“Let’s go Back to the Start”: dando um passo mais ousado

Viva Coldplay faz uma retrospectiva dos detalhes da era 'Everyday Life', resultante do oitavo álbum de estúdio da banda britânica.

26 agosto, 2024

O ano era 2019 e o Coldplay tinha na conta uma apresentação no Super Bowl, milhões e milhões de discos vendidos e a última turnê da banda, de promoção do disco ‘A Head Full of Dreams’, rendia o posto de 3ª maior turnê do mundo.

A pergunta que não queria calar era: o que mais faltava?

Ep. 13: Dando um passo mais ousado

Essa resposta tivemos mais tarde:

“A necessidade de um recomeço criativo era algo no qual toda a banda concordava. Definitivamente era um caso de ‘não podemos continuar aumentando a aposta’. Sentimos que era o momento de ampliar a visão ao invés de continuar crescendo”.

Will, em entrevista para a revista britânica Q Magazine

O resultado foi o álbum ‘Everyday Life’. Mas calma que muuuita coisa aconteceu antes dele ser lançado, em novembro de 2019. E a gente está aqui justamente pra te guiar em todos os detalhes dessa era que foi a mais curta pelas quais o Coldplay já passou.

Se você acompanha a banda há algum tempo, você já sabe: antes de qualquer lançamento, eles dão vislumbres da atmosfera do álbum que está a caminho pelas redes sociais. Mas a coisa não para por aí: sempre tem algum tipo de interação presencial que leva os fãs à loucura.

Precisamente no dia 14 de outubro, a nova era deu o seu primeiro ataque e justamente em solo brasileiro: no metrô de São Paulo, na estação Paulista, apareceu um painel em preto e branco com os integrantes da banda e mais três homens desconhecidos. Todos eles estão sentados, usando vestimentas antigas e levando instrumentos. E havia também um detalhe curioso: a imagem trazia uma data passada, 22 de novembro de 1919.

A imagem desapareceu no dia seguinte, mas essa curta aparição foi suficiente para que fãs de todo o mundo já estivessem atentíssimos aos passos que estavam por vir (porque é claro que teve fã brasileiro postando aos quatro ventos essa novidade na internet, né?!).

No dia 17 de outubro, esse mistério retorna às ruas. Ao longo de várias cidades, espalhadas por todo o globo, começam a despontar na paisagem a mesma imagem de alguns dias atrás e, dessa vez, em lugares bem diversos: em outdoors, em fachadas de prédios… Até em um museu em Amsterdam essa composição foi parar.

E a imagem voltou a aparecer na mesma estação de metrô em São Paulo onde havia sido retirada alguns dias antes, o que nos leva a supor que ela havia sido equivocadamente divulgada de modo antecipado. É o nosso Brasil dando um susto de leve na banda: com certeza essa história contribuiu para alguns dos cabelos brancos dos nossos amados, rs.

E a coisa não parou por aí. Além da ampla aparição dessa imagem misteriosa, alguns fãs sortudos receberam cartas no estilo de datilografia com a mesma data da imagem. Outros, ainda, receberam uma versão emoldurada. Completando a divulgação à moda antiga, jornais impressos ao redor do mundo (inclusive no Brasil) começaram a trazer a tracklist do novo álbum. Pronto: a ansiedade a mil já estava instaurada.

Ainda em outubro, já tivemos o lançamento de dois singles: ‘Arabesque’ e ‘Orphans’, com direito também a videoclipe da segunda música. E a divulgação dessa produção visual não foi qualquer uma: tivemos nada mais nada menos do que Will recebendo os fãs no YouTube para uma transmissão ao vivo. Naquele momento, ele confessou que ‘Orphans’ era a sua favorita do álbum.

Olha, a gente sabe que ninguém “tem que” nada. Mas a exceção é esta: esse clipe tem que assistir, rs.

Novembro daquele fim de ano também começou com novidade quentíssima: no dia 1º, a banda anunciou 2 shows que aconteceriam em Amã, na capital da Jordânia, no dia 19/11: um durante o amanhecer (em referência à parte ‘Sunrise’ do disco, que seria duplo) e outro durante o entardecer (em referência à parte ‘Sunset’), com transmissão ao vivo pelo Youtube. E o anúncio dessa notícia foi um tanto inusitado: a banda divulgou um vídeo carregado na ironia, simulando uma coletiva de imprensa. Vale a pena conferir esse chamado divertido:

Mal a gente tinha recuperado o fôlego da notícia dos shows na Jordânia quando tivemos outro pico de adrenalina no corpo: o lançamento, completamente de surpresa, da linda ‘Everyday Life’ nas plataformas digitais. Ou seja, antes mesmo do lançamento do álbum, já colecionávamos três singles na conta. Início de era é o paraíso: novidade atrás de novidade.

Até aqui, a gente já tem um combinado: obrigatoriamente assistir ao vídeo de ‘Orphans’ (se você ainda não tiver assistido). Mas tem uma outra coisa que a gente não pode deixar passar: assistir à apresentação completa na Jordânia, das duas partes. É s-u-r-r-e-a-l de lindo, a gente te promete que não existe a menor chance de arrependimento. Ó e teve até pontinha de fãs na apresentação, durante ‘Orphans’:

O lançamento oficial do álbum – que foi eleito pela revista Q Magazine como um dos 50 melhores daquele ano – se deu pouco depois da performance em Amã, na data divulgada na imagem que percorreu o globo e nas cartas para os fãs: 22/11. A capa? Vamos ver se vocês se lembram de terem visto em algum lugar…

Tá, mas vocês podem se perguntar: e aquele tal ano de 1919, o que tem a ver? Esse foi o ano em que a foto original da capa do álbum foi tirada. Chris, Guy, Jonny e Will foram inseridos digitalmente nela, como se também fizessem parte da banda retratada. E sabem quem compunha essa banda originalmente? Nada mais nada menos do que o bisavô de Jonny! Demais esse resgate do passado familiar, né?

Como o Coldplay é uma banda de premiações, é claro que o disco rendeu bons frutos. Teve indicação na categoria ‘Melhor Grupo Britânico’ no Brit Awards e ‘Melhor Vídeo de Rock’ com ‘Orphans’ no VMA, tendo, nossos amados, levado para casa a segunda honraria. No Grammy, ‘Everyday Life’, ainda, foi indicado a ‘Álbum do Ano’, mas perdeu para ‘Folklore’, de Taylor Swift.

Em casa, o Coldplay fez bonito: ‘Everyday Life’ estreou no topo da parada de álbuns no Reino Unido, assim como os 8 álbuns anteriores. Esse, no entanto, apresentava uma banda ligeiramente diferente, sem dúvida mais madura e mais segura para se expressar e se posicionar mais abertamente. Foi Chris quem disse em uma entrevista para o The Sunday Times:

“O mundo está de um jeito que você não pode mais apenas ficar quieto com os seus confortos e ignorar o resto dele”.

O resultado foi um disco influenciado por episódios da política mundial, corajosamente trazendo como pano de fundo os conflitos geopolíticos sobretudo no Oriente Médio e a crise humanitária que assola o globo. Não ficaram de lado outros temas sensíveis, como fé e religião, abuso policial, armamento e racismo.

Além dessa abordagem bastante politizada, os altos e baixos da vida cotidiana também influenciaram a concepção criativa do trabalho. O refrão da canção que dá título ao álbum deixa bastante claro essa dualidade que faz parte do viver:

“‘Cause everyone hurts, everyone cries
Everyone sees the color in each other’s eyes
Everyone loves, everybody gets their hearts ripped out
Got to keep dancing when the lights go out
Gonna keep dancing when the lights go out
Hold tight for everyday life”

Olha, a gente sabe que a gente já te passou de dever de casa assistir às apresentações ‘Sunrise’ e ‘Sunset’ em Amã, além do clipe de ‘Orphans’. Mas não vai ter jeito, a gente vai te passar um terceiro: assistir ao videoclipe de ‘Everyday Life’, que é de uma força e de uma beleza que a gente não consegue nem descrever. Vai por nós, a gente sabe que você vai ficar boquiaberto:

Aliás, vamos parar de contar as indicações? Porque todos os clipes produzidos nessa era são primorosos, um mais lindo que o outro. Além dos já mencionados ‘Orphans’ e ‘Everyday Life’, ainda tivemos as produções visuais de ‘Daddy’, ‘Champion of the World’, ‘Cry Cry Cry’ e ‘Trouble in Town’. Todos recomendados, claro!

Fato muito legal é que, para a empreitada da produção dos videoclipes, a banda contou com a criatividade de muitas mulheres. Dentre elas, a animadora finlandesa Åsa Lucander, a coreógrafa Tanisha Scott, a atriz e diretora Dakota Johnson, as diretoras Cloé Bailly e Karena Evans e nossa cenógrafa já conhecida de outros tempos Misty Buckley. Girl Power total!

Karena Evans, a jovem diretora que encabeçou
o clipe lindíssimo de ‘Everyday Life’

E a gente conhece nossos leitores, sabemos que vocês gostam de umas curiosidades. O Viva traduziu uma entrevista exclusiva que os quatro integrantes deram para a Apple Music, trazendo a história/origem por trás de cada faixa do álbum. Você sabia, por exemplo, que a versão primária de ‘Arabesque’ foi gravada por volta de 2010 e que ‘BrokEn’ tem essa influência gospel por causa do Brian Eno? Pois é, você vai ficar sabendo muito mais aqui.

Ao contrário do que todos nós queríamos, claro, ‘Everyday Life’ não saiu em turnê. Em uma entrevista para a britânica BBC, a banda disse que faria uma pausa dos grandes shows até que eles encontrassem uma forma de continuar entretendo associada a práticas ambientais responsáveis.

Mas não ficamos completamente ‘Orphans’ (a gente não podia perder esse trocadilho, rs) de shows. Tivemos um gostinho da era com um 3º show na Cidadela de Amã, uma espécie de colina central considerada patrimônio cultural do país. O pano de fundo foi esse daqui, ó:

O show foi gratuito, o que causou um enorme rebuliço na cidade. Além disso, fãs puderam escolher uma música que seria transmitida ao vivo para o mundo todo e adivinhem? ‘Viva la Vida’ foi a eleita. E a gente vai te dar o prazer de rememorar uma outra muito especial que também entrou na setlist:

Tivemos uma segunda apresentação, bastante intimista, também inédita e icônica: a banda se apresentou no Natural History Museum, em Londres, com direito a um esqueleto de baleia flutuando sobre a plateia. O lucro com os ingressos foi destinado à ClientEarth, uma organização sem fins lucrativos em prol da defesa do meio ambiente.

Você ficaria olhando para a banda ou para o esqueleto acima da sua cabeça? Rsrs

O maior show dessa era, no entanto, aconteceu em Los Angeles, por ocasião do iHeartRadio ALTerEGO Festival. Com duração total de 35 minutos, 9 músicas foram performadas, das quais 7 promoviam o ‘Everyday Life’. E a gente tem sorte, porque temos à nossa disposição a apresentação completa, que contou com a participação pra lá de especial do nigeriano Femi Kuti em ‘Arabesque’:

OK, tivemos pouquíssimos shows na conta dessa era. Mas, para compensar, fomos contemplados por algumas aparições em programas de televisão e rádio. Nessa lista, estiveram os britânicos BBC Radio 1 e The Graham Norton Show, o francês Quotidien e o estadunidense The Ellen DeGeneres Show. No último, fizeram uma primeira e única apresentação de ‘Cry Cry Cry’ em um programa de TV – e isso aconteceu bem no meio da plateia. Mas, se tivermos de eleger uma única apresentação a ser assistida, não pode ser outra que não a acústica e intimista Tiny Desk Concert, organizada pela rádio NPR Music:

Will e Guy infelizmente não participaram, mas o clima de descontração da performance é o máximo

A canção ‘Everyday Life’ apareceu na maior parte das apresentações do Coldplay nesses programas em torno da promoção do novo álbum. Mas, em termos de popularidade, ‘Orphans’ teve melhor desempenho. Ela foi a única do álbum a entrar no Billboard Hot 100, o ranking estadunidense de canções que é considerado o termômetro do mundo da música, alcançando a posição de número 93.

Sem uma turnê mundial, a era ‘Everyday Life’ foi bastante enxuta. Não podemos ignorar também o fato de que fomos assolados pela pandemia COVID-19 poucos meses após o lançamento do álbum, o que certamente afunilou as aparições e as possibilidades de maior interação com os fãs. Mas nem por isso ficamos sem notícias da banda. Chris, por exemplo, participou de duas lives do projeto ‘Together at Home’ (Juntos em Casa), uma iniciativa da ‘Global Citizen’ junto à Organização Mundial de Saúde (OMS), e todos participaram de uma live em prol da campanha ‘Every Vote Counts’ (Todo Voto Conta), para incentivar a votação nos Estados Unidos, que estava com baixa previsão de adesão à época.

Ainda que tenha sido curta, porém, a era ‘Everyday Life’ nos rendeu reflexões importantes com o universo musical e conceitual que o Coldplay criou. Para fecharmos esse episódio com muito encanto, a gente traz a visão de Chris sobre o amor e sobre o poder de ação que existe em nossas mãos:

“Eu acho que Deus é amor (…). Por anos eu nunca entendi o que isso significava, eu achava brega. Mas, na verdade, significa que adicionar amor a qualquer dada situação só torna as coisas melhores. E cada um de nós tem uma escolha mil vezes por dia, qual lado nosso vamos permitir falar. Somos todos incríveis, todos terríveis”.

Chris, em entrevista para o jornal The Sunday Times

Halle-Hallelujah, yes.


E calma, calma, calma que esse episódio terminou mas a gente já te dá um vislumbre do próximo! Esse vocês já sabem, né? Nosso próximo encontro vai ser para trazermos detalhes da gigante ‘Music of the Spheres’!

Se a era ‘Everyday Life’ não teve turnê, a ‘Music of the Spheres World Tour’ foi no outro extremo: há pouquíssimos dias, inclusive, ela alcançou o posto de maior turnê de rock de todos os tempos, quebrando o recorde que pertencia a ninguém mais ninguém menos que Sir. Elton John! U-A-U! Fique conosco que tem muuuito mais para saber sobre essa era que trouxe um Coldplay mais descontraído e confiante do que nunca!

Se você ficou conosco até aqui, agradecemos demais a sua companhia e claro: nos vemos em breve!

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