Você já assistiu a algum show do Coldplay? Se sim, provavelmente recebeu uma pulseira na entrada do evento, certo? E, durante a apresentação, você se encantou quando as pulseiras se iluminaram com cores e começaram a piscar acompanhando o som da música, não foi? Pois é. Embora essas pulseiras de LED sejam quase uma identidade do Coldplay, a ponto de acharmos que a banda já até nasceu com elas, as ‘wristbands’ – como são chamadas genericamente – foram incorporadas à trajetória dos nossos ídolos em 2011, durante a era Mylo Xyloto.
E alguém tem alguma dúvida de que as tais ‘pulseiras que brilham no escuro’ elevaram por completo o conceito de turnê? Agora, você sabia que essa marca registrada do Coldplay nasceu a partir de uma ideia de um fã? É isso mesmo que você está pensando: você ou eu poderíamos sugerir uma ideia incrível para a banda e – de repente – essa ideia ser acatada.
Ficou animada/o/e? Se acalme que nas próximas linhas a gente vai te contar todas as minúcias dessa história, além de muitos outros detalhes sobre essa era que foi a cereja do bolo na consagração do Coldplay como uma das maiores bandas do mundo.
LET’S GO BACK TO THE START
Episódio 10: “We’ll be glowing in the dark”
Depois de tantas novidades que a era “Viva la Vida or Death and All His Friends” trouxe – uniformes, explosão de confetes coloridos, fantoches, telões de fazerem brilhar os olhos… –, surpreender os fãs parecia uma tarefa impossível.
À época, nossos ídolos diziam mais ou menos assim nas entrevistas:
“Daqui para frente, não sabemos como as coisas vão ser porque nossa criatividade foi toda drenada para o nosso último álbum”.
É claro que esses depoimentos causavam aquele verdadeiro terror nos fãs. Mas não podemos nos esquecer do seguinte: estamos falando de Coldplay, não é mesmo?
Para conseguirem entregar ao público um trabalho digno do patamar que haviam alcançado, recrutaram um time de produtores musicais de peso, que já havia colaborado com a banda em materiais anteriores: Markus Dravs, Brian Eno, Dan Green, Rik Simpson e, claro, não poderia faltar o nosso amado diretor criativo e quinto membro da banda, Phil Harvey.
Desta vez, a estratégia de lançamento adotada foi um pouco diferente. Antes do álbum vir a conhecimento do público, dois singles foram lançados: Every Teadrop is a Waterfall, em junho de 2011, e Paradise, em setembro. Aproveitando as mudanças do mercado musical, os singles foram disponibilizados no formato digital.
Outra abordagem diferente foi apresentarem ao vivo várias canções do novo álbum que nem havia sido lançado ainda. Foi o caso do famoso festival alemão “Rock Am Ring”. A edição de 2011, ocorrida no início de junho daquele ano, foi transmitida ao vivo para grande parte do globo e foi a primeira vez que tivemos um gostinho do que seria o álbum que, até então, ainda não tinha nome.
Outro festival que teve o privilégio de contar com apresentações de algumas das novas canções que nem tinham visto a luz do dia direito foi o cobiçadíssimo Glastonburry, em julho de 2011. Mas para tudo que o Brasil também teve esse gostinho pré-álbum!
Quem se lembra da épica apresentação do Coldplay no Rock in Rio de 2011? Levanta a mão aí quem foi a/o felizarda/o que esteve no show e pôde ouvir, dentre outras, “Paradise”, “Every Teardrop is a Waterfall”, “Major Minus” e “Hurts like Heaven” ao vivo?
Lançado em outubro de 2011, “Mylo Xyloto” – “MX” para os íntimos, rs – alcançou um incrível número de 8 milhões de cópias vendidas. Comparando com o antecessor “Viva la Vida or Death and All His Friends”, que bateu a venda de 9 milhões de exemplares, podemos equivocadamente achar que a banda perdia espaço no cenário musical. Porém, detalhe importante: os três anos que separam o lançamento de ambos coincide com a perda da força do álbum físico. Terem conseguido alcançar a marca dos 8 milhões foi, na verdade, bastante impressionante.
É claro que o título causou certo estranhamento. Perguntados sobre o significado do nome em inúmeras entrevistas, talvez a resposta mais esclarecedora tenha sido esta:
“‘Mylo Xyloto’ significa o que você quer que signifique. É uma liberdade de expressão que está aí para dizer: ‘Ei, você pode pensar em novas palavras, se quiser’. Ainda há coisas que você pode inventar e palavras que começam com ‘X’ são poucas, então pensamos que poderíamos dar a nossa contribuição ao vocabulário existente“.
Chris Martin para o website “Music Week”
Não seria um exagero dizer que “Mylo Xyloto” é o álbum mais conceitual do Coldplay. Tendo sido inicialmente pensado para ser uma espécie de animação musical bem ao estilo “Yellow Submarine”, a banda se deu conta de que esta odisseia levaria mais tempo do que o desejado para ser produzida.
Para não descartarem trama e personagens que já haviam sido pensados, a opção foi produzir um álbum que contasse uma história de amor em tempos de opressão. E, desde o início, a ideia é que essa história fosse ainda mais explorada em paralelo. Para isso, a banda trabalhou ao lado do cineasta Mark Osborne (“Kung Fu Panda”), cuja colaboração resultou em uma história em quadrinhos dividida em seis capítulos, as Mylo Xyloto Comics.
Nas “MX Comics”, a sociedade distópica de Silencia é comandada por Major Minus, um ditador que proíbe o uso de cores. Porém os rebeldes Sparkers não desistem de colorir as ruas. Tudo parece estar perdido quando o exército de Major Minus captura os integrantes desse movimento de resistência, mas o nascimento de Mylo Xyloto faz surgir nova esperança: o garoto possui o dom das cores, sendo o único que pode mudar a opressiva realidade de seus iguais.
E se a gente está falando de cores e Coldplay, como não pensar de imediato nas queridíssimas ‘pulseiras que brilham no escuro‘? Se você já assistiu a algum vídeo do Coldplay ou mesmo já viveu o sonho de assisti-los ao vivo, é muito provável que tenha visto milhares de punhos coloridos brilhando ao mesmo tempo.
Batizadas inicialmente como xylobands, as pulseiras que o público recebe ao adentrar um show são uma invenção de Jason Regler, um fã da banda que aproveitou uma oportunidade de encontro com Phil Harvey para lançar uma ideia audaciosa: uma pulseira de LED que, ao som das músicas tocadas, começa a se iluminar com cores diversas.
A banda, que sempre inventou formas de se aproximar do público durante suas apresentações, abraçou por completo a ideia, que elevou o conceito de ‘efeito visual’ ao último patamar.
Se as cores estavam no conceito de “Mylo Xyloto” e foram materializadas até mesmo na forma de pulseiras, é claro que não deixariam de estar na capa do álbum, nos cenários da turnê, nos figurinos… E até mesmo nos instrumentos musicais, estilizados por grafiteiro britânico chamado Paris.
Toda a criação artística relacionada ao álbum foi baseada em um único mural, coordenado por Paris. Tutorados pelo artista, Chris, Guy, Jonny e Will participaram ativamente da produção da obra grafitada – que foi fotografada de inúmeros ângulos para ser aproveitada posteriormente em outras artes da era.
Quem fez a ponte entre Paris e Coldplay foi a designer de produção Misty Bucley. Sempre em contato com Phil, com os meninos e com o designer de iluminação Paul Normandale, ela foi a principal responsável por criar os cenários para a Mylo Xyloto Tour (que alguns, carinhosamente, encurtavam e apelidavam de “Myloxylotour”). Muitos lasers, luzes neon e cores fluorescentes davam o tom da atmosfera mágica, inspirada nos trabalhos de Jean-Michel Basquiat e Picasso.
Nesse universo de cores e luzes, quem diria que “Mylo Xyloto” foi pensado inicialmente para ser um álbum acústico? Em mais de uma entrevista, a banda revelou que o disco nasceu como um material acústico, mas foi tomando um corpo diferente ao longo do processo criativo. A faixa U.F.O., que acabou fazendo parte do álbum, foi uma sobrevivente dessa época.
É, mas tantas cores e luzes acabaram assustando algumas pessoas, principalmente alguns fãs. “Mylo Xyloto” é um álbum controverso, responsável por uma grande virada de chave: até então classificado como “rock progressivo”, o Coldplay, agora, flertava fortemente com o universo do pop, ganhando um público diferente do habitual.
Um dos fortes indícios da consolidação da aproximação do Coldplay com o mundo pop foi o convite feito à cantora Rihanna para participar da música Princess of China, décima faixa de “Mylo Xyloto”. A história da parceria é curiosa: a banda sempre soube que a artista era a pessoa certa para o dueto da canção, mas esperaram um ano e meio até criarem coragem de, finalmente, convidá-la (o aconteceu em Los Angeles). É, minha gente, convidar o/a crush não é fácil para ninguém, rs.
“Princess of China”, inclusive, foi promovida a single oficial ao lado das já mencionadas “Every Teardrop is a Waterfall” e “Paradise”. Outras canções do álbum também foram lançadas oficial ou promocionalmente: Hurst Like Heaven, Charlie Brown e Up in Flames.
Para a produção dos clipes de “Paradise” e “Charlie Brown”, a banda contou com a criatividade do diretor de cinema Mat Whitecross, que já havia colaborado com a banda em vários trabalhos anteriores (inclusive a raridade “Bigger Stronger”, primeira produção visual da banda, gravada em 1999) e ainda colaboraria em outros futuros (mais tarde, ele chegaria a produzir até mesmo o documentário “Coldplay: A Head Full of Dreams”).
Segundo Mat, Chris se envolve de maneira muito efetiva em todas as produções, e o papo é mais ou menos assim: “Mat, eu amo parkour, a gente pode adicionar um pouco disso? E amo a ideia de alguém roubando um carro e dirigindo ele imediatamente, uma coisa meio ‘jovens rebeldes que se opõem à realidade decadente ao redor’. Ah, e cores e grafite e todas as outras coisas que você conseguir captar do álbum“.
E aí entra a criatividade do diretor de cinema, que tem de tentar conectar essas peças soltas para fazer a mágica acontecer:
Como sabemos que vocês, como nós, adoram uma curiosidade, que tal mergulharmos um pouco mais em algumas das faixas de “Mylo Xyloto”?
Every Teardrop is a Waterfall, assim como Paradise, traz a ideia central de tentar transformar algo ruim em algo bom. É uma mensagem de positividade.
Major Minus, segundo Chris, é mais ou menos a versão musical de um vilão do filme do Bond. Um primo ruim do álbum, o desagradável.
U.F.O. foi a primeira música escrita para o álbum. É como se fosse a ‘hora da reflexão’ do disco.
Up in Flames foi gravada em cinco países durante sete dias. Quando terminaram de gravá-la, Will, que é conhecido por dar as palavras finais nas decisões da banda, disse: “OK, agora podemos terminar o álbum“.
A Hopeful Transmition / Don’t Let it Break your Heart: Segundo Chris, foi uma tentativa inédita de fazer um álbum com um final feliz, já que os anteriores não terminam lá tão animados, rs.
Up with the Birds foi uma música pensada para ser como um final de um filme – e que final de filme, hein?
E vamos de recomendações! Se você ainda não assistiu ao Coldplay Unstaged – performance em Madri que foi transmitida ao vivo para o mundo todo via YouTube – e à apresentação do Coldplay na cerimônia de encerramento dos Jogos Paralimpícos de 2012, em Londres, as definições de “você não sabe o que está perdendo” foram atualizadas! A gente te ajuda, vai:
Prometemos que a versão de Strawberry Swing tocada ao lado da “British Paraorchestra” é a coisa mais linda que você vai ver hoje (na verdade, provavelmente a coisa mais linda que você vai assistir por muito tempo). Te desafiamos a não se emocionar:
Olha, a gente entende se você não tiver amado o “MX”. Confessamos que parte da equipe do Viva, à época, não foi muito receptiva à mudança musical da banda. Mas que ele fez o Coldplay, mais uma vez, sair da sua zona de conforto, isso a gente não pode negar. Se tem uma característica que se adere muito bem à banda é a de constantemente se reinventar.
E chegamos ao final da nossa odisseia pelas cores e luzes da era “Mylo Xyloto”! A gente quer saber: como foi a sua relação com ela? Se você chegou até aqui, adoraríamos saber nos comentários!
Nosso próximo encontro vai ser bem menos colorido e animado, pois será a vez de viajarmos pelo universo do soturno Ghost Stories – uma produção que diz muito sobre uma fase difícil pela qual o Chris estava passando. Segurem as pontas que em breve voltamos com todos os detalhes possíveis!