Portal neozelandês conversa com Will e Guy

26 novembro, 2008

O FaceCulture conversou com o baterista Will Champion e o baixista Guy Berryman, durante a sua passagem por Roterdã, Holanda, ao final de sua turnê européia: Confira aqui a transcrição/tradução do diálogo.

Trilogia, falsete, revolução no próprio som, Brian Eno, Viva La Vida

ENTREVISTADOR: Os álbuns anteriores foram referidos como uma trilogia. Vocês poderiam explicar qual foi o papel de cada nesse conjunto? O Parachutes, por exemplo.
WILL: Acho que é difícil… Nós não poderíamos conceber… Nós não começamos a compor esses álbuns já tendo em mente que eles formariam uma trilogia; só é possível designá-la assim quando se volta o olhar para o passado, de modo retrospectivo. Dessa forma… Eu não sei, creio que sejam apenas três partes; não houve maiores planejamento nesse sentido. Elas são simplesmente do jeito como as compusemos em um determinado momento. Acredito que essa história de trilogia está mais relacionada a um ímpeto de estabelecer um início e um fim a esses três álbuns do que uma maneira de pintá-los com as cores um plano grandioso; é mais uma mensagem para mostrar onde é o fim de uma coisa e o começo de outra.
GUY: Com sorte, conseguimos passar a idéia de que estamos começando algo novo e que tivemos de deixar para trás os conceitos e técnicas que usamos no três primeiros álbuns para, de certo modo, começar essa revolução, começar algo novo.

ENTREVISTADOR: Vocês têm algum exemplo de macete usado nessa trilogia de que vocês decidiram não mais lançar mão?
WILL: Acho que o mais importante foi o Chris não mais usar muito falsete no novo disco, o que eu vejo como uma decisão consciente de… Porque eu acho que isso era uma espécie de marca registrada da nossa banda. Ele tentou deliberadamente expandir o modo como explorava sua voz.
ENTREVISTADOR: Mas vocês conversaram sobre isso?
WILL: Aham, com certeza. E ele estava muito certo de que não queria usar muito esse recurso. Definitivamente.
ENTREVISTADOR: Há alguma outra coisa que vocês discutiram antes de…
GUY: Nós só tentamos romper com as convenções. Em algumas músicas, tentamos não seguir a estrutura tradicional verso-refrão; em outras, mesclamos estilos diferentes. Foi pura e simplesmente tentar não fazer nada convencional. Acho que nos primeiros três álbuns, trilhamos caminhos já percorridos muitas inúmeras vezes, neles, então recorremos à ajuda de Brian para buscar um novo território.

ENTREVISTADOR: Dizem que algumas faixas desse álbum resultaram da combinação de duas ou três outras canções ou sessões diferentes, correto? Tem algum exemplo disso?
GUY: Sim. Duas que me vêm à mente são 42, uma música composta por três partes bastante distintas que foram colocadas juntas, além de Death And All His Friends. São dois exemplos bons disso.
WILL: 42 foi concebida como uma música composta por três partes, mas Death And All His Friends era uma música que, originalmente, tinha duas partes apenas. Porém, logo no começo, tínhamos uma música que era intitulada School e decidimos adicioná-la [a essas duas partes]. Às vezes acontece de você realmente planejar que uma música terá essas três partes; em outras, só te ocorre de fazer a fusão depois.

Violet Hill, velhas idéias convertidas em músicas, gravações com celulares

ENTREVISTADOR: Vocês têm algumas parcelas que vocês compuseram e pensaram “Bom, podemos usar isso mais tarde”?
WILL: Há muitas idéias pairando sobre nós, com certeza.
ENTREVISTADOR: Todas as músicas desse novo álbum foram escritas durante esses dois anos de trabalho ou há alguma gravada…
GUY: Bom, na verdade, Violet Hill faz parte da primeira música composta pelo Coldplay. Foi a primeiríssima música que Chris e Jonny tocaram para mim.
ENTREVISTADOR: E o que você achou dela?
GUY: Eu adorei. E é interessante porque algumas partes de Violet Hill têm onze ou doze anos.
ENTREVISTADOR: E por que ela nunca foi usada em nenhum dos três primeiros álbuns?
WILL: Acho que não era a hora certa ainda; ela não se enquadrava neles, por isso teve de ficar esperando um pouquinho.
ENTREVISTADOR: E vocês poderiam dizer por que ela se encaixa melhor nesse álbum?
GUY: É só que… Depende de… Foi só uma idéia que evoluiu até chegar em Violet Hill… Às vezes, é possível debruçar-se sobre um trabalho e conseguir vislumbrar seu final, mas, em outras, ela parece não funcionar, como um quebra-cabeça. Isso aconteceu com muitas músicas: tentamos trabalhar em algumas, mas não alcançamos resultados, até que, um dia, você tenta alguma coisa e dá certo. Nunca se sabe quando isso vai acontecer.

ENTREVISTADOR: E como vocês procedem? Vocês têm essas idéias durante ensaios e apresentações ou vocês vão para casa e conversam sobre músicas e sobre combinações […]?
WILL: Na verdade, isso está nas nossas mentes. Pode ocorrer de alguns trechos terem sido gravados com um celular ou, então, alguém tem alguma idéia repentinamente. Chris tem o hábito de fazer gravações com o celular dele. Nós temos alguns aparelhinhos para fazer isso. Porém, geralmente, recorremos mesmo à nossa memória.

ENTREVISTADOR: Se vocês procedessem a uma análise de seu trabalho, vocês diriam que ele foi mudando de álbum para álbum?
WILL: Eu diria que nosso trabalho certamente foi se fortalecendo, já que passamos grandes intervalos tocando. Diria também que houve uma melhora no que diz respeito ao ritmo. Um dos aspectos mais marcantes dos nossos álbuns é a melodia. Anteriormente, apenas acompanhávamos as melodias, mas hoje, elas estão muito mais enriquecidas, deixaram de ser mero plano de fundo. Falando de ritmo, eu afirmaria que há muito mais coisa em jogo hoje.

1º álbum, evolução na composição de músicas, energia da perfórmance ao vivo, setlist, músicas ao vivo preferidas

ENTREVISTADOR: Seria correto afirmar que os primeiros álbuns eram baseados nas letras […] e que o último tem maior enfoque no ritmo e na melodia?
GUY: Acho que no primeiro álbum […] sobrou espaço para qualquer aspecto rítmico tomar lugar. Logo cedo, porém, percebemos o quão a turnê é importante para uma banda e, após o primeiro álbum, começamos a compor músicas tendo em mente a energia do palco. Esse é um padrão que foi seguido em todo álbum. Nos tornamos músicos melhores e
ENTREVISTADOR: Todas as músicas desse novo álbum foram escritas durante esses dois anos de trabalho ou há alguma gravada…
GUY: Bom, na verdade, Violet Hill faz parte da primeira música composta pelo Coldplay. Foi a primeiríssima música que Chris e Jonny tocaram para mim.
ENTREVISTADOR: E o que você achou dela?
GUY: Eu adorei. E é interessante porque algumas partes de Violet Hill têm onze ou doze anos.
ENTREVISTADOR: E por que ela nunca foi usada em nenhum dos três primeiros álbuns?
WILL: Acho que não era a hora certa ainda; ela não se enquadrava neles, por isso teve de ficar esperando um pouquinho.
ENTREVISTADOR: E vocês poderiam dizer por que ela se encaixa melhor nesse álbum?
GUY: É só que… Depende de… Foi só uma idéia que evoluiu até chegar em Violet Hill… Às vezes, é possível debruçar-se sobre um trabalho e conseguir vislumbrar seu final, mas, em outras, ela parece não funcionar, como um quebra-cabeça. Isso aconteceu com muitas músicas: tentamos trabalhar em algumas, mas não alcançamos resultados, até que, um dia, você tenta alguma coisa e dá certo. Nunca se sabe quando isso vai acontecer.

Lost!, Sing (música do Blur), letras ruins, Life in Technicolor

ENTREVISTADOR: Temos aqui o novo single, Lost!. Ele foi inspirado por uma música do Blur, correto?
GUY: Estávamos escutando uma música chamada Sing no camarim.
ENTREVISTADOR: Onde vocês estavam?
GUY: Onde estávamos? Nos Estados Unidos, né? Todos nós a conhecíamos, mas, naquele momento, percebemos que era realmente uma ótima música. Depois, tivemos de fazer a passagem de som e meio que começamos a copiá-la, mas o resultado foi diferente, com acordes diferentes e coisas do tipo. Então, a música se tornou Lost!. Essa é basicamente a história por trás dela.
ENTREVISTADOR: E agora vocês sabem como tocar essa música, Lost!?
WILL: Acho que sim…
ENTREVISTADOR: Desculpem, queria dizer Sing.
WILL: Agora sim, pegamos o jeito.
GUY: Esse é um jeito peculiar de compor: começamos com alguma coisa em mente, mas o resultado acaba sendo outro.
ENTREVISTADOR: O que vocês acham da primeira fase do Blur? Gostam dela?
GUY: Acho o Blur uma banda muito boa, que nunca ficou muito tempo fazendo exatamente a mesma coisa.

ENTREVISTADOR: O que querem dizer os versos de Lost!?
WILL: É difícil dizer porque quem compõe as letras é o Chris; é complicado para nós sabermos precisamente a sua origem, ter uma idéia sobre o que elas falam.
ENTREVISTADOR: Qual é a sua idéia?
WILL: Uhm… Bem… É meio que… É como…
ENTREVISTADOR: Estar perdido?
WILL: É sobre uma pessoa que não fica apática enquanto passam por cima dela; alguém que sabe que está por baixo mas que se recusa a entregar os pontos. Isso é o que eu sugeriria como tema.
ENTREVISTADOR: E você?
GUY: Concordo [com o Will].

ENTREVISTADOR: Vocês conversam sobre as letras?
GUY: Se elas forem ruins…
WILL: Só para que elas façam sentido. Sério, se não compreendemos alguma, perguntamos “Sobre o que é essa música?”. Se ela de fato fizer sentido, assim, diretamente, então fica por assim mesmo.
ENTREVISTADOR: Isso acontece com freqüência?
WILL: Sim.
ENTREVISTADOR: E nesse álbum, vocês conversaram sobre alguma música, causando sua alteração? [?]
WILL: Uhm… Deixa eu ver… Não consigo me lembrar. As músicas que mais discutimos estão no disco, na verdade, mas há uma música que pode ser lançada mais ou menos no final do ano e que passou por mais ou menos quatro versões, teve melodias e letras totalmente distintas. Algumas músicas sofreram alterações dramáticas em função de nossas conversas sobre seus versos.
ENTREVISTADOR: Há alguma música que vocês gravaram, mas que foi modificada após essas conversas?… Vocês querem falar sobre isso?
GUY: Sinceramente, eu não me lembro…
WILL: Teve uma cuja letra foi totalmente suprimida. Life in Technicolor, a primeira faixa. Costumava haver uma letra, mas ela não se enquadrava muito bem, então, decidimos tirá-la completamente, tornando-se apenas instrumental.
ENTREVISTADOR: E sobre o que eram os versos?
WILL: Não me lemb…
GUY: Esse era o problema…
WILL: Esse era o problema: ninguém sabia sobre o que eram..

EP Prospekt’s March, diferenças em Viva, Glass of Water

ENTREVISTADOR: Vocês já anunciaram um novo lançamento, o EP Prospekt’s March. É verdade que ele será lançado no dia 26 de dezembro?
WILL: Eu não tenho certeza da data exata.
GUY: Não estou certo, mas é mais ou menos nessa data. Queremos deixá-lo disponível para comprar ou baixar, mas não tenho certeza da data.
ENTREVISTADOR: Você disse baixar ou comprar; vocês já decidiram?
WILL: Espero que os dois. Deveria ser.
GUY: Vai ser.
ENTREVISTADOR: Quais músicas estarão nesse EP e por quê?
WILL: São músicas gravadas durante a composição do último álbum, mas cujo estilo não julgamos adequadas ao quarto disco. As faixas deste foram selecionadas muito cuidadosamente: quais seriam e em qual ordem. E, se algo não se encaixasse, então [não seria incluída]. Isso não quer dizer que as músicas [do EP] não sejam boas, muito pelo contrário. São músicas de que realmente gostamos e que são muito interessantes, mas que não se ajustaram [ao Viva La Vida]. São canções de que estamos realmente orgulhosos. São quatro ou cinco que…
ENTREVISTADOR: Você pode dar nomes?
WILL: Posso, mas não sei exatamente se vamos ou não lançá-las mesmo… Tem uma chamada Glass of Water…
ENTREVISTADOR: Tem alguma de que você gosta mais?
WILL: Não sei bem ainda, talvez tenha de escutar mais antes de te responder.

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