“Let’s Go Back to the Start”: Das cores para a introspeccção

Em novo episódio de sua série, o Viva Coldplay explora o lado melancólico, intimista, soturno e vulnerável do sexto álbum de estúdio do Coldplay.

08 fevereiro, 2024

No episódio anterior da série, falamos de “Mylo Xyloto”, uma era em que o Coldplay explodiu, angariando uma série de novos fãs. E é possível que você, leitor/a, tenha conhecido ou se aproximado mais da banda nesse momento. Se for o seu caso, é provável que o “Ghost Stories”, sucessor do “MX”, tenha te causado um baque quando lançado. Isso porque o contraste foi bem acentuado: de uma fase alegre e colorida, o Coldplay, agora, dava um salto em uma atmosfera mais soturna, melancólica e intimista.

LET’S GO BACK TO THE START

Episódio 11: Das cores para a introspecção

É difícil precisar quando uma era se inicia exatamente e quando termina. Mas, no caso de “Ghost Stories”, temos um forte indício de começo: entre abril e julho de 2013, Atlas foi composta para o filme “Jogos Vorazes – Em Chamas”. Embora não tenha entrado na tracklist do álbum mais tarde, por uma razão que Jonny desconhece, a canção foi importante para ditar o tom de como as sessões de gravação de “Ghost Stories” progrediriam.

O primeiro vislumbre do álbum veio só em fevereiro do ano seguinte, quando o vídeo de Midnight foi postado sem nenhuma explicação ou aviso no site oficial. Na época, nem havia qualquer pista sobre o novo nome do álbum. Agora vocês imaginem: os fãs foram, ou não, à loucura?

Pouco tempo depois, no início de março, outra surpresa pegou os fãs desprevenidos: o lançamento do single de Magic. No mesmo dia, foi divulgado o nome do álbum e todas as faixas que comporiam o então misterioso Ghost Stories. Haja coração, hein?

Apesar do lançamento de Magic em março, o clipe só veria a luz do dia em abril. Venha dar uma olhada no “por trás das câmeras” da gravação – o tipo de material que a gente sabe que você ama porque a gente ama também, rs:

Ainda em março, foi a vez de Deus escolher os seus preferidos. Isso porque o Coldplay se apresentou para um seletíssimo número de fãs em Los Angeles, por volta de 800, em um estúdio de cinema, o Sony Pictures Studios.

Na ocasião, a banda performou todas as canções do novo álbum que ainda nem havia sido lançado e os presentes foram proibidos de usar celulares. Mais tarde, no fim do ano, parte desse material – que foi todo gravado – foi lançado como DVD.

Teve palco 360º, teve Chris flutuando, teve telão de fora a fora, teve estrelas de origami iluminadas… Na época, um PDF ensinando a montar essas estrelas, inclusive, foi disponibilizado no site oficial, para que os fãs pudessem baixá-lo e reproduzir os adereços em casa.

Quer ter um gostinho de como foi essa experiência ultra intimista? Fique à vontade:

Bom, não é nenhuma novidade para gente que o Coldplay sabe envolver seus fãs como ninguém. E é claro que, com um Phil Harvey na função de diretor de criação, não poderíamos esperar menos do que uma excelente sacada de promoção de um álbum que nem havia sido lançado ainda. No fim de abril, o Coldplay deu início à Lyrics Hunt, uma caça ao tesouro.

Letras das nove músicas que seriam lançadas, escritas à mão pelo próprio Chris, foram implantadas dentro de livros de histórias de fantasmas distribuídos ao longo de algumas bibliotecas do mundo. A banda lançou as pistas do jogo pelo Twitter e os fãs, claro, mergulharam com tudo na brincadeira.

Você pode estar se perguntando: mas uma caça ao tesouro implica em haver um tesouro, não? E sim, você está certo/a. O prêmio final (que, na verdade, foi encontrado sem querer no meio do caminho, rs) foi um ingresso para um show no “Royal Albert Hall”, em Londres. É, acho que a gente pode dizer que nunca haverá um prêmio melhor do que esse em nenhuma outra gincana no mundo…

Em maio, finalmente, o álbum foi lançado. Ao contrário do clima intimista e mais melancólico das canções, o desempenho comercial do disco foi gigante. Alcançaram o 1º lugar no Reino Unido e na famosa parada estadunidense Billboard Hot 200, além de se manterem no topo do iTunes de mais de 100 países, a incluir o Brasil.

A capa do álbum é um trabalho cheio de detalhes da artista tcheca Mila Fürstová que levou mais de um ano para ficar pronto.

A melancolia das letras e da harmonia das canções do disco claramente se contrasta com a explosão de cores e luzes que foi a era “Mylo Xyloto”. E essa disparidade é frequentemente atribuída ao término do relacionamento entre Chris e a atriz Gwyneth Paltrow, que veio a público no início de 2014.

Imagem que foi utilizada nas redes para anunciar
o fim do relacionamento

“Tell me you love me / If you don’t, then lie to me” – faixa “True Love”

Em uma entrevista bastante sensível à Zane Lowe, então radialista da britânica BBC Radio 1, o próprio Chris confessou que o disco é reflexo de um coração partido. Quando a banda já estava em processo de gravação do sucessor “A Head Full of Dreams”, Chris disse que “Ghost Stories” era um álbum que precisava vir ao mundo, mas com a condição de ter uma turnê curta, pois havia “muita dor envolvida”. A entrevista completa – daqueles materiais que vale muito a pena tirar um tempo para ouvir – você encontra abaixo:

De fato, a turnê de promoção do disco foi bem curta. No total, apenas nove shows foram realizados. Colônia foi a primeira cidade contemplada, seguida por Nova Iorque, Los Angeles, Paris, Tóquio, Sydney, Londres e, para fechar a série bastante seleta, Munique.

Todas as apresentações se deram em pequenas casas de show ou em teatros com capacidade bem baixa de público. Tem como ser mais intimista do que isso?

As entrevistas e aparições da banda em programas de rádio e TV também foram bem raras durante todo o ano de 2014. E até mesmo o site oficial passou por um período de baixa, com pouca produção de conteúdo.

De um modo geral, os vestígios da era são poucos e a impressão que isso causa é que “Ghost Stories” foi a vivência de um luto – uma vivência, por um lado, necessária, como o próprio Chris diria mais tarde, mas que deveria ser exposta o mínimo possível.

A ideia do luto também pode ser interpretada na forma como a banda se vestia. Nada de uniformes, como na era “Viva la Vida or Death and All His Friends” ou “Mylo Xyloto”. A cor dos trajes era sempre o preto, sem qualquer tipo de detalhe.

A vibrante “A Sky Full of Stars” destoa dessa atmosfera mais reservada do álbum. E não é à toa que ela, “Magic” e “Ink” – outras canções um pouco mais ‘para cima’ em termos de harmonia do que as demais – foram as únicas que sobreviveram às poucas apresentações de “Ghost Stories”, sendo tocadas em outras turnês que se sucederiam. As três, inclusive, se destacaram como singles, assim como “True Love” e a já mencionada “Midnight”.

Fato curioso é que, para a gravação do clipe de A Sky Full of Stars pelas ruas de Sydney, a banda teve a ideia de convocar pelo Twitter vários fãs. Acontece que, junto de fãs (e, claro, de pessoas aleatórias), vieram também incontáveis paparazzi, o que quase levou a banda a abandonar a empreitada na última hora por conta de receios com a segurança principalmente do Chris, a pessoa mais visada do grupo.

Como nós temos um belíssimo clipe de “A Sky Full of Stars” à nossa disposição, significa que, no fim das contas, deu tudo certo. Ufa! Vale matar a saudade dele, né?

Além das faixas do próprio “Ghost Stories”, nós ainda tivemos algumas belas surpresas ao longo de 2014. Cabe uma menção honrosa às canções “All Your Friends”, “Ghost Story” e “Miracles”. As duas primeiras, que fazem parte do “A Sky Full of Stars EP” lançado em junho, estão presentes em uma versão deluxe do álbum, por sua vez lançada em novembro. Já “Miracles”, uma balada mais animada, foi composta para fazer parte da trilha sonora do filme “Unbroken”, dirigido por Angelina Jolie.

Alguns fãs acham a sonoridade das duas primeiras são semelhantes a um Coldplay pré-“Parachutes”. Será? Aqui vai o vídeo promocional de “All Your Friends”, para vocês tirarem suas próprias conclusões:

Se as palavras melancolia, intimidade e mistério passam um pouco da ideia do que foi a era “Ghost Stories”, o passo seguinte seria completamente oposto, próximo ao que fora à fase “Mylo Xyloto”: “A Head Full of Dreams” viria com tudo, amplificando toda a alegria e o entusiasmo que ficaram adormecidos durante 2014.

Agradecemos a sua companhia e esperamos te ver muito em breve novamente, dessa vez com toda a energia e disposição que a era “A Head Full of Dreams” nos provoca.

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