The Wall Street Journal: Chris Martin fala abertamente sobre o novo álbum

20 novembro, 2015

Com data de lançamento marcada para 4 de dezembro, o novo álbum do Coldplay, “A Head Full Of Dreams”, conta com parcerias inusitadas e músicas diferentes do último álbum. Chris Martin revelou ao The Wall Street Journal um pouco mais sobre o processo de criação do álbum e da onde vem sua inspiração:

A última vez que Coldplay lançou um álbum, “Ghost Stories,” em 2014, a banda deixou de lado uma turnê que normalmente viria a seguir. Uma razão: O cantor Chris Martin havia se separado de sua esposa, Gwyneth Paltrow, e não estava pronto para os holofotes. Ao invés disso, Coldplay começou imediatamente a trabalhar no próximo álbum.

Agora, Mr. Martin e seus colegas de banda – Jonny Buckland (guitarra), Guy Berryman (baixo) e Will Champion (bateria) – estão ansiosos para acelerar novamente. O sétimo álbum de estúdio da banda, “A Head Full Of Dreams” (com data de lançamento marcada para 4 de dezembro) é exuberante, com referências líricas ao voo dos pássaros, batimentos cardíacos e ganhar atitude.

A música é, também, mais expansiva, feita para agitar a plateia para qual irão tocar na turnê. Para quebrar os padrões de uma banda de rock, o grupo recrutou produtores conhecidos como stargate. O dueto norueguês Tor Hermansen e Mikkel Eriksen são os arquitetos dos hits das estrelas do pop, como Rihanna. Sua colaboração produziu músicas como “Hymn for the Weekend,” com vocais de Beyoncé – Talvez o mais próximo que Coldplay vai chegar de uma faixa dançante.

Os outros convidados do álbum confirmam a mudança radical que Martin procurava. Um vocal de Ms. Paltrow contribui em “Everglow,” uma balada sobre um relacionamento estável. Seus dois filhos e uma dezena de amigos e membros da família da banda cantam um “coral” escutado em várias canções, incluindo a que inclui vozes da atriz e atual namorada, Annabelle Wallis.

Com seu primeiro hit, “Yellow,” Coldplay escalou para o sucesso em 2000. Sendo a última banda rock da era dos Cds – ou a primeira da era digital – Coldplay continua no foco da indústria musical. Apesar de muito popular, “nós nunca fomos descolados,” disse Mr. Martin, que publicou a letra de “Adventure of a Lifetime,” o novo single da banda.

Em uma entrevista em Santa Monica, Califórnia, perto de sua casa e de um dos estúdios onde Coldplay gravou “A Head Full of Dreams,” o cantor negou rumores de que este seria o último álbum e falou sobre a nova música e suas estratégias criativas.

De “Yellow” para frente, Coldplay sempre foi uma banda colorida, e a arte do novo álbum é vívida. Que papel as cores tem em sua música?

Eu tenho lido recentemente sobre sinestesia [no caso, associando música e outras informações do sistema sensorial com cores], e percebi que tenho algo. Não acho que seja incomum para compositores. Quando penso nas músicas e álbuns de outras pessoas, geralmente penso em cores. O último álbum que fizemos era para ser como um azul ou prata – dois tons, uma noite calma. Com esse estamos tentando trazer todo o espectro. As cores que faltam na banda no faz trazer convidados especiais e outros produtores.

Como as cores da banda mudaram [musicalmente]?

Não permanecendo sempre as mesmas: quatro ingleses no baixo, bateria, guitarra e piano. Há 10 anos, muitas bandas, incluindo a nossa, não haviam aderido à tecnologia das ferramentas disponíveis. Nós ainda usávamos com disciplina. Nós tínhamos um sistema que fazia com que soássemos no tom e tempo certo, então fazíamos parecer perfeito. Nós fizemos gravações que gostaríamos de regravar com alguns erros a mais. Assim que percebemos que o computador não era o principal, e sim outro instrumento a ser usado, foi uma libertação.

Como a banda decidiu trabalhar com a Stargate?

Começamos fazendo uma música com eles para o filme da Angelina Jolie, “Unbroken”. Tudo no Coldplay envolve uma série de permissões , então fiquei preocupado se os membros mais conservadores [musicalmente] iriam reclamar de se juntar aos produtores da Rihanna. Mas a banda disse que adoraria. Tor e Mikkel também concordaram, mas queriam ouvir demos porque não queriam trabalhar com nada com que não gostassem. O que é bem a moda antiga. Então fiz uma audição para eles. Eles vieram e eu toquei uma música para eles no piano.

Você pode me dar um exemplo de como essa colaboração se desenvolveu?

No estúdio, a banda ficou em uma sala, tocando ao vivo, tentando se envolver. Nós gravaríamos algo com Rik Simpson e entregar a Tor e Mikkel na sala ao lado, e eles brincavam com a faixa. Depois, entraríamos na mesma sala para ver o que estava dando certo. É um longo e maravilhoso processo.

“Hymn for the Weekend” saiu desse processo como sendo uma música diferente do Coldplay. Como isso começou?

O núcleo original começou quando eu estava escutando Flo Rida ou algo do tipo, e pensei que era uma vergonha o Coldplay não ter uma dessas músicas que tocam na balada, como “Turn Down for What.” Como iríamos chamá-la se tivéssemos uma? Eu pensei que queria ter uma música que se chamasse “Drinks On Me,” quando você senta em um canto e compra bebida para todos porque você é muito legal. Eu estava rindo sobre isso quando a melodia veio – “drinks on me, drinks on me” – e o resto da música apareceu. Eu a apresentei para o resto da banda e eles disseram, “nós amamos essa música, mas não tem como você cantar “drinks on me.” Então, isso foi mudado para “drink from me” e a ideia de ter uma pessoa angelical em sua vida. E isso acabou com um convite à Beyoncé para cantar.

Nesse caso, você foi o próprio protagonista da música. Você tem outras técnicas para surgir com ideias?

A maneira livre de escrever. Pegue um pedaço de papel e uma caneta, e, por 12 minutos, escreva qualquer coisa que vier a cabeça, apenas tire do seus sistema. Não leia novamente, apenas destrua o que escreveu. É ótimo escrever após fazer isso, porque alguns pensamentos bagunçados são eliminados. Sabe o que mais é bom para criatividade? Jejum. Uma vez por semana eu não como por 24 ou 30 horas. Seu cérebro se torna lúcido sobre ideias. Isso também fez me sentir grato pela comida e pela vida, basicamente, e é por isso que letras mais alegres estão aparecendo em nossas músicas, eu acho. Você escreve uma música em uma terça de manha depois de comer cereal e o mundo é perfeito.

Essas coisas fazem parte de uma crença em um sistema espiritual para você?

Citando “This Is Spinal Tap,” David St. Hubbins disse, “Eu estava usando pedaços e amostras de qualquer coisa que a filosofia trazia em meu caminho.” E é isso que estou fazendo. A propósito, se você assistir “Spinal Tap” depois de alguns anos após estar em uma banda, você percebe. “Ai Deus, nós somos tudo isso.” Esse filme é perfeitamente observado, mesmo após 30 anos. E eu o acho responsável por muito controle de qualidade desde então. Muitas coisas são vetadas em reuniões com os produtores porque elas parecem um pouco “tap”.

Quando você termina com um refrão sem palavras, como no fim de “Adventure of a Lifetime” ou na faixa título do álbum, é porque você ouviu a melodia daquele jeito na sua cabeça ou porque nenhuma letra se encaixou?

Quando eu faço isso é porque eu não quero que nada atrapalhe o espírito da música. O sentimento está sem precisar ser descrito. E nós fazemos isso muito. As pessoas dizem que é um pouco repetitivo dizer “oh oh oh oh oh oh,” mas não dá pra traduzir a melodia em palavras.

E quando tem 20.000 pessoas cantando com você…

Aí se torna maravilhoso e ninguém questiona. Mas eu não acho que dá pra enganar a audiência para que eles cantem junto, se não colocaríamos esses momentos em todas as músicas.

Você é conhecido por ser autodepreciativo, mas isso é diferente de falta de autoconfiança no que se faz, certo?

A diferença entre os dois últimos álbuns e os outros cinco que precederam eles é uma visão clara que percebemos até o fim sem questionar. Um poema chamado “The Guest House” do Rumi realmente mudou minha vida. É sobre todos os sentimentos que você tem serem um presente. Auto-dúvida e depressão bem como os sentimentos de alegria são úteis se você puder aproveitá-los.

É mais fácil escapar de todas essas coisas quando você está no estúdio com seus colegas?

Não, porque eles são um pouco cruéis e os produtores com quem trabalhamos não dizem que gostam de algo se não gostam de fato. Então, mesmo para uma música nossa ser lançada, esta já passou por oito níveis de uma opinião muito sincera. É um milagre nós termos algo para divulgar. Mas quando eu estou com o grupo e nós estamos fazendo o que sabemos, sinto que é onde eu deveria estar. Então, se isso é auto-confiança, eu a tenho.

Você preferiria que as pessoas pudessem ter as experiência das músicas do Coldplay sem estar conectadas diretamente com sua biografia pessoal?

Se eu escuto uma música que gosto, meu primeiro instinto é procurar quem produziu. “Oh, foram os irmãos Sherman que escreveram ‘Chitty Chitty Bang Bang’ e várias canções da Disney.” Esse tipo de coisa. Há uma parte de mim que deseja que ninguém saiba nada sobre mim, mas isso não é realístico. O mais estranho é que algumas coisas que as pessoas pensam que sabem sobre você não são verdadeiras. Eles se baseiam em uma frase mal entendida ou rumor. Mas eu também sou culpado. Se eu escutar uma música nova da Rihanna que eu goste, eu quero saber o que a Rihanna vai fazer a seguir.

Você deu às pessoas muito sobre o que discutir nas notas sobre o álbum, que lista todos os membros de fora da banda que participam do CD

Você quer dizer crianças e ex-mulheres…

…e alguém ligado a você de uma forma romântica

Todos que pediram para cantar em nosso álbum tem uma importância em nossas vidas. Esse é o Wall Street Journal, então eu não quero parecer meio hippie, mas eu estou aprendendo com a vida o valor de cada ser humano. Inclusão é a chave, e tudo isso está no poema que mencionei. O “coro” começou com meus dois filhos chegando da escola e gravando. Nós gravamos Blue Ivy Carter em Nova York quando sua mãe, Beyoncé, estava no estúdio. Se trata de aprender sobre a tragédia Grega, onde o refrão entra em alguns momentos. Para mim, quando usamos esse som, estamos afirmando o que estou dizendo. “Nós concordamos com você, Chris. Continue cantando.”

Em outro contexto, será que “separação consciente” [a frase que Mr. Martin e Ms. Paltrow usaram para descrever sua separação] seria um verso bom ou ruim de uma música?

Eu não sei. Eu não inventei essa frase, mas eu amo. Tudo pode se tornar um ótimo verso se você tiver a batida certa.

Quando o anúncio sobre o novo álbum surgiu com o novo single, um tweet me chamou a atenção. Um garoto escreveu: “É muito fácil odiar Coldplay. Eu prefiro odiar uma coisa que é mais desafiadora, sabe?” Como você interpreta o sarcasmo desse comentário?

Se você consegue proporcionar a alguém o prazer de não gostar de você, talvez isso seja tão válido quanto o prazer de fazer alguém gostar de você. Algumas pessoas tentam se afirmar mostrando as coisas que não gostam. É uma forma de se posicionar. Todos fazemos isso. Eu entendo. Mas estou mais focado nas pessoas que gostam do que fazemos, e tem alguns deles. Eu gosto de sair com essas pessoas. Se você já gostou de Coldplay, nós iremos cumprir nossa promessa para o próximo ano. Não é uma música reservada. É sobre sentimentos abertas, o que pode não funcionar para alguns. Mas eu não quero esconder nossa música atrás de frieza ou cinismo apenas para evitar críticas. Porque algumas pessoas realmente se conectam, e eu preciso disso também.

 

Every chance you get is a chance you seize

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