Parte 3 da entrevista que Howard Stern conduziu com Chris Martin. (Leia parte 2 aqui e a parte 1, aqui)
Parte 3
Assista ao vídeo clicando aqui.
[Howard]: … Eu fico com calafrios…
[Chris]: É só porque você me acha atraente.
[Howard]: Você é um homem muito bonito!
[Chris]: Então eu estava tocando isso pra banda…
[Robin]: Será que nós deveríamos deixar vocês dois sozinhos?
[Howard]: Eu gosto da aparência dele, desculpa! Eu não estou dizendo que sou gay, eu só gosto do visual dele, eu gostaria de ter essa aparência!
[Chris]: Você está ótimo cara, não seja tão duro consigo mesmo! Você tem uma bela cabeleira, pessoas matariam por isso. Então eu toquei isso para o resto da banda, essa pequena sequência. E aí eu fui ao banheiro, porque eles estavam jogando futebol no videogame e…
[Howard]: Parece que eles jogam muito videogame, esses caras…
[Chris]: Não, é só uma história. E no banheiro tinha um bom eco e aí eu [toca Yellow], o refrão saiu e eu voltei e eles disseram ‘ok, vamos trabalhar nela!’.
[Howard]: Porque você está me frustrando? Toca um pouco ela, um pouco mais que isso!
[Robin]: Ele só estava te contando como foi!
[Howard]: Você não gostaria de ouvir um pouco disso?
[Robin]: Eu adoraria!
[Howard]: Vamos lá, toque tudo!
[Chris]: (toca Yellow)
[Howard]: Uau, isso foi lindo!
[Chris]: Obrigado, cara!
[Howard]: Essa é uma música romântica. Você estava apaixonado quando escreveu ela? Ela não é sobre uma garota específica?
[Chris]: Não, é sobre todas as garotas!
[Howard]: Eu imagino que quando você escreve uma música assim, as garotas ficam loucas quando você a toca. Porque essa música ganhou dupla platina assim que foi lançada.
[Chris]: É, ela foi bem!
[Howard]: Parece pra mim que vocês não tiveram muitos problemas. Vocês se conheceram, tudo deu certo, vocês conseguiram um contrato…
[Chris]: Não, demorou um pouco, mas não tanto quanto pra outras pessoas, nós tivemos sorte.
[Howard]: Vocês tiveram que se oferecer muito a gravadoras, tocar em clubes, convidar pessoas do departamento de A&R (Artistas e Repertórios), como aconteceu?
[Chris]: Sim, nós fizemos tudo isso. Como todo mundo, fomos muito rejeitados muito.
[Howard]: Você ri dos idiotas que rejeitaram vocês?
[Chris]: Não, nós assinamos com um dos idiotas que nos rejeitaram.
[Robin]: Então ele voltou e…
[Howard]: Ele voltou e deu uma segunda chance?
[Chris]: Sim, e eu não falava com ele. E o resto da banda falou ‘você tem que falar com esse cara. Ele se sente péssimo e quer assinar com a gente agora’. E eu estava irredutível.
[Howard]: Alguma parte de você te levou a falar às pessoas que o rejeitaram, ‘olha pra nós agora, nós vamos ser um grande sucesso e eu sei que isso vai funcionar’?
[Chris]: Não, eu provavelmente concordava com esse cara. Mas nós não tínhamos Yellow na época. Então, quem quer que assinasse com a gente teria que ver uma promessa.
[Howard]: Você chegou perto de desistir do negócio porque pensou ‘isso é um desastre pra mim, eu não estou chegando a lugar algum’?
[Chris]: Bem, todo dia você pensa nisso um pouco.
[Robin]: Mas você tinha um prazo, tipo, ‘se eu não conseguir nada até os…’
[Chris]: 50.
[Howard]: 50 anos de idade era o seu prazo? Cara inteligente, paciente! Então essa música se torna um hit.
[Howard]: Bem, primeiro, você obviamente continuou com a banda, aperfeiçoou sua arte, vocês tocaram em clubes e tals… Quando as garotas ouviam essa música, elas não ficavam loucas por você? Sexualmente, não houve nenhuma época…
[Chris]: Eu não sei, cara…
[Howard]: Porque tudo que eu leio sobre você…
[Robin]: Onde ele estava tocando essas músicas?
[Howard]: Em uma escola só de garotos! Sério, as mulheres não respondiam a essas canções de amor?
[Chris]: Muitas das prostitutas para as quais eu cantei (??)
[Howard]: Você já esteve com uma prostituta?
[Chris]: Sim, muitas vezes. Foram a maioria!
[Howard]: Sério!? Foi assim que você perdeu sua virgindade? Você acordou tarde para o sexo?
[Chris]: Sim.
[Howard]: Foi?
[Chris]: Sim, 29.
[Howard]: Vamos lá, fala sério!
[Chris]: 20, 21. Eu fui criado em um ambiente muito religioso.
[Howard]: Eu sei disso.
[Robin]: Qual religião?
[Chris]: Eu não sei, as pessoas me perguntam isso.
[Howard]: Você estudou religião, mas não sabe qual foi.
[Chris]: Era cristianismo. Mas há tantas correntes, eu não sei qual corrente nós estávamos.
[Howard]: Você é um homem religioso?
[Chris]: Eu acredito que eu seja uma pessoa espiritual.
[Howard]: Você acredita que quando você morre, você visita um cara no céu, esse tipo de coisa?
[Chris]: Eu acredito que quando você morre você ganha um concerto tributo.
[Howard]: Não, sério, você acredita em céu e inferno?
[Chris]: Eu definitivamente não acredito em inferno, por isso eu parei de ser religioso.
[Howard]: Você leva seus filhos à igreja, ou você quer que eles tenham estudo religioso?
[Chris]: Não, eu acho que é importante mostrar que tem vários tipos diferentes de religião, essa pessoa acredita nisso, aquela naquilo e vocês podem acreditar no que quiserem.
[Howard]: Então o que você faz se você quiser que seus filhos estudem religião, abracem todas as religiões e entendam o conceito de Deus, onde você os leva?
[Chris]: Essa é uma boa pergunta. Eu meio que tenho feito a abordagem niilista, eu não os tenho levado a lugar algum.
[Howard]: Então eles não serão criados em nenhum tipo de religião?
[Chris]: Não, em nenhuma religião específica.
[Howard]: E se sua esposa disser…
[Chris]: E os seus filhos?
[Howard]: Eu era contra os meus filhos serem criados em qualquer tipo de religião. Minha esposa na época se preocupava muito com isso e decidiu levá-los a um templo. E meus filhos hoje são religiosos, eles acreditam em Deus e tem uma base religiosa.
[Chris]: Religião não é o mesmo que acreditar em Deus ou ter fé, certo?
[Howard]: Mas eles são religiosos e são gratos que a mãe deles os levou e eles disseram que foi a decisão correta e ficariam chateados de não ter isso na vida deles.
[Chris]: E você se sente mal?
[Howard]: Eu só me sinto errado. Eu acho a religião uma coisa separatista, foi uma coisa horrível na minha vida. Era chato, eu não tinha nenhum sentimento por religião, as pessoas que comandavam as organizações eram ruins, causava muitas brigas quando eu era criança.
[Howard]: Você brigava por alguma coisa, entrou em muitas brigas quando era mais jovem?
[Chris]: Eu entrei em algumas.
[Howard]: E você batia ou…
[Chris]: Não, bem… Engraçado, eu estava mostrando para a minha filha uma cicatriz que eu tenho na mão por ter tentado socar a cabeça de alguém e eu errei, acertei a parede…
[Howard]: Eu tenho uma também.
[Chris]: … Essa foi minha última experiência. Eu quero falar mais uma coisa sobre religião, porque fé é diferente, certo? Eu não estou dizendo que eu não acredito em nada, eu só não acho que tem que ser uma coisa ou se você acredita em uma coisa, o que a outra pessoa acredita é lixo.
[Howard]: Sim, eu concordo.
[Robin]: Mas só nós estamos discutindo como expor seus filhos a religião, eu não sei – o que você faz? Você não sabe o que fazer!
[Chris]: Sim, você só diz “eu não sei”, nenhum de nós sabe!
[Howard]: Quando você escreveu Clocks?
[Chris]: Em 2002.
[Howard]: E foi outro processo de 10 minutos?
[Chris]: Sim, tipo uns 15 minutos.
[Howard]: 15? Eu aposto que isso irrita muita gente.
[Chris]: Sim, mas você só está falando das 3 músicas que foram sucessos e esquecendo as 7.000 que ninguém nunca ouviu.
[Howard]: Porque os sucessos vêm tão fácil?
[Chris]: Eu não sei.
[Howard]: Onde você estava quando Clocks surgiu na sua cabeça?
[Chris]: Em Liverpool.
[Howard]: O que você estava fazendo em Liverpool?
[Chris]: Compondo.
[Howard]: E eu presumo que seus colegas de banda estavam jogando videogame de novo?
[Chris]: Agora você está sendo…
[Howard]: Sério, o que acontece com esses caras?
[Robin]: Esses wankers (NT: antiga gíria inglesa que significa algo como “punheteiro”)…
[Chris]: Quando foi a última vez que você disse isso Robin?
[Robin]: Provavelmente foi a primeira!
[Chris]: Ninguém diz isso aqui nos EUA, certo?
[Howard]: Você conhece algum cara para a Robin? Eu quero arrumá-la com alguém.
[Chris]: Eu conheci um cara legal ontem que eu acho que poderia dar certo.
[Howard]: Quando eles podem se encontrar?
[Chris]: Terça às 18h
[Howard]: Deixa-me entender uma coisa. Vamos voltar para Clocks. Porque é um hit e eu quero saber sobre a criação dela. Você está em Liverpool, compondo, é um dos seus momentos para sentar e compor. Como isso vem a você?
[Chris]: Ok, me deixa trocar de lugar. Isso não é chato pra você?
[Howard]: Não, eu adoro falar sobre música. Eu adoro falar sobre essas coisas.
[Chris]: Ninguém nunca me perguntou isso.
[Howard]: Bem, eu estou te perguntando, oras! Eu te trouxe aqui e vou perguntar. Não se preocupe, eu vou perguntar sobre sua esposa também. Minha esposa tem uma queda pela sua esposa. Quando eu conheci minha esposa…
[Chris]: Vice-versa. Vamos fazer acontecer!
[Howard]: Você não está brincando! Minha esposa não gosta de mulher, mas a maneira que ela fala da Gwyneth Paltrow, é estranho…
[Chris]: Sua esposa é linda não?
[Howard]: Ela é linda!
[Chris]: Ela não é jovem o suficiente pra ser sua…
[Howard]: Minha neta?
[Robin]: Ele a criou e depois casou com ela!
[Howard]: Ela é muito mais jovem que eu.
[Robin]: Cadê o calendário? Mostra a foto pra ele.
[Howard]: Eu sou um fotógrafo agora. Nós estamos juntando dinheiro para […] e aqui está minha esposa na capa, claro, fotografada por mim. Eu tenho vários talentos, você só é bom em música, eu tenho muitos talentos. Vamos voltar pra Clocks… Onde você estava?
[Chris]: Em um lugar chamado Pass Street em Liverpool. Nós fomos lá pelo mesmo motivo que todo mundo vai, para tentar pegar alguma vibe dos Beatles…
[Howard]: Os Beatles são seus heróis?
[Chris]: Um deles. Eu tenho muitos.
[Howard]: Eles são o melhor grupo que já existiu?
[Chris]: Um deles.
[Howard]: Um deles? Quem é melhor?
[Robin]: Quais são suas outras influências?
[Chris]: Bem, você tem que por Stevie Wonder, os Stones… Tem muitos! Bob Marley…
[Howard]: Não tem um número 1 pra você?
[Chris]: Provavelmente Bob Marley é número 1….
[Howard]: Sério? Você já pensou no reggae como uma carreira?
[Chris]: … Ou Michael Jackson.
[Howard]: Michael Jackson?
[Robin]: Nós estávamos tendo uma conversa sobre Michael Jackson ontem, e ele estava tipo “eu odeio sua música, eu não gosto de Michael Jackson e eu digo pra ele que ele está sozinho nessa”.
[Howard]: Eu não gosto de Michael Jackson.
[Chris]: Por quê?
[Howard]: Eu não sinto a música dele. Qual sua música preferida do Michael Jackson?
[Chris]: Billie Jean.
[Howard]: Eu nunca entendi Michael Jackson, é isso.
[Chris]: Você é um idiota, então.
[Howard]: Ei, tudo bem. É idiota não gostar da música de alguém?
[Chris]: Não, isso que é interessante na música.
[Howard]: Então, eu não sou um idiota?
[Chris]: Não.
[Howard]: Obrigado. Vamos deixar isso claro.
[Robin]: Você chama todo mundo de idiota se eles gostam de algo que você não gosta.
[Howard]: Isso não é verdade!
[Robin]: Steely Dan!
[Chris]: O que eu gosto sobre Bob Marley é que você pode estar em qualquer lugar no mundo e as pessoas gostam dele.
[Howard]: Menos eu.
[Chris]: Até você gosta de pelo menos uma música.
[Howard]: Ei, eu adoro Bob Marley. No Woman No Cry. Volte para Clocks. Então você está sentado em Liverpool e você quer inspiração.
[Chris]: Eu tinha isso…(riff de Clocks). Aí eu mostrei essa coisa simples para o Jonny que toca guitarra e ele estava lá desde o começo, tocando guitarra e achou os acordes para o fundo.
[Howard]: Esse é um riff bem poderoso, certo?
[Chris]: Sim, mas quando ele pôs os acordes a música toda saiu bem rápido.
[Howard]: Toca um pouco, por favor.
[Chris]: Ok…. (toca Clocks)
[Howard]: Uau…e você nunca teve uma aula de piano?
[Chris]: Eu tinha algumas quando eu tinha 7 anos por um ano. Minha professora foi embora pra se casar eu acho.
[Howard]: Nossa, se eu conseguisse fazer isso! Todo homem gostaria de saber fazer isso!
[Chris]: Acho que todo homem quer ser guitarrista primeiro. Guitarra é o mais sexy.
[Howard]: Verdade, e depois o piano. Mas é um afrodisíaco para mulheres, eu acho que todo cara tem a fantasia de “eu vou escrever uma música sim, se eu conseguir tocar assim, eu ganho a mulher”. É uma coisa incrível poder arriscar e fazer isso e achar que tem uma música na sua cabeça, eu não sei…
[Robin]: Sim, todo esse processo até o compositor, eu acho que é apropriado para uma criança de 11 anos pensar que um dia ela poderá fazer algo assim. Porque é assombroso se você pensar nessa perspectiva.
[Chris]: É mais assombroso agora, por mais engraçado que isso soe. Foi bom ter 10 anos sem ninguém criticar. Eu tive alguns professores que diziam para eu continuar compondo, que eu era bom, mas…
[Howard]: Você chegou em um ponto. Eu estou falando dessas crianças hoje em dia que querem estrelato instantâneo. Eu estou falando do tipo do American Idol, eles são talentosos, sabem tocar piano, mas eles têm que desenvolver.
[Chris]: Sim, e se você por um vídeo no youtube, você é malhado por todo mundo antes de ter 14 anos!
[Howard]: Você recebe críticas…
[Chris]: Muitas!
[Howard]: … Elas te atingem?
[Chris]: Ocasionalmente. Eu fico frustrado porque as vezes isso ofusca todas as coisas positivas. Talvez seja eu, ou talvez eu só esteja sendo britânico. Tipo hoje eu não dormi muito, e as coisas parecem mais negativas…
[Howard]: Você se sente desvalorizado como artista?
[Chris]: Não, Deus, a gente não poderia pedir por mais nada…
[Howard]: Mas quando um colega músico vem e diz “Coldplay, fodam-se eles!”, como aquele cara do Oasis que está sempre criticando todo mundo, isso te magoa?
[Chris]: Quando isso acontece entre músicos é como boxeadores antes da luta para divulgar…
[Howard]: Mas você não é assim…
[Chris]: Não, eu não entro nessa.
[Howard]: Mas e o público e os críticos?
[Chris]: Bem, quando alguém tem um válido ponto me chateia, se eu concordo.
[Howard]: O que alguém disse que você concordou e era negativo?
[Chris]: Bem, eles poderiam melhorar essa parte, ou qualquer que seja, letras ou a vibe da música…
[Howard]: Mas você é o artista, é você que está sentado e criando essa música.
[Chris]: Mas as vezes um crítico pode apontar alguma coisa. Um bom poderia…
[Howard]: Mas você não fica neurótico? Se você quiser você poderia ligar para um crítico antes de lançar um álbum e dizer “ei, você concorda com essa música?”, e daí você poderia sentar e aperfeiçoá-la…
[Chris]: Sim, é impossível… Todo mundo me diz, caras mais velhos e que são simpáticos conosco sempre nos avisam “isso é o que vai acontecer daqui a 8, 10 anos”
[Howard]: Te avisam sobre as repercussões?
[Chris]: Isso, você tem que ter muito cuidado a quem você está ouvindo ou não está ouvindo, e está tudo se tornando realidade.
[Howard]: Os críticos podem destruir um artista? Você pode dizer “eu tenho uma vida ótima, uma bela esposa, filhos, eu tenho dinheiro, eu não preciso trabalhar”. Eles podem destruir seu espírito ao ponto de você dizer “dane-se, eu estou cansado das críticas, não quero estar mais aqui?”.
[Chris]: Eles poderiam se nós não tocássemos ao vivo. Porque qualquer coisa que alguém tenha escrito…
Essa série de postagens com a tradução da entrevista de Chris para Howard Stern volta na 2ª (26).