Coldplay – caminhando a passos largos [Sunday Times]

18 setembro, 2011

Excelente artigo que o periódico Sunday Times fez com o Coldplay durante sua passagem pelo Japão:

Eles são a banda com o maior número de vendas no rock britânico de hoje, mas também a mais criticada. As punhaladas da mídia nos impediram de conhecer o verdadeiro Coldplay? Matt Munday se junta à banda no Japão para descobrir

Se você vai atrapalhar a perfórmance de uma música – e estou falando de atrapalhar a ponto de ter de parar completamente –, idealmente, você não faria isso na frente de 100.000 pessoas assistindo ao vivo e de mais outras 16 milhões acompanhando a transmissão televisiva. E sabe lá Deus, mais quantos via YouTube. Você preferiria fazer isso no conforto do seu estúdio. Ou no seu quarto. Ou em qualquer lugar que não seja o Pyramid Stage do Glastonbury desse ano, no ápice do show, em uma lânguida noite de verão.

Isso aconteceu durante  Us Against The World, uma das novas músicas do Coldplay, uma balada. O culpado foi o amável gigante barbado Will Champion, o baterista da banda. Ele cantou ‘rainbow’, enquanto Chris Martin, líder da banda, cantou o verso correto ‘raindrop’. Isso causou um ataque de risinhos nervosos, que os dois tentaram encobrir continuando a música. Não funcionou. Martin parou tudo. Depois, ele salvou o dia. “Desculpem”, ele disse, com um sorriso amarelo, enquanto as câmeras davam um close nele. “Ca**** tudo”. Em seguida, ele seguiu com a música e o Coldplay deu continuidade a uma apresentação triunfante.

Isso nos diz duas coisas sobre Chris Martin. Um: ele é um líder de verdade. Dois: talvez ele não seja o maníaco egocêntrico que algumas pessoas acham que ele é. Mais tarde, Champion afirmaria que “Chris segurou as pontas pelo time” no Glastonbury. “Ele é genial, assim. Ele só deu uma disfarçada, riu e começou de novo. A confissão veio quando fui convidado para passar alguns dias com a banda no Japão, onde eles fizeram dois shows muito diferentes – para uma multidão enorme e para um público seleto –, uma amostra da pegada democrática e dinâmica da banda.

A despeito da maior exposição de Chris Martin e do fato de ser ele quem compõe a maior parte das letras, a banda divide os royalties igualitariamente. De acordo com o último ranking do Sunday Times, a riqueza conjunta de Martin e de sua esposa estrela de cinema, Gwyneth Paltrow, é estimada em £48 milhões. Os “outros três” do Coldplay, Jonny Buckland, Guy Berryman e Will Champion, possuem cerca de £32 milhões cada. Ainda assim, eu não consigo deixar de achar que os três ficaram com a melhor fatia do bolo: eles ficam com a empolgação e o glamur de estar em uma das maiores bandas do mundo, mas nada de invasão em suas vidas pessoais. Champion me conta que “na vida real”, ele pode simplesmente “andar por aí e fazer as compras” sem ser perturbado pelo público ou pelos paparazzi.

Martin, por outro lado, não pode. Em certos tempos, ele teve uma relação evasiva e conflituosa com os jornalistas. No Japão, na academia e spa do hotel, as coisas começam de um jeito bem frustrante. Martin e Paltrow são conhecidos por sua dieta macrobiótica regada a iogurte e por seus estilos de vida orientados por muito ioga. Mas eu não posso falar nada – sinto informar que eu também sou praticante de ioga. Deu um pulo na academia para praticar um pouco, só para descobrir que Martin está executando exatamente os mesmos movimentos que eu a apenas alguns metros de distância. Bizarro. Ele parece estar absorto em sua concentração, então eu continuo por alguns instantes. Mas, quando, me levanto novamente, descubro que Martin desapareceu.

Quando finalmente consigo conversar com eles, estamos sentados nas extremidades de um sofá em formato de ‘L’ no quarto do diretor de turnê. Jonny Buckland está sentado na lateral tal como um árbitro. Ele é outro gigante de mais de 1,80m, sempre com um sorriso no rosto e uma queda por bonés militares. Ele não fala muito, mas Martin tem um intenso entusiasmo por ele. Martin é indefectivelmente educado e cheio de auto-estima. Mas há também uma atitude defensiva, nervosismo e inquietude. Ele olha fixamente para mim com seus olhos azuis penetrantes e eu consigo ver seu cérebro acelerando: qual é meu ponto de vista? Aonde isso vai chegar?

Martin está altamente consciente do fato de que o Coldplay divide opiniões. Os aversos a Coldplay desdenham a banda por sua música monolítica, pervasiva e que se esgueira em todo lugar. Um artigo escrito à peçonha os descreveu como o “padrão de ouro da mediocridade” e “o equivalente musical de espinafre murcho”. Martin é bombardeado por tudo, desde as suas canções (oblíquas demais) passando por seu repertório (classe média demais), seu estilo de vida (não é rock’n’roll), sua defesa das causas nobres (coisa de pregador) até o nome de seus filhos com Paltrow (Apple, 7, e Moses, 5).

Hoje, Martin choraminga: “Não acho que a gente precisa se comportar de uma maneira determinada para ser considerado legal pelas pessoas. Rock’n’roll é uma questão de ter liberdade para ser você mesmo. Se você quiser usar uma tanguinha e dançar Abba, isso, para mim, isso é rock’n’roll. Eu não preciso fingir que sou dos anos 60 ou que sou de Manchester se eu não for. E, se você der o azar de ser um aluno falastrão de uma escola pública de Devon, que pena. Mas fingir que você não é, é besteira”.

Ele estudou em um internato chique em Dorset. O baixista do Coldplay, o escocês Guy Berryman, também estudou em escola particular. Os outros dois, o guitarrista Jonny Buckland, que nasceu em Londres, mas cresceu no País de Gales, e o baterista Will Champion, de Southampton, estudaram ambos em escolas públicas. É claro que nem todo mundo se importa com o quanto o Coldplay é classe média e se isso tem alguma importância para a sua autenticidade ­ muitas pessoas simplesmente gostam de suas músicas. Os quatro primeiros álbuns de soft-rock melódico venderam 48 milhões de cópias, o que faz deles a maior banda atual no Reino Unido, superando Muse, Radiohead e mesmo os queridinhos das donas de casa, o Take That.

O Coldplay lança seu próximo álbum no mês que vem [24 de outubro], mas Martin fica inicialmente relutante para dizer o título. “Assim que a gente começar a falar como o álbum se chama, a gente vai ter que começar a defender ele”, estremece ele. “A mesma coisa aconteceu com o nome da filha [Apple]…”. Ele hesita e depois faz beicinho. “fo***-se eles”. Outra pausa. “Vai ser difícil fazer isso sem parecer pretensioso…”. Vamos lá, Chris, põe para fora. “Mylo Xyloto. E a inevitável pergunta seguinte é: ‘E que po*** é essa?’”. Ele está entrevistando a si mesmo. Buckland se inclina e derrama mais café.

“A gente queria que [o álbum] se chamasse de algo que ainda não significa nada, dando a chance dele ser ele mesmo plenamente”. Ele continua: “A palavra ‘Coldplay’ tem muitas opiniões ligadas a ela, opiniões de pessoas que não gostam da música. É como se fosse um começo a partir do zero, sem ramificações”. É uma resposta para as punhaladas da mídia? “Não, Deus, não”, ele insiste. “Atraímos ataques, mas também fizemos um trabalho decente”. Por um momento, ele parece um pouco magoado, mas depois se reergue: “Somos a 15ª banda no ranking de vendas!”.

Cara engraçado. Mas ele não atenua a minha suspeita de que realmente se trata de uma resposta aos críticos, em algum grau. Ele afirma que algumas resenhas o inspiraram “a melhorar as minhas letras. Então, eu melhorei”. Depois, vem a revelação de que Mylo Xyloto é “nossa versão de um álbum conceitual”, uma história de amor. “Ele surgiu de ver as notícias e pensar em jovens e pensar se duas pessoas poderiam se encontrar e escapar de lugares como o Afeganistão ou algum lugar onde há escuridão e sombras esvoaçando em torno deles e os envolvendo. Poderia ser algum vindo de uma família de alcoólatras encontrando com alguém de uma zona de guerra – duas pessoas com problemas que encontram a salvação um no outro”.

Mylo e Xyloto? “Se você quiser, pode tomar o título como os nomes dos personagens”, ele diz. “É um mistério,  mas gostamos disso. Inventamos duas palavras que não dão nem para fazer uma busca no Google. Tentamos e não conseguimos nenhum resultado”. Atualmente, há mais de 19 milhões de resultados obtidos somente no momento de digitação.

Quando, mais tarde, assisto a banda sendo entrevistada para a TV japonesa, eles emanam algo de cativante e franco que é surpreendentemente reminiscente dos Beatles. Não que eu esteja dizendo que o Coldplay é o novo Fab Four. Vou deixar isso para o rapper Kanye West, raramente dado a eufemismos, qua disse: “Daqui a 30 anos, as pessoas vão olhar para trás e dizer ‘Esses caras eram mais talentosos do que os Beatles’”. Ele seguiu comparando Martin a John Lennon. “Não acredito que ele disse isso”, dispara Martin. Ah, sim, ele faz. “Talvez, o que ele quis dizer é que a gente não recebe a valor devido enquanto a coisa toda ainda está acontecendo, mas não acho que foi uma afirmação do tipo ‘Eles são melhores do que os Beatles’”.

Também outros fizeram a comparação. Noel Galagher disse: “Eu escuto Violet Hill e parece que é Beatles. Acho mesmo que o Chris Martin é um grande compositor” (ele também acrescentou que “Liam odeia eles pra ca****o”). Paul McCartney mesmo disse que o Coldplay era uma “bandazinha boa” [good little band] – as mesmas palavras que ele uma vez usou para descrever a sua própria banda.

Em um dos muitos bares de nosso hotel em Tóquio, no zilionézimo andar, que tem vista para edifícios estilo nouveau-riche – todos arranha-céus e shoppings –, Champion revela que eles nem sempre se deram tão bem. “Nos primeiros dias, era muito mais difícil porque éramos muito ambiciosos. Tínhamos muito mais embates criativos do que agora. Hoje, discutimos a questão extensamente até resolvermos. No passado, tinha briga e explosões”.

De acordo com os relatos de uma notória explosão, durante a gravação de seu álbum de estréia, Parachutes, Martin repetidamente repreendia Champion, xingando-o de “baterista de m****” quando Champion tocava fora do tempo. Depois, em um ataque de remorso, Martin acho que “tinha da pagar” por seu comportamento se embebedando. Ao que parece, mais tarde, ele foi encontrado em estado de incoerência e babando vômito roxo – o resultado de beber cerveja, vodka e Ribena. Ele decidiu que abstinência era a melhor maneira de seguir em frente depois disso. “Tinha horas bem impiedosas”, lembra Champion, “mas sabíamos que o Coldplay não poderia sobreviver com nenhum de seus integrantes de fora”.

“Fizemos o percurso contrário ao que muitas banda fazem”, diz o baixista Guy Berryman, 33, o integrante mais baixo, com cerca de 1m80. “Normalmente, todos começam amiguinhos e acabam por brigarem um com o outro. Aqui, todas as nossas brigas aconteceram no começo e agora a gente se dá muito bem. Hoje em dia, o desafio é manter as coisas revigoradas. É progressivamente mais e mais difícil fazer algo diferente com a nossa música”. Berryman acrescenta que, para verdadeiramente romper com as amarras, eles teriam de “ir para longe [um do outro] por um bom período de tempo e só depois voltar com um álbum radicalmente diferente. Se você simplesmente seguir [o que já está fazendo], o mistério meio que se perde”.

O Coldplay está na ativa – compondo, gravando e fazendo turnê – há 12 anos. Com efeito, toda a vida adulta, eles passaram ou na faculdade ou sendo estrelas do rock. Eles assinaram um contrato com a Parlophone, subsidiária da EMI, em 1999 antes de eles terem concluído a graduação na Universidade de Londres [University College London], onde eles se conheceram (Berryman é o único que não tem graduação – ele abandonou a faculdade e trabalhou como garçom em um bar). Eles lançaram Parachutes em julho de 2000 – que rendeu a eles o troféu de Melhor Álbum Britânico de Rock no Brit Awards e vendeo 9,5 milhões de cópias. Não houve períodos intermináveis de ostracismo: o Coldplay foi do nada para a ubiqüidade [= onipresença].

“Mais ou menos um mês foi o máximo de tempo que a gente ficou fazendo nada”, diz Champion, que também tem 33. “Não queremos nos sentir como se estivéssemos perdendo oportunidades enquanto ainda somos relativamente jovens. Acho que a capacidade de uma pessoa de ficar dando o seu super-máximo é obviamente limitada. Como deve ser para um jogador de futebol: você tem uma janela quando você está no seu melhor”.

“Às vezes, eu acho que a gente simplesmente deveria parar de fazer turnê e simplesmente ir viver um pouco”, diz Berryman melancolicamente, apesar de ele não dizer como eles poderiam se beneficiar de uma pausa prolongada, sugerindo apenas “só para ter algumas idéias novas antes de começarmos a gravar novamente”. Mais tarde, depois de assistir a banda tocando, confundo Berryman com um dos membros da equipe. Ele não perde tempo e conta a minha gafe para o restante da banda. Martin se regozija com a chance de rir às minhas custas. “Muito prazer, eu sou o Chris Martin”, ele solta, toda vez que a gente se encontra depois disso.

A locomotiva da banda segue em frente, fazendo barulho. Mais tarde, naquela noite, o Coldplay faz um show para umas poucas centenas de fãs japoneses em um estúdio de TV da rede NHK. É um aquecimento útil para o show muito maior que vai ocorrer dali em dois dias, no Fuji Rock Festival, o equivalente japonês para o Glastonbury. Eles tocam cinco músicas novas, além de sucessos como Yellow e Fix You. Rapidamente, fica aparente que o material novo não desvia radicalmente do antigo: retém-se a atmosfera redemoinhante do álbum um pouco mais experimental de 2008, Viva La Vida, mas as músicas novas são mais compactas e diretas. A familiaridade instantânea que cada uma evoca sublinha o status do Coldplay como uma banda no auge de seu poder.

Para esse novo álbum, eles se juntaram novamente com o excêntrico produtor Brian Eno, famoso pelo Roxy Music, com quem já haviam trabalhado em Viva La Vida. Dessa vez, Brian Eno não fez a produção – ele estava envolvido desde muito cedo, compondo músicas em parceria com a banda, cantando, tocando teclado e outros instrumentos e atuando como “consultor criativo” [no anúncio oficial de Mylo Xyloto, o Coldplay usou o termo ‘enoxificação’]. “O que ele mais gosta de fazer é simplesmente ficar em círculo e tocar. Ele chega como uma vaca leiteira com os úberes cheios e nós temos que ordenhá-lo”, me conta Martin.

“Depois do último álbum, ele escreveu para a gente e disse ‘Acho que a gente pode fazer melhor’, então pedimos a ele que escrevesse os Dez Mandamentos de como fazer um grande álbum. Alguns eram abstratos como ‘Cozinhe como um italiano’, querendo dizer ‘use ingredientes simples, não complique as coisas excessivamente’. Ou ele diz ‘Não use todas as cores em um só quadro’ ou ‘Vocês devem ser pescadores de homens que não se contentam com anzóis simples’. Parece um negócio meio pseudo-intelectual, mas funciona”.

Ele ainda quer mudar o mundo? Como Bono, Martin é notoriamente conhecido por suas crenças políticas. O Coldplay está relacionado com a campanha Make Trade Fair da Oxfam. Emily Eavis, filha de Michael Eavis, fundador do Glastonbury, apresentou a banda para o trabalho beneficente. Subseqüentemente, a Oxfam levou Martin para Gana, de modo que ele pode testemunhar pobreza extrema em primeira mão. Martin, que mal estava em seus vinte e poucos anos, foi imensamente afetado por o que viu. Pouco depois, ele começou a rabiscar um sinal de “igual” na mão antes de fazer uma apresentação. Ele também foi fotografado com “Make Trade Fair” escrito em seu braço.

Algumas coisas da vida sempre conseguem aumentar os níveis de qualquer um. Uma delas é uma estrela multimilionária do rock fazendo ativismo social, mesmo que seja uma pessoa bem intencionada. Aos 34 anos, Martin já é capaz de reconhecer isso. Mais ou menos. “A palavra ‘ativismo social’ [campaigning] me deixa sem jeito”, ele diz. “Quando estava escrevendo na minha, estávamos definitivamente fazendo ativismo social. Agora, a gente prefere fazer isso de um jeito mais sutil. Dá para ver quem a gente apóia no nosso show e no nosso site; não queremos que seja algo meio que enfiado goela abaixo”.

Então, você admite que estava fazendo isso?

“Hm. Não… Eh, eu não sei bem. Talvez. Não quero ponderar uma coisa do passado. Prefiro que seja uma coisa do tipo ‘se você quiser saber alguma coisa sobre a gente, tem maneiras de fazer isso’ e não uma coisa do tipo ‘Olha aqui o que eu acho!’. Usamos a nossa voz no Make Trade Fair, no qual ainda acreditamos, mas, se, de repente, disséssemos…”. “E agora, as florestas tropicais!”, gargalha Buckland. “Isso!”, continua Martin. “Se mudássemos as nossas causas com a mesma freqüência com que mudamos de roupa, ia começar a ficar meio fútil. A lista de coisas com que nos importamos ficar maior à medida em que ficamos mais velhos, mas simplesmente não daria certo ficar ‘Comércio com Justiça! Florestas tropicais! Livre de carbono! Eh… Ouça Radiohead!’”.

Ele está usando uma camiseta do Radiohead. “Sou um grande fã. Sou amigo de alguns caras do Radiohead, mas só por mensagem de texto. Eles sempre foram muito amáveis com a gente. É legal que exista camaradagem entre bandas, especialmente porque não tem muitas sobrando. Todo mundo quer ser melhor do que todo o resto do mundo, é claro, mas eles são amigáveis quanto a isso”.

O Coldplay ainda está com o intuito de ser o melhor: eles são obsessivos em relação à sua arte. Ainda que eles estejam em turnê e seus dias sejam repletos com tarefas de divulgação, eles ainda estão mexendo em Mylo Xyloto, um processo que eles iniciaram há quase dois anos, trabalhando de segunda a sexta em seu estúdio de gravação em Hampstead, The Bakery, e na Beehive, estúdio e local de ensaio. Para cada música que entrar no álbum, há provavelmente “12 que foram rejeitadas”, Martin diz. Enquanto conversamos, ele revela que ainda não decidiram quais 10 músicas incluir. Eles diminuíram a lista de possíveis candidatos em 16 músicas [já foi anunciado a tracklist do álbum, que contém 14 faixas].

Isso é uma turnê de rock, mas como vocês já devem ter percebido, não tem muito excesso rock’n’roll. E quando eles não estão trabalhando, eles estão em casa sendo pais: todos os companheiros de banda têm filhos pequenos; Berryman se separou amigavelmente da mãe de sua criança.

Recentemente, Paltrow fez comentários acerca de um falso rumor de que seu casamento estaria indo ladeira abaixo. “Às vezes, é difícil ficar ao lado de uma pessoa por muito tempo. Todos nós passamos por fases que não são totalmente agradáveis. Se, Deus o livre, um dia nós não fôssemos mais ficar juntos nunca mais, eu o respeito muito como pai dos meus filhos. Ele é um excelente pai. Você não pode nunca ser desleixada ou pretensiosa”. Ela disse ainda que uma esposa deve sempre estar alerta. Se Martin faz com que ela sempre fique alerta ou vice-versa, nós só podemos imaginar. No passado, ele abandonou uma entrevista ao ser forçado a responder perguntas sobre seu relacionamento. Ela, por sua vez, fica contente em dar desculpas de pela recusa dele em falar sobre ela, tendo falado recentemente à revista Elle que [Martin] “é um gênio da música. É como viver com Picasso. Ele faz música para seus fãs e não quer que as pessoas conjurem um casal famoso qualquer enquanto estão escutando suas músicas. Eu compreendo”.

Digo a Martin o quanto eu gostei da perfórmance de Paltrow como uma estrela country decadente no filme Country Song. Ela aproveitou a experiência dele como músico? “Acho que um pouco da minha e de muitos outros amigos”. Ele fica inquieto. Eu insisto. Quais partes ela aproveitou? “Nada específico. Olha, você sabe que eu não gosto de falar sobre isso”. Fim de papo. Apesar de Paltrow ser menos restrita sobre isso. Mais ou menos na mesma hora que Martin estava me dando um fora, Paltrow tuitou: “Quem eu tenho que pegar para conseguir uma cópia adiantada no novo álbum do Coldplay?” [Who do I have to bang to get an advance copy of the new Coldplay album?]

Martin é mais suscetível quanto à sua improvável amizade com o […] rapper Jay-Z e sua esposa, Beyoncé Knowles, a quem ele ajudou a convencer a tocar no Glastonbury esse ano (Beyoncé estava preocupada com a possibilidade de seu R&B glamuroso não ser bem recebido no festival, em que predomina o rock). Eles se conheceram em um evento beneficente em 2003. Jay-Z disse: “Nós nos identificamos um com o outro na hora e parecia que éramos melhores amigos automaticamente”.

“Quando você tem sorte o suficiente para passar algum tempo com o Jay, você aprende bastante com a serenidade dele lidando com um problema”, diz Martin. “É isso que eu mais amo nele: quando tem um problema, você simplesmente resolve ele. Ele não fica preocupado de uma maneira neurótica”.

Você é um cara que se preocupa muito? “Sou um neurótico completo! Mas acho que eu estou aprendendo a me preocupar com o que dá para fazer, ao invés de me preocupar com o que não dá”.

Algum integrante da banda precisa ser cuidadosamente conduzido para longe das várias tentações livremente disponíveis para as estrelas do rock? Champion – que é o mais extrovertido da banda depois de Martin – diz que não. “Obviamente, com todo o glamur envolvido no que fazemos, é muito fácil recair nesse tipo de comportamento”, ele admite. “Tocar ao vivo e um monte de coisa que nos cerca por estarmos em uma banda, são super-reais ­– são hiper-reais. É muito difícil sair do palco e não pensar ‘E agora? O que eu faço para manter essa sensação?’. Ou seja, é fácil ver por que as pessoas perseguem isso. Mas a gente se mantém na linha fazendo centenas de shows todos os anos. Não precisamos de outro tipo de coisa”.

Não que eles sejam santos. Na manhã depois da perfórmance televisiva e de uma sessão de gravação que durou até tarde, Champion e Buckland caíram na farra [?? ended upon the lash] com membros da banda Arctic Monkeys, que estavam hospedados no mesmo hotel. Os dois estão com olhos da cor de tijolo. Felizmente, a equipe de maquiagem tem colírio para consertar. É o dia anterior ao Fuji Rock e a banda vai passar a tarde sendo entrevistada em ainda outro grande quarto de hotel por uma procissão de equipes de TV japonesas.

Martin, líder do time, geralmente é o primeiro a responder. Apesar do ioga, ele continua com uma esfera de energia negativa. Sempre que ocorre uma pausa, ele inverte a situação. Os pincéis japoneses são feitos de bambu, ele pergunta depois de a banda ser convidada a experimentar caligrafia (Berryman aceita). As crianças daqui aprendem caligrafia na escola? Em seguida, eles são apresentados a fãs japoneses tradicionais. Martin não consegue resistir à piada óbvia: “Olha! Pelo menos, a gente tem quatro fãs no Japão!”.

[…] As entrevistas perduram por toda a tarde; a banda mostra sinais de cansaço somente no final, trocando as palavras e dando risinhos nervosos. Inevitavelmente, Martin assume o controle. “Tudo bem! Vamos fazer isso de novo!”, ele ladra. No entanto, ele nunca se perde em arrogância, não ri uma única vez com a pronúncia […] japonesa ‘Coldpray’. As coisas ficam sérias, quando, do nada, perguntam para Martin se ele tem uma mensagem para o Japão em vista do recente tsunami e terremoto. “Você quer que eu me dirija à nação?”, ele pergunta, incredulamente. Sem pressão. Mas ele conjura uma graciosa resposta, concluindo: “Se tem um lugar na Terra que consegue lidar com isso, esse lugar é o Japão”.

No dia seguinte, a banda e uma pequena comitiva, pegam o trem-bala de Tóquio para Naeba, lar do Fuji Rock. É uma tarde úmida, abafada e cinza. Há pouca conversa; cada um dos quatro se retira para seus próprios mundos particulares, cada um usando grandes fones de ouvido. Dois seguranças freqüentemente arrebanham fãs para longe deles enquanto esperamos por eles na plataforma. Para preservar sua voz, Martin, de capuz, não fala – ele se comunica escrevendo notas em seu iPad, o que faz com que ele pareça estranhamente infantil. Ou [uma criança com] necessidades especiais. O que foi, Chris? Ah, você quer água. Aqui está…

Enquanto as demais bandas do Fuji Rock estão amontoadas em pequenos camarins do tamanho de galpões de jardim, o Coldplay tem uma pequena vila. Tem um camarim, uma sala “silenciosa”, escritórios, uma exígua sala de ensaio cheia de instrumentos. Não que o ambiente seja glamuroso. Está seco, chovendo a cântaros e o telhado está cheio de goteiras. “Somos ingleses”, um membro da equipe dá de ombros, “estamos acostumados”.

Faltam menos de duas horas para a hora do show, mas não tem tempo para folgar. Ou beber. Ou causar. Ou ficar com medo. Ou qualquer coisa que não seja trabalho, trabalho, trabalho. Logo depois de o Coldplay se trocar e comer, ocorre mais uma rodada de entrevistas de TV, deixando apenas alguns minutos para o mais curto dos ensaios antes de ser varrido para a lateral do palco. Uma multidão de cerca de 50.000 pessoas aguarda. Pronto para a ação, Chris? “Mais do que nunca”, ele diz, tão calmo como se ele estivesse passado a última hora saudando o sol. É estranho. Esse é o mais relaxado que eu já o encontrei. “Dá para ver isso pelo nosso peso coletivo – nunca pesamos tão pouco. Lutar contra o peso, essa é que é a sensação. Além disso, para todas as pessoas que gostam de você, você quer que elas se sintam recompensadas”.

Nos bastidores, adrenalina os perspassando, a banda se prepara sem dizer uma palavra, como atletas se preparando para uma corrida. Eles entram com a trilha sonora de De volta para o futuro, o filme favorito de Martin, para o delírio geral.

É um show espetacular. Martin rodopia no palco com seu violão, conseguindo, de alguma maneira, não tropeçar nos fios, antes de assumir sua posição no seu piano, decorado com graffiti; Buckland alterna como um mestre entre massivos riffs de guitarra as viciantes melodias que são a marca registrada do Coldplay; os riffs de baixo de Berryman são imaculadamente funky; Champion golpeia sua bateria com a força de um trator monumental.

Duas vezes, eles vacilam no estilo Glastonbury – primeiro, quando Martin, acidentalmente ou por estar com vontade, muda de repente a ordem das músicas a serem tocadas. O público não sabe de nada, mas, nos bastidores, está um pandemônio: a equipe tenta descobrir quais instrumentos devem trazer em seguida (só Buckland possui um arsenal de 12 guitarras). Depois, durante o blecaute entre músicas, um contra-regra se apressa em entregar um microfone para Martin, mas acaba o derrubando. Martin se desdobra no palco para pegá-lo e até consegue um tempo para dizer ‘tudo bem’ para o pobre ser humano antes de girar o rosto para a multidão enquanto as luzes se acendem. Chris Martin é um egomaníaco? Não é o que pareceu nessa situação.

Os hinos edificantes, envolventes e amenizantes do Coldplay foram feitas sob medida para ocasiões como essa. Há faixas de luzes coloridas, lasers, explosões de confete, fogos de artifício. Garotas japonesas na primeira fila balançam bandeiras do Reino Unido, um lembrete para o calejada e cínica Grã Bretanha que o Coldplay tem características celebradas ao redor de todo o mundo. E que nós poderíamos nos beneficiar dele.

Scans: um | dois | três | quatro | cinco | seis | sete
Agradecimentos: busybeeburns, via Coldplaying

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