Clicando no link a seguir, confira trechos de entrevistas em que Brian Eno faz observações acerca de seu trabalho com outros músicos. Eno não faz muitas menções diretas de seu trabalho com o Coldplay, mas deixa entrever um pouco da sua posição em um estúdio. O músico produziu Viva La Vida Or Death And All His Friends e também está trabalhando no quinto álbum da banda.
Pitchfork (novembro de 2009)
Você teve de enfrentar muita suspeita e ira ao trabalhar com o Coldplay.
Há várias maneiras de apostar no que já está garantido, o que para mim, seria – já que, sinceramente, dinheiro não é o meu problema – trabalhar com alguma banda indie desconhecida e aclamada pela crítica. Todo mundo ficaria ‘Ah, legal’. Eu poderia ser esse tipo de produtor, um produtor que faz esse tipo de coisa. Mas quando falei com o Coldplay pela primeira vez e fui os conhecendo pouco a pouco, passei a gostar muito deles e a achar que eles sinceramente querem fazer algo. Também foi assim com o U2. Eles estão ávidos em ir além. E eles vão. Tenho certeza de que eles serão uma grande banda.
Quando você está trabalhando com bandas como U2 e Coldplay, em teoria, elas podem fazer o que bem entenderem. Eles são populares, ricos… Isso deveria garantir liberdade total a eles. No entanto, há limitações claras no estrelato.
É verdade, mas, por incrível que pareça, isso não tem lá um efeito muito grande no estúdio. O que eu acho que produz um grande efeito é a vontade de não querer desapontar as pessoas, já que, se há uma coisa que você tem consciência quando você é muito popular é a confiança que as pessoas depositam no seu trabalho. Você sabe que tem crianças de 11 anos guardando dinheiro para comprar o seu álbum (risos) – mas acho que esse não é mais o caso.
Agradecimentos: Coldplaying
Factmag (novembro de 2010)
O legal de trabalhar com um grupo de pessoas é que elas fazem coisas que você não faria. Para começo de conversa, elas não têm as mesmas preferências que você, então, ou você acaba rejeitando [as idéias delas] ou as abraça. Sério, um grupo é como um feixe de escolhas aleatórias. É por isso que pessoas que estão juntas há muito tempo não se surpreendem mais – elas sabem os passos umas das outras. É por isso que me dão emprego: eu sou o cara que aciona o dispositivo de escolhas aleatórias, eu sou o cara que adiciona um elemento inesperado ao padrão. O Leo é um músico que eu conheci há cerca de 12 anos. Costumava ter uma loja em Notting Hill Gate [Inglaterra], onde você podia vender equipamento musical de segunda mão e onde sempre tinha gente tocando Stairway to Heaven e afins. Um dia, eu fui lá e uma pessoa que estava com um incrível ar de paz estava tocando o que parecia ser o mais belo e discreto violão. E isso é uma baita revolução em uma loja de música, uma pessoa tocando quase sileciosamente.
Então, eu fiquei lá por um tempo, só escutando, e pensei: ‘adoro o jeito que ele está tocando’. Depois, fui até ele e perguntei ‘talvez, você pudesse me dar o seu número. Pode ser que eu precise de um violão…’. Por seis meses, eu não precisei. Mas, depois, liguei para ele e ele veio. Naquela manhã, eu estava tentando compor uma melodia com o violão. Mas, sabe, eu não consigo tocar violão. Como eu sempre afino o violão de um jeito estranho, uso um open chord. Mas, naquela manhã eu afinei de um jeito ainda mais estranho; eu havia mudado duas cordas. Então, perguntei para ele: ‘você não quer acompanhar essa melodia aqui?’. Depois, ele pegou o violão – que estava afinado desse jeito esquisito – e simplesmente tocou o violão! Sem nem ao menos reafiná-lo. E ele tocou tudo direitinho. Pensei comigo: Uau! Impressionante!’. Mais tarde, eu conversei com ele e perguntei se ele conhecia aquele jeito de afinar o violão. ‘Não. Foi muito difícil’. Quando eu perguntei por que, então, ele não tinha reafinado o violão, ele disse ‘Caramba! Mas eu achei que era um teste!’. De qualquer maneira, eu fiquei impressionado com o simples fato de ele ser um músico com muito bom gosto e que está muito interessado em diferentes sonoridades. É nisso que estou interessado hoje em dia: não apenas em notas e em acordes, mas na criação de novos universos musicais. Às, vezes, ele toca violão e nem parece violão… Parece mais blocos de gelo gigantes se quebrando ou orquestras monumentais tocando seus instrumentos em alto e bom som.
Enfim, um dia estávamos trabalhando juntos e eu perguntei se ele conhecia algum tecladista, porque eu estava precisando de um. Ele respondeu: ‘Bom, eu estudei com um cara chamado Jon Hopkins. O Jon Hopkins então se juntou a nós. Ele é outro gênio da música e seu trabalho é realmente fascinante. Eu achei que seria interessante que o Jon trabalhasse no álbum do Coldplay, no último álbum deles. Um dia, eu o levei para trabalhar com eles. O Chris compõe músicas com vários acordes difíceis. Ele sempre toca com os dez dedos. Na verdade, uma coisa que eu sempre falo para ele é ‘Por favor, não toque com a sua mão esquerda’. Ou eu o forço a tocar com luvas, para que ele não toque tantas notas assim!
Um dia, o Chris estava trabalhando em uma música – uma com vários desses acordes difíceis – e ele disse para o Jon: ‘Não sei que acordes são esses. Será que eu não deveria passar isso por escrito para você?’. O Jon respondeu ‘Não, tudo bem, eu entendi’ e simplesmente tocou a seqüência igualzinho. Foi inacreditável. O Chris até perguntou ‘Você consegue fazer isso com qualquer acorde?’.
Foi assim: tinha dois teclados na sala e um vidro de isolamento entre eles para que o Jon não visse o que o Chris estava tocando. O Chris estava tentando acordes bem esquisitos, mas o Jon sempre falava conseguia saber o que era. Ele tem um ouvido muito interessante; ele é um músico extraordinário. […]
Agradecimentos: Coldplaying