira para que todos pudessem escrever suas mensagens para a banda.
Quando os portões se abriram foi aquela loucura, mas consegui ficar na primeira fila, bem na frente de onde seria posicionado o microfone do Chris.
Antes do show começar, como prometido, Phil apareceu e pegou a bandeira. Eu não consegui me conter de felicidade. O show foi maravilhoso, incrível! Eu os via tocando e não conseguia acreditar que aquilo era de verdade, que meu sonho estava sendo realizado. Os pontos altos foram Glass of Water, Shiver, Strawberry Swing e as sempre incomparáveis In My Place e Clocks. Quando tocaram Don Quixote, a música exclusiva daquela turnê Latino Americana, eu chorei. O show acabou e eu literalmente não conseguia me mover de tão cansada. Duas noites sem dormir e dois dias quase sem comer, eu era um zumbi. Um felicíssimo zumbi.
Fui para o hotel, mas eu queria conversar com os outros membros da banda, então acordei bem cedo para chegar no hotel antes que eles fossem embora. Cheguei lá e em pouco tempo os meninos desceram. Todos foram conversar com o Chris e eu fui falar com o Will.
Ele foi muito educado, assinou todos os meus CDs e singles e conversamos sobre o show, sobre as impressões dele do Brasil, mas no meio da conversa eu vi o Guy se escondendo num canto e larguei o Will, hahaha. O Guy foi muito tímido no começo, mas logo se empolgou e ficou me pedindo mais coisas para assinar, haha. Eu pedi para tirar uma foto com ele e passou minha câmera para Kelly, o segurança, e me deu um forte abraço. Gente, ele é muito cheiroso!
O Jonny também foi muito educado e tão alegre! Tudo é motivo de sorriso para ele <3 Com ele eu consegui conversar por mais tempo e pude dizer o quanto a banda significa pra mim, além de perguntar sobre a bandeira. Ele disse que o Phil tinha mostrado a eles no backstage e me agradeceu muito, falando que ela iria ser pendurada na Bakery (estúdio da banda).”
Parece que o Coldplay sabe deixar boníssimas lembranças aos fãs, não?