É com muita alegria que viemos anunciar uma nova sessão especial do site. O especial “Going Back to the Start” trata nada mais nada menos do que do começo da banda, de sua trajetória, curiosidades pouco discutidas e material inédito para muitos acerca do começo da banda. O especial tem como objetivo recordar um pouco a trajetória do Coldplay, assim como tornar públicas histórias que poucas pessoas têm conhecimento e relembrar para cada um porque essa banda é tão especial para nós.
O primeiro “Going Back to the Start” falará um pouco sobre a vida pré-Coldplay de cada integrante e sobre a formação do quarteto.
“What was I like when i was a kid? The same i am now, just smaller with a higher voice.” Chris Martin
Chris Martin, filho mais velho de um pai contador e de uma mãe professora de Biologia, nasceu no dia 2 de março de 1977. Estudou em Sherborne, uma das melhores escolas públicas do país. Durante esse período foi o tecladista de bandas identificadas como “The Rockin Honkies” e “The Red Rooster Boogie Band”, além da banda Identity Crisis. Apesar de curta, essa experiência foi essencial para Martin e lhe trouxe algo que ele carregaria durante sua vida e sua carreira com o Coldplay: ser vaiado fora do palco. Chris subiu ao palco com um casaco de chuva emprestado de um amigo que o deixava com uma péssima aparência, e entusiasmadamente imitou Bono Vox, vocalista do U2. Foi desastroso. Com raiva, Chris prometeu ser somente “totalmente normal” desse dia em diante. Felizmente nem tudo estava perdido. Foi através de um amor compartilhado pelo album do U2, “Zooropa”, que Martin conheceria Phil Harvey, futuro manager e “quinto membro” da banda. Logo se tornaram grandes amigos e Chris chegou a namorar a irmã mais nova de Phil por um tempo.
Nascido na Escócia, Guy Berryman, filho de um engenheiro, pôde usufruir de uma boa educação assim como Martin. Guy tocou o trompete antes de chegar ao baixo, e sua primeira banda foi uma banda cover do grupo Genesis, chamada “Time Out”. “Era uma banda de guitarra e teclados”, relembra. “Nós tocávamos algo realmente terrível. O melhor músico do grupo era fissurado em Genesis. Nós trabalharíamos por horas tentando criar alguma espécie de rock progressivo com solos ridículos. Nós nunca chegamos a lugar algum, apenas fazíamos barulho.” Time Out ia contra as próprias preferências musicais de Guy, que com certeza eram funk e R&B. Ele inclusive pagou 100 libras num vinil raro de “Hell”, de James Brown apenas para vê-lo numa loja ma semana seguinte sendo vendido por 12 libras. Berryman é um fã declarado de raridades.
Will Champion, nascido em Southampton, filho de um arqueólogo e de uma professora de música (o que o tornaria um músico mais adaptado do que seus futuros colegas de banda) teve uma vida escolar meio conturbada. A única banda conhecida da infância de Will foi a “Fat Hamster”, cujo os outros dois participantes eram Iain (que se tornaria o bem-sucedido goleiro de wicket do Hampshire e do Totton FC) e David (que viria a ser um famoso DJ de bateria e baixo). Will sempre obteve êxito em muitos instrumentos musicais diferentes. Sua decisão para mudar do violão para a bateria não foi uma manobra tão difícil quanto possivelmente possa soar. “Will é como um jukebox humano”, explica Chris. “Ele conhece mais músicas do que qualquer pessoa. Você diz o nome de uma música e ele a tocará para você.”
Jon Buckland nasceu em Londres, onde viveu até seus quatro anos de idade. Sua mãe era professora de música e seu pai, grande adorador de Eric Clapton e Jimi Hendrix, era professor de biologia e química. Talvez seja por isso que o futuro papel de seu filho no Coldplay não seja uma surpresa tão grande. Jon pode tocar piano e harmônica também, assim como o Chris. Começou a aprender a tocar violão com apenas 11 anos. Aos 13 anos começou a aprender guitarra com um expert local, chamado Jan Beck, que futuramente seria um dos primeiros a ouvir o trabalho do Coldplay. Jon era fascinado por bandas como Sonic Youth, The Stone Roses e Ride. Sua adolescência foi repleta de bandas que nem chegaram a realmente existir, com nomes cada vez mais clichês. A única banda que conseguiu chegar a um ensaio de verdade foi uma banda de heavy metal, que tocava um cover bizarro de “Night Boat to Cairo”, clássico da banda Madness.
A história do Coldplay começa de fato na University College, em Londres. Um produto de quatro decididos e ousados jovens que aspiravam para um futuro brilhante. “Nós todos tínhamos uma ambição meio Dick Whittington”, Chris admitiu para a NME, “Ir para Londres, fazer nossa própria sorte. Bem, mais ou menos isso. E quando você vai para a faculdade, você tem não tem uma reputação, ninguém sabe quem você é e você já decidiu praticamente quem você quer ser.”
Will se inscreveu para Arqueologia (Chris uma vez descreveu o pai de Will como o Michael Jackson da Arqueologia), Jon optou por Matemática e Astronomia e Guy seguiu os passos de seu pai e estudou engenharia, apesar de mais tarde ter mudado para Arquitetura. O processo de Chris foi um pouco mais complicado. Primeiramente havia aplicado para Inglês em uma outra Universidade, mas foi educadamente informado que sua justificativa de querer estudar inglês para melhorar sua língua escrita e assim ajudar com suas letras não era bem o perfil de aluno que eles estavam procurando. Eventualmente, Chris acabou na UCL estudando História Antiga.
Chris e Jon se conheceram e logo tornaram-se muito amigos, dividindo o mesmo interesse por música. A admiração que Chris tinha por Jeff Buckley, que fazia uma grande variedade de covers, fez com que Martin comprasse álbuns de artistas tão variados quanto Leonard Cohen e Elkie Brooks. Radiohead e Echo and The Bunnymen (cujo a banda futuramente também faria covers) também eram trilhas sonoras regulares dos encontros no hall de suas residências universitárias, tarde da noite.
Como não tinham uma banda nem uma real experiência de tocar ao vivo para uma platéia juntos, Chris e Jonny imediatamente começaram a escrever um material novo. “Conhecer Jonny foi como se apaixonar. Ele fazia todas as ideias funcionarem e às vezes escrevíamos até duas músicas por noite.” Jon ficou reciprocamente impressionado “Desde o primeiro momento em que eu conheci o Chris sabia que nós poderíamos ir juntos até o fim.”
Nos próximos 9 meses, Chris e Jon começaram a levar a ideia de formar uma banda mais a sério, começando a criar a melodia de algumas músicas além de criar outras novas e de continuarem com seu processo de estudo. Há rumores de que Chris chegou a pensar em criar uma boy band, cujo nome seria Pectoralz, algo que não parece do feitio do vencedor de vários Grammys e gênio criativo que conhecemos. Felizmente esse ‘conceito’ de banda pop nunca fez uma performance ou sequer ensaiou. A história que se conta é que o baixista Guy Berryman soube do processo de composição que Chris e Jonny estavam realizando e foi procurá-los num bar universitário, pedindo incansavelmente para se juntar à banda. “Nós realmente não pudemos dizer não”, relembra Jon. Chris achou Guy um pouco assustador quando se conheceram, mas agora ele diz que ele é muito mais legal do que aparenta, fácil de lidar ao invés de mandão e continua o membro mais “quieto” do Coldplay. Guy é quase uma espécie de enigma a ser decifrado, pois é muito tímido diante da mídia, não gosta das atenções voltadas apenas para ele.
Pouco depois, Guy largou o curso de Engenharia e mudou para o curso de 7 anos de duração de Arquitetura, sendo o único da banda a não se formar, pois na época que terminaria a faculdade, Guy já era integrante de uma das maiores bandas do planeta, com uma coleção de Brits, 2 Grammys e milhões de discos vendidos.
Como os três integrantes moravam no Ramsey Hall da UCL, era bem fácil se reunir para compor ou tocar quando eles tivessem vontade. O trio podia ser encontrado algumas vezes tocando Simon & Garfunkel nos degraus do hall de sua residência. A última peça do quebra-cabeça do Coldplay seria a chegada de Will Champion. Seu recrutamento foi mais ou menos o oposto do que havia ocorrido com o Guy. O trio sabia que havia um baterista de grande reputação na UCL e abordaram-no com uma demo com algumas músicas deles, que continham uma versão bem primitiva de ‘Don’t Panic’, faixa que abriria o primeiro álbum da banda. “Nós tocamos ‘Panic’ para ele e ele disse “Não”. Nós simplesmente não podíamos acreditar! Mesmo nessa época havia um sentimento de ‘Mas o que estamos fazendo é ótimo! Como você não quer ser uma parte disso??’”.
Apesar da rejeição, Will disse para Chris que seu companheiro de quarto também era um baterista e aconselhou que marcassem um ensaio com ele. O problema foi que quando eles chegaram no dormitório do Will no dia e na hora marcados, o tal baterista não estava em lugar nenhum. Sentindo-se culpado, Will ofereceu-se para tocar o básico de bateria (pois na época ele estava tocando violão), apenas para que eles não tivessem desperdiçado seu tempo indo até lá. A data era 6 de janeiro de 1998. Depois desse ensaio, Will assumiu permanentemente o papel de baterista da banda. “Ele era um baterista melhor do que eu”, admitiu Jon “E provavelmente é um melhor guitarrista também, ele é um ótimo guitarrista. Ele é bom em praticamente tudo o que faz. Ele toca até flauta doce! Ele é tipo um baterista com multi-talentoso do exército Sueco.”
Um dia, Chris e Will, sem dinheiro, decidiram viajar até o centro de Londres para tocar e tentar ganhar algum dinheiro. Nessa época eles tinham grandes visões de multidões enormes, com pilhas e pilhas de dinheiro que nem caberiam nos chapéus que colocariam no chão. O que aconteceu realmente foi que tocaram a música dos Beatles, “Mrs. Robinson”, seguido de uma música do Jungle Book, para aproximadamente seis pessoas, e ganharam 20 pences antes de serem retirados pela polícia.
Coldplay pegou seu nome “emprestado” de um amigo de faculdade deles que tinha uma banda e não o queria mais, porque achava-o “depressivo demais”. As outras opções de nome que eles estavam considerando eram “Stepney Green” e Starfish (que chegou a ser usado num show em Camdem).
A primeira música ‘oficial’ do Coldplay foi um novo número, chamado Ode to Deodorant, composto no quarto de Jon. Nessa fase, não era apenas as músicas da banda que estavam longe de ser um material de rock star: Chris era tímido, magrelo e usava um aparelho dental, dificilmente até um Kurt Cobain de 19 anos em potencial.
Will não era apenas um ótimo baterista para banda, como também presenteou Jon com um violão, sua Telecaster azul, que seria a coluna vertebral de várias músicas do Coldplay. Apenas alguns dias depois da banda formada, Will arranjou um show para o Coldplay no extindo Laurel Tree, em Camdem, norte de Londres. A setlist continha seis músicas, tocadas nervosamente para uma modesta multidão, quase que inteiramente formada por amigos de faculdade. Entre as seis músicas tocadas, estavam ‘Don’t Panic’ e ‘High Speed’, que estariam no primeiro álbum da banda. Mesmo nessa época, Chris admite que não havia um plano B. Eles não contavam com a possibilidade de falhar nessa história de banda.