Billboard – O retorno do Coldplay

13 agosto, 2011

Leia abaixo (a postagem continua em ‘leia mais’) uma extensa e interessante matéria que a revista Billboard fez com o Coldplay acerca do próximo álbum da banda, Mylo Xyloto.

Ele oferece uma Perrier [água engarrafada francesa]. Em seu camarim, antes de um show na Los Angeles Tennis Center, localizada no câmpus da UCLA, Chris Martin, do Coldplay, se porta de modo educado e cativante, não mostrando sinais de que ele e seus companheiros de banda estão enfrentando uma pressão descomunal durante a meticulosa conclusão do próximo álbum do Coldplay.

Intitulado Mylo Xyloto e previsto para ser lançado em 24 de outubro mundialmente (exceto na América do Norte, onde o lançamento ocorrerá em 25 de outubro) pela Capitol Records, o álbum será o quinto do Coldplay e virá em um momento decisivo para uma banda que está adentrando a sua segunda década. Este será o primeiro disco deles em três anos, e não apenas os leais fãs da banda estão sedentos por música nova, mas também o mercado em geral está em busca demais evidências de que Coldplay está de fato percorrendo uma trajetória ascendente na qualidade de mega-banda internacional com décadas de poder consistente…

Viva la Vida or Death and All His Friends (2008) estreou na primeira posição e vendeu 2,8 milhões de cópias nos Estados Unidos, segundo a Nielsen SoundScan, e a turnê de divulgação arrecadou mais de US$ 126 milhões, movimentando mais de 1,7 milhões de ingressos em 94 shows, de acordo com a Billboard Boxscore.

Embarcando em um novo ciclo, os ânimos, tais como expectativas, estão elevados. “Estamos juntos o tempo suficiente para eu saber como todo mundo está se sentindo e sentir que os outros estão animados me deixa animado”, diz Martin. “Eles parecem estar em ebulição. Acho que temos muito a provar para nós mesmos. Não tem porquê não perseguir isso”. Esta é verdadeiramente a hora da verdade para Martin, Jonny Buckland (guitarra), Guy Berryman (baixo) e Will Champion (bateria), à medida que a banda e sua equipe migram da apresentação das músicas escolhidas para festivais para o rigoroso aperfeiçoamento de seu próximo disco. Mas é claro que, antes de mais nada, eles precisam terminá-lo.

Nesta estonteante noite em Los Angeles, os integrantes do Coldplay estão completamente imersos no projeto ainda em consecução de mixagem da balada romântica “Us Against the World”. “Essa é para ficar”, diz Martin. Porém, o destino de outras canções que a banda compôs e gravou desde o Viva la Vida, incluindo as oito ouvidas pela Billboard antes do show, ainda estão na berlinda.

“A gente ainda não fez a seqüenciação, então, o objetivo é alcançar um ponto pacífico quando a gente terminar”, afirma Martin. “A esperança desse álbum é ficar livre de qualquer amarra musical. Isso é basicamento ensinamento do professor Brian Eno: ‘Vão para qualquer lugar. Desde que seja vocês, vocês podem ir para qualquer lugar'”.

É um álbum destinado a ser preenchido por atmoferas sonoras comoventes e ambiciosas, que, embora fiéis à sonoridade da banda, também forçam furiosamente as fronteiras e se esforçam para transmitir grandes temas; tudo isso em um mercado dominado por ‘singles’. Mylo Xyloto é um álbum conceitual em toda a sua essência. “Uma história… Mais ou menos, uma espécie de romance em um ambiente opressivo”, explica Martin, acrescentando que (a partir de agora), a ” história de amor” terá um final feliz a depender da seqüenciação.

O que este disco será ainda é uma coisa fluida, mas Buckland, reclinado em um banco do estádio, logo após a passagem de som, acredita – “espera” pode ser uma expressão melhor – que 90% está feito. Como ele vai ficar sabendo que está concluído? “Nós paramos de nos preocupar”, diz Buckland. “Eu ainda estou preocupando com quais músicas vão ser incluídas. A gente não está preocupado em termos ou não o número suficiente de músicas – estamos mais preocupados em termos músicas de mais e em quais a gente deve incluir”.

A banda já estreitou o campo de músicas na disputa, ou versões dessas músicas. “São as edições de edições de edições”, diz Buckland em relação ao estado atual do álbum. “É um processo violento de escrever muitas músicas, gravar muitas músicas, cada qual incluindo diferentes idéias. É por isso que a gente leva tanto tempo. A gente compõe 70 músicas para ficar com 10”.

Algumas músicas já são familiares para os fãs por terem aparecido em festivais e pelas prévias, incluindo a implacavelmente irascível faixa número 1, “Every Teardrop Is a Waterfall”; a radiante e sincopada “Charlie Brown” e “Minus Major”, um monstro ameaçador,trovejante e sinistro, com guitarras vigorosas, potentes (e raros) solos de Buckland e padrões musicais inquietos e movediços. Essas três músicas, juntamente com outras, como o corajoso hino “Paradise” (o primeiro single “propriamente dito” do álbum, a ser lançado em 12 de setembro), a expansiva, e com muito baixo “Up in Flames”; além do romance saliente de “Us Against the World” parecem destinados a aparecer em Mylo Xyloto. Mas uma outra faixa, a veloz “Hurts Like Heaven”, e particularmente o “Major Tom” – um exercício de “Moving to Mars” à la Sinatra – podem potencialmente (tragicamente?) acabar na lixeira.

De “Mars”, Buckland diz, “eu gosto”, antes de adicionar rapidamente, “Mas ela provavelmente não vai ser incluída. Foi apenas uma daquelas. Teve um período em que tudo funcionou, então parou um pouco, jogamos fora muitas idéias, juntamos elas, separamos, juntamos de novo. A gente sempre faz isso no começo… Esse som intimista. Aí, a gente pensou: ‘Onde a gente pode chegar com isso? O que a gente pode fazer?'”.

Esse é o jeito do Coldplay, onde a expectativa de vida de jóias sonoras é muito tênue. “É um processo de lançar tantas idéias quanto possível até finalmente chegar em uma ou talvez duas que você gosta e, mesmo assim, é um processo de edição “, Buckland diz. “Você continua tentando coisas novas até chegar em uma que seja mais consistente. A gente está mais cuidadoso do que nunca em relação a isso; a gente está mais rigoroso com as idéias uns dos outros”.

Assim, “Mars”, uma b-side em “Every Teardrop”, será provavelmente um prejuízo não-planejado. “No momento, tem mais ou menos quatro diferentes encarnações no repertório do álbum”, diz Martin. “Estou um pouco perdido hoje em relação a qual deixar de fora”. “Major Minus”, por outro lado, parece estar firme como uma parte integrante do conceito do álbum. “Eu não acho que a gente vai deixar essa de fora, porque a idéia é que ela seja uma espécie de faixa obscura e vilanesca”, diz Martin . “O cara mau. O vilão no James Bond, alguma coisa meio George Orwell. Essa música surgiu com a leitura de The Road [A Estrada], de Cormac McCarthy”.

Empresário de longa data da banda, Dave Holmes diz que tem havido muitos “debates internos” sobre o que incluir no álbum, o que é complicado pelo fato de que “eles não querem álbuns longos. Depois de X&Y, que eu acho que a impressão deles, olhando para trás, é que havia músicas demais. Agora, eles estão inflexíveis em relação a deixar os álbuns curtos”, Holmes diz, acrescentando que o disco provavelmente conterá 10 músicas. “Isso representa um problema para o pessoal do nosso grupo, porque todos nós temos nossas favoritas”. Todos concordam que o disco terá menos de 50 minutos, e Martin diz que eles concluirão 13 canções.

As expectativas são enormes. “Este álbum pode ser um definidor de carreira”, diz Holmes, um homem que não é dado a hipérboles. “Eles não ficaram contando com os sucessos do passado. Eles elevaram os padrões [They took it up a notch], eles se desafiaram e a música que eu ouvi não foi nada menos que espetacular e de outro nível. Eles fizeram um álbum que estão orgulhosos. Essa banda nunca é arrogante. Mas eles têm uma confiança discreta”.

Aí, Buckland acrescenta: “Estamos tão bons como jamais estivemos, no mínimo”.

O fato de que a banda testou muitas dessas canções em apresentações, um movimento estratégico de Holmes que é apoiado pela gravadora, parece estar ajudando no processo criativo. Na verdade, além de “Every Teardrop” e de um EP, “Every Teardrop Is a Waterfall”, que inclui “Major Minus” e “Mars”, várias músicas têm vazado através de perfórmances ao vivo em grandes festivais, como Glastonbury, no Reino Unido, o Fuji Rocks no Japão, o Splendor in the Grass, na Austrália, e o Lollapalooza, nos Estados Unidos.

“Eu acompanho um monte de outros álbuns e o como eles estão sendo compostos”, diz Holmes, “especialmente álbuns de rock e eu continuo vendo as pessoas fazendo a mesma coisa: seis semanas e, depois, lançar o álbum. Esse modelo está morto. Para álbuns de rock em particular, a abordagem precisa ser mais extensa, você tem que convidar as pessoas para a festa, trazer elas para dentro de casa. A mídia está tão fragmentada e tem muitos lugares onde você tem que animar as pessoas. Historicamente, você só tinha alguns ponto de escoagem”.

A configuração de Mylo Xyloto começou em junho para um lançamento em outubro. Muito incomum.”É mais arriscado quando você pega uma música e aposta todas as suas fichas trabalhando essa música”, Holmes diz. Ele compara o plano atual com um padrão japonês mercado fonográfico. “Você lança três singles e depois, o álbum, quase no final da campanha. O trabalho culmina com o álbum”. Holmes vê essa tendência acontecendo no Ocidente, especialmente no hip-hop, “O Kanye [West] e seu álbum do ano passado é o melhor exemplo. Três ou quatro músicas culminaram no lançamento do álbum. Isso aumenta os níveis de empolgação… Fica essa expectativa no ar”.

O “lançamento do lançamento” começou no festival Rock Im Park, em Nuremberg, na Alemanha, no início de junho: o Coldplay tocou seis músicas novas. “Isso foi algo que a banda realmente não queria fazer no início”, diz Holmes. “Mas eu disse: ‘A pior coisa que a gente podia fazer é sair e tocar os grandes sucessos. Vamos fazer uma corrida global de festivais e enxergar eles como shows gigantes. Vamos lá e dar uma grande perfórmance… Deixem a música falar, toquem músicas novas e façam com que as pessoas comentem o fato de vocês estarem tocando músicas novas. Mesmo se isso dividir as opiniões”.

A banda tocou música nova nesse verão, incluindo duas músicas hoje à noite, em uma apresentação beneficente para o Grammy, que foi transmitida no dia 3 de agosto, no Jimmy Kimmel Live!, mas os integrantes não têm falado sobre isso – até agora. “Estamos falando abertamente sobre o álbum só agora e já é agosto”, diz Holmes. “A gente não tem falado sobre data de lançamento, que tipo de álbum será. E isso é exatamente o que estava querendo. O burburinho é enorme. A divulgação de verdade só vai começar a sério agora, com esse evento e a capa da [Billboard]”.

O lançamento relativamente sem alarde de músicas, emparelhado com “a turnê agressiva, quase promocional da banda”, como o vice-presidente executivo de marketing da EMI, Greg Thompson, coloca, foi intencional. Mas, ao invés de simplesmente lançar essas músicas no éter, “você maximiza esse impacto chamando a atenção para a disponibilidade dessa música e se aproveita dela se espalhar pelo mundo viralmente”, Thompson diz.

Embora pareça um negócio arriscado, como as novas músicas estão prolíficas no YouTube e em outros lugares, a recompensa é global. “Há prós e contras nas coisas na vida e um dos prós do mundo em que vivemos com a Internete é que o mundo ficou muito pequeno, por isso, se a banda escolhe tocar uma música nova em no Japão ou na Alemanha, ela pode rodar o mundo muito rápido “, diz Thompson.

“A banda tem uma grande comunidade de fãs leais e alimentar esses fãs por meio de oportunidades virais e também por meio de parceiros tradicionais, como canais de rádio e vídeo, a imprensa e a edição de alguns vídeos para dar vida a essas músicas, tudo isso se acrescenta a dar às pessoas bastante acesso a uma banda que poderia ter certeza de que sempre teria público garantido. Mas eles escolheram assumir essa outra direção, distribuir realmente muita música e, assim, se certificar de onde estão chegando”.

Miles Leonard, presidente da Parlophone, a gravadora local do Coldplay (ele foi fundamental por ter assinado um contrato com o Coldplay em 1999, quando era diretor do setor de arte [A&R] da gravadora), acredita que a abordagem se adequa à banda. “Alguns artistas ou gravadoras se retraem e não permitem que músicas inéditas sejam tocadas ao vivo… A gente enxergou isso como uma maneira brilhante de aumentar a animação”, diz Leonard. “Para nossa vantagem, em outubro, os fãs vão estar familiriazados com as músicas porque eles foram nos shows ou ouviram elas online. Estamos empolgados em relação às pessoas ouvirem mais que um single antes de adquirirem um álbum”.

Faca de dois gumes: os membros da banda estão prontos para tocar essas músicas na frente de milhões? Leonard acredita que sim e vídeos dos shows confirmam. “Mesmo que a gente ainda esteja mixando algumas dessas músicas, eles ensaiaram bastante e, obviamente, foram eles que gravaram a música”, diz ele. “Eles queriam dizer: ‘Olha, é isso que a gente tem feito. Esperamos que vocês gostem”. Você tem que abraçar essas situações e não se afastar delas”.

No final, a banda parece ter se beneficiado. “Tem sido brilhante; a melhor coisa que a gente poderia ter feito”, diz Buckland. “Nessa época de YouTube e disponibilidade instantânea, é terrível, porque qualquer erro que você cometer ou qualquer idéia ruim que você tiver, vai ficar registrado para sempre. Mas isso também fez a gente tomar decisões e fez a gente se sentir diferente sem relação a algumas músicas”. Então, de certa forma, reação dos fãs, juntamente com a viabilidade da música no palco, afetou o percurso do álbum: “O jeito da gente mixar ele”, Buckland diz, “como a gente sente onde cada faixa vai e quais faixas devem estar no disco”.

Trabalhar sem proteção, porém, tem seus desafios, como o desempenho monumental da banda no Glastonbury, quando a primeira execução de “Us Against the World” vacilou na frente das massas do Glasto e de outros milhões de telespectadores. A banda tentou novamente de maneira bem-humorada, proporcionando um momento especial em uma perfórmance cheia deles. “Temos uma regra”, diz Martin, rindo e balançando a cabeça, “uma ca***a é graciosa, mas mais do que isso é não ser profissional”.

Grandes planos

Se a composição final da Mylo Xyloto ainda está em fluxo, no momento, o plano é consistente ao nível macro. “Essa é minha parte favorita”, diz Holmes. “Dar forma e procurar por oportunidades, avaliando o que vamos fazer, como e quando devemos fazer”.

“Paradise” estará disponível no iTunes a partir do dia 12 de setembro. O lançamento em 24 outubro será seguido por uma turnê mundial prevista para começar no próximo abril (a banda vai realizar primeiro uma breve turnê por arenas do Reino Unido e Europa, em dezembro). Os ingressos começarão a ser vendidos pouco depois do lançamento do álbum.

“Historicamente, eu faria com que a turnê começasse cerca de quatro semanas após o lançamento do álbum”, diz Holmes. “Dessa vez, é mais uma campanha de divulgação. A próxima temporada será toda dedicada à televisão e promoção nessa linha. É uma abordagem diferente para gente”. Uma ampla gama de aparições na TV estão nos planos; algumas surpresas vão não apenas cativar ainda mais os fãs de longa data, mas também provavelmente criar novos.

Colocar ingressos à venda perto do lançamento do álbum é uma tática que Holmes tem empregado com sucesso. “É um risco que tomei no início porque a gente não é aquele tipo de banda que tem que lançar dois singles antes de começar uma turnê”, ele diz. “O cara que comprou o álbum provavelmente vai comprar ingresso, então, é melhor fazer com que tudo isso possa ocorrer ao mesmo tempo”. Holmes acrescenta que ele “nunca assumiu grandes riscos” quanto à organização de turnês, costumando ser conservador em relação ao tamanho da casa de espetáculo e ao preço dos ingressos, especialmente nesse último quesito. “Se outras pessoas estivessem representando o Coldplay, eles teriam forçado ingressos muito mais caros”, diz Holmes. “Nunca passamos dos $100. O ingresso mais caro costuma ser $90. A nossa média é mais ou menos $65”.

Dessa vez, o Coldplay também não vai ultrapassar a marca dos $100. “A gente poderia facilmente chegar a $ 125 por ingresso e eu não acho que nossos fãs ficariam muito ofendidos com isso”, diz Holmes. “Mas algo acontece quando você atinge esse patamar. Você se torna uma ‘dessas bandas’. Eu não quero isso. Não é uma questão de dinheiro; é uma questão de, daqui a 20 anos, você poder continuar fazendo esse trabalho”.

Como tal, embora ele provavelmente vá estar trabalhar com eles, Holmes não aceitará uma oferta de turnê mundial da Live Nation ou da AEG Live. “Eu nunca senti a necessidade de fazer um acordo com uma empresa de turnê, porque eu não estou procurando um grande pagamento”, diz ele. “Eu não vou chegar neles e dizer: ‘Eu quero $200 milhões para fazer a coisa funcionar’ porque os preços dos ingressos vão parar na estratosfera. É assim que você faz a coisa funcionar”.

Se tudo correr como planejado, a turnê mundial começará na próxima primavera até o final do verão de 2013. A banda vai primeiro ir e voltar na América do Norte e na Europa e depois vai tocar na América Latina e na Austrália. Uma novidade para a banda fará uma viagem mais extensa pela Europa Oriental, tocando em mercados novos, como Finlândia e Rússia. Dois shows em estádios para outubro de 2011 em Joanesburgo já estão esgotados.

Em 2012, o Coldplay vai tocar em arenas, estádios e festivais, e vai se aventurar mais em estádios na América do Norte, mais do que jamais se aventurou no passado, de acordo com Holmes. O gerente está todo cuidados nas negociações com promotores. “Eu fiz muitos trabalhos com a Live Nation e eu gosto AEG e o Simon Moran será sempre o nosso cara no Reino Unido”, diz ele. “O Simon é alguém que eu e o Coldplay, a gente considera como um parceiro. Eu confio nos instintos dele. Para a gente, ele é muito mais que um promotor.”

Do Coldplay para o mundo

O lançamento de Mylo Xyloto é reflexo tanto da popularidade global da banda como da situação atual do mercado. “Vivemos em um mundo em que uma pessoa vai querer o novo álbum do Coldplay simultaneamente a todas as outras, independente da localização no mundo”, diz Thompsom, da EMI. “Tem esse fator de ‘gratificação imediata’. Você tem que atender todo mundo ao mesmo tempo”.

Mas o lançamento tem seus desafios, o maior dos quais é: “Você não pode estar fisicamente em todos os lugares no dia do lançamento, é por isso que esta divulgação antecipada é vital no aquecimento da comunidade de fãs”, diz Thompson. “O Coldplay decidiu encarar esse trabalho de frente”.

O álbum será lançado nos formatos digital, CD e vinil. As 25 mil edições em vinil incluirão um pôster de de 30x90cm [12×36 polegadas]. Uma edição limitada pop-up estará disponível: um livro com grafite pop-up desenhado por David A. Carter, vinil e CD, bem como fotografias e relatos em formato de diário.

Com cerca de três meses até a data de lançamento, Thompson diz que aspectos ainda estão sendo fechados. “Eu não posso falar sobre isso, exceto para dizer que estamos tentando criar uma grande parceria com todos os fornecedores com que fazemos negócios”, diz ele. “A gente fez o Festival iTunes em Londres como parte da corrida até a data de lançamento ao lado do iTunes e do cliente do iTunes. Vocês vão ver coisas parecidas feitas junto às lojas físicas em todo o mundo e de maneiras diferentes”.

Thompson diz que o álbum vai ser emitido em formato físico e digital para todos os parceiros e há discussões sobre algum tipo de edição de luxo. Nesse quesito, não estão confirmadas vendas exclusivas com algum parceiro. “Estamos tentando evitar isso”, diz Thompson. “Porque esta é uma banda mundial e que é uma espécie de caixa de Pandora”. Quando o Coldplay tocou no iTunes Festival, em julho, a banda foi colocada como destaque nas lojas do iTunes ao redor do globo. Isso levou a um aumento significativo das vendas do single e do EP no iTunes, a mais recente vitória do que tem sido uma parceria frutífera para ambos.

“Quando os departamentos de novas mídias começaram a ser constituídos nos escritórios das gravadoras, no início de 2000, e o cara desse departamento era o nerde que ninguém dava ouvidos nas reuniões de marketing, eu quis conhecer esse nerde a fundo e, assim, comecei a construir as minhas relações com empresas como o iTunes”, diz Holmes. “Eu sabia onde isso estava chegando. Muito cedo, eu inseri a banda no iTunes. A gente criou uma parceria verdadeiramente única com o setor de vendas e eu diria que a gente tem o mesmo tipo de relação com o Walmart, o Starbucks e a Amazon. Com o iTunes, em especial, por a nossa parceria ser tão bem sucedida para eles, eles tendem a exceder as expectativas”.

A destacada faixa “Every Teardrop” está fazendo barulho em diferentes veículos, incluindo triple A [Adult Album Alternative, programação de rádio voltada para público adulto], modern rock [denominação referente à programação de rádios que tocam faixas de diferentes vertentes do rock] e Adult Top 40 [ranking da Billboard com as músicas mais tocadas entre o público adulto a cada semana]. “A presença da música é constante nas paradas das 40 mais pedidas, e essa faixa já está nos rankings mundiais de grandes rádios, como a Z100 de Nova Iorque e a Kiss-FM de Los Angeles”, diz Thompson. “Isso atesta sem dúvida o apelo massivo da música, da banda e de como as rádios reagem a um lançamento do Coldplay”.

Apesar de a forma definitiva do álbum ainda estar sendo determinada, “há uma coerência nele”, diz Holmes. “As pessoas vão descobrir que  tudo isso faz sentido, que todas as partes estão coesas, como sempre”.

O clipe engenhoso e cheio de graffiti de “Every Teardrop” é uma dica dos rumos que os aspectos visuais de Mylo Xyloto estão assumindo. “Para o Coldplay, é o mais indie que eles podem parecer nessa fase”, diz Holmes. “Não foi um clipe de orçamento astronômico. Era adequado para a música e para o lugar que estamos no projeto e você verá que o graffiti é uma espécie de prévia para o que está por vir na arte gráfica e tudo o mais”.

Ao contrário de muitos empresários, Holmes tem a palavra no aspecto artístico. “Eu não quero me envolver na fase de gravação de demos ou no estágio de pré-produção, onde eu peso é quando estamos mais perto da mixagem, que é quando eles querem minha opinião também”, diz ele. “É nesse momento que eu vou dizer: ‘Esse verso, não sei, Chris’. Esse é o tipo de relacionamento que a gente tem. Eu sei que posso ser honesto e direto. Ele sabe que eu não sou o empresário que vive com medo de ser demitido se disser a coisa errada. Eu simplesmente falo.”

O álbum foi produzido por Markus Dravs, Daniel Green e Rik Simpson, com Eno sendo responsável pela “enoxificação” (termo da banda por seu papel no estúdio) e por composições adicionais. Ele foi gravado nos estúdios da banda em Londres, a Beehive e a Bakery. Se, conceitualmente, Mylo é sobre um romance em uma sociedade pós-apocalíptica, em termos de sonoridade, “Acho que a idéia era deixar o aspecto musical sem amarras”, diz Buckland. “Percussão mais intensa, guitarras mais intensas, mais contraste. E também quisemos visitar os momentos mais íntimos e depois voltar para os momentos mais grandiosos que já tivemos”.

Martin acredita que o álbum é uma representação da banda como um todo, não apenas do vocalista. “Eu tenho a impressão que as partes centrais estão bem divididas, mais equilibradas do que nunca, o que é uma coisa boa”, diz ele. “Depois de cinco álbuns, todo mundo que gosta de Coldplay, ou que não gosta de Coldplay está meio que acostumado com o vocalista, então o desafio é tentar manter o interesse do ouvinte. Quando alguém está no primeiro álbum, todo mundo está muito animado pelo som da sua voz, quer se trate da Amy Winehouse, da Adele ou do Bono ou quem quer que seja; é sempre uma voz nova. Quando é o quinto álbum, todo mundo meio que toma isso de barato”.

A gênese do disco começou com duas visões musicais distintas, de acordo com Buckland. “A gente tinha a idéia de fazer um álbum mais intimista, acústico ou de fazer um álbum eletrizante e sem arreios [electric and wild]“, diz ele. “Mas todo mundo meio que ficou com a segunda opção. E, depois, algumas coisas mais acústicas acabaram penetrando de alguma forma. A gente ainda quer esses momentos em que dá para ouvir alguém passando os dedos pelas cordas, a respiração das pessoas, em que dá para ouvir o pedal do piano sendo pressionado”.

O processo de gravação de Mylo Xyloto foi diferente dos projetos anteriores, mas  “apenas no sentido que tentamos não sentir medo”, diz Martin. “A gente aceita agora que tudo o que a gente fizer vai incitar um certo grau de negatividade, então, ao invés de permitir que isso nos reprimisse, dessa vez, a gente ficou ‘Legal, dane-se. Vamos nos ater às nossas idéias'”.

Martin destaca que a ascensão do Coldplay ocorreu ao mesmo tempo que a da Internete, onde as opiniões, muitas vezes negativas, proliferam. “No início, era ‘Que diabos é isso? Milhares de pessoas que odeiam você'”, diz ele. “Mas você acaba esquecendo as pessoas que realmente gostam do que você faz. Assim, a combinação entre superar essa preocupação e trabalhar com Brian Eno e Markus Dravs, pessoas familiares fez a gente achar que deveríamos simplesmente fazer o que sentíssemos ter que fazer; a preocupação com o que as pessoas vão achar, a gente deixou para depois”.

Apesar de não ser um “álbum guitarrístico” em qualquer medida, o novo álbum realmente revela Buckland de maneiras únicas e sua presença é sentida em Mylo Xyloto provavelmente mais do que qualquer álbum. “Ele é uma pessoa muito tímida”, diz Martin em relação a Buckland. “Eu fico rindo comigo de quantos momentos ele tem [no novo disco]. A gente deliberadamente manteve todos eles”.

Martin diz que, quando a banda terminou Viva la Vida, “cada um da banda estava bem contente consigo mesmo quando o álbum estava no número 1 ou coisa assim”. Mas ele diz que uma carta de Eno colocou as coisas em perspectiva. “Ele disse: ‘Caro Coldplay, eu de fato acho que fizemos um bom álbum. Mas eu realmente penso que podemos fazer muito melhor e sinto que todos nós precisamos voltar ao trabalho o mais rápido possível porque sinto que o Jonny está no caminho de algo especial, mas ele não chegou lá ainda. “E a gente ficou “Po**a , mano’. Isso foi uma semana depois do disco ser lançado. Então a gente aceitou o desafio e eu me sinto muito orgulhoso do Jonny. Ele se esforçou muito”.

Buckland é conhecidamente discreto em relação ao seu trabalho com a guitarra. “Eu acho que eu fiquei um pouco mais confiante”, diz ele. “Alguns anos atrás, eu tive tendinite no pulso, então eu fiquei vidrado em tocar coisas simples e que eu poderia acompanhar. Fiz uma operação e eu agora eu posso tocar um pouco mais”.

Perguntado sobre como ele sabe que um álbum está concluído, Martin diz: “Quando é tirado do nosso alcance, involuntariamente. Toda vez, a gente acha que vai estar pronto em duas semanas e, toda vez, isso está correto até o último minuto. A gente sabe que quer que o álbum seja lançado em outubro, por isso, sempre que isso for possível até o último minuto, o álbum vai estar pronto quando estiver pronto. Acho muito difícil entregar um álbum.”

Isso não é um exagero, diz Holmes. “Nossa data de entrega é 9 de setembro e eles vão estar no estúdio até meia-noite de 8 de setembro”.

A próxima fase

“Eles têm a capacidade de superar o sucesso que tiveram e isso levando em consideração a baixa no mercado”, diz Leonard, da Parlophone. “Eles realmente fizeram um álbum único e especial”.

Martin não fará uma previsão do que o futuro reserva para o Coldplay. “Eu sempre sinto que cada álbum é o nosso último, mas, nesse momento, estou na fase em que tenho realmente a intenção de dizer isso”, diz ele. “Eu simplesmente não consigo imaginar como faríamos um outro, porque demos tudo nesse. Quando ele estiver finalizado, o que, com sorte, acontecerá em breve – precisa ser ­–, não será mais acrescentar mais nenhum esforço, o que, acho eu, é a única coisa que a gente pode mesmo fazer”.

Questionado se, em dois anos, ele vai sentir vontade de embarcar em todo esse processo novamente, Martin diz: “Eu não sei. Mas eu nunca sei. Eu acho que seria ruim se eu ficasse, ‘Aham, a gente tem 15 músicas na manga’. “Não me sobrou mais nada. No momento, me sinto orgulhoso da nossa banda. Estamos muito agradecidos e motivados. Quanto tempo isso vai durar, eu não sei. Eu não sei quanto tempo você pode manter esse tipo de foco”.

E as pressões que Martin sente na criação de um novo disco não são comerciais, ou mesmo artísticas. “A resposta honesta é que quero que quem gasta dinheiro com a gente realmente fique satisfeito com sua compra”, diz ele. “Você quer falar honestamente? Como eu realmente sinto é que o que fizemos tudo por nós mesmos. Não foi para vender milhões, não foi para dar uma resposta para os críticos. Foi para, se você estiver em uma loja e você comprar nosso álbum ou um ingresso – como um bom sanduíche –, que você fique ‘Isso é bom!’. A questão toda é essa. Eu olho para os meus heróis tanto em seus discos como na vida real e vejo que as pessoas que mais gosto estão é trabalhando por seus públicos. O Bruce [Springsteen] é o exemplo número 1. Eu não sou do tipo ‘A gente está fazendo isso e, se vocês gostarem, legal’. Eu não assino esse tipo de afirmação”.

Fonte: Billboard | Agradecimentos: Coldplaying
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