A série “Lets’s go back to the start”, que promove uma jornada pela carreira do Coldplay com o intuito de revelar detalhes do passado da banda para fãs mais recentes, chega com um novo episódio. Agora, nossa viagem adentra os processos de gravação e marcos da era “Parachutes”.
LET’S GO BACK TO THE START
Episódio 6: E chega o sucesso inesperado
No nosso último encontro, fizemos um panorama sobre os anos iniciais do nosso quarteto amado, entendendo como se deu a liga entre aqueles jovens antes do lançamento de seu primeiro álbum, “Parachutes”. Agora, chegou a vez de darmos um mergulho no sucesso que foi esse álbum de estreia.
Em julho de 1999, poucos meses depois da assinatura do contrato de gravação do álbum de estreia da banda, Chris, Guy, Jonny e Will já estavam em estúdio com o produtor Ken Nelson. O álbum seria lançado um ano depois, em 10 de julho de 2000. No entanto, algumas águas rolaram até lá…
Quem escuta a paz que o som acústico de “Parachutes” transmite não diz que muitas brigas e estresse acompanharam todo o processo de gravação do álbum. Sob a pressão de estarem agora sob as asas de uma gravadora gigante como a Parlophone, os desentendimentos entre os membros eram diários.
O estresse foi tanto que – pasmem – nosso baterista Will chegou até a desistir do processo de gravação do álbum! Sem chance imaginarmos como seria a banda hoje sem ele, né? Chris teve de pedir mais de uma vez para ele voltar.
Will brinca sobre o nome do álbum:
“O processo de gravação do álbum foi muito estressante e as músicas em si falam de problemas do dia a dia. Normalmente são os paraquedas (parachutes) que te tiram de situações ruins”.
Will Champion
O primeiro single promocional de “Parachutes” foi “Shiver“, lançado em março de 2000 – quatro meses antes da estreia do álbum.
“Shiver” alcançou o nº 35 na parada britânica, um número bem expressivo para uma banda estreante, mas ainda não era o marco que o Coldplay alcançaria naquele ano. Em junho de 2000, um mês antes da estreia de “Parachutes”, tudo estaria prestes a mudar. Foi neste mês que o Coldplay lançou o single que tornaria a banda conhecida mundialmente: “Yellow“! O single chegou acompanhado de outras duas faixas: “Help is Round the Corner” e “No More Keeping my Feet on the Ground”.
Se a gravação de “Parachutes” foi tensa e estressante, o lançamento de “Yellow” compensou. Segundo Will, “Yellow” significou “um momento feliz para nós“.
Foi o próprio Chris quem disse que, quando chegaram os primeiros acordes da música, a sensação foi de confiança – ao contrário da insegurança que ele sempre sentia ao compor várias de suas outras canções. Chris achou “Yellow” bonita de cara, e por isso sabia que tinha algo especial ali.
Anos depois, em um encontro que a equipe Viva Coldplay teve em março de 2023 com Anthony Martin, pai do Chris, ele opinou sobre o impacto da faixa na carreira da banda. De forma lúcida, Anthony nos disse que “talvez eles (Coldplay) não seriam o que são hoje se não fosse por Yellow“.
E o sucesso atemporal de “Yellow” reforça o que Anthony disse. A música foi um verdadeiro estouro, alcançando o 1º lugar na parada britânica e também na parada estadunidense que, naquela época, era ainda mais fechada em relação aos artistas novos de outras nacionalidades. Naquela época, as rádios KCRW, KNRK e KROQ (sim, os nomes são estranhos mesmo! rs) funcionaram como as portas de entrada da banda nos Estados Unidos. E, para a indústria da música, uma coisa é certa: ganhando o coração dos EUA, é questão de tempo atingir o resto do mundo.
Com o sucesso de “Yellow”, vieram as apresentações na TV. A primeira delas foi em maio de 2000, no programa Later with Jools Holland, conhecido por lançar grandes talentos da música britânica.
Outra apresentação marcante da banda em um programa de televisão ocorreu em julho, quando se apresentaram no famoso Top of the Pops. Dessa vez, performaram “Trouble”.
O estouro de “Yellow” também foi impulsionado por um clipe que, embora seja um lindo trabalho, carrega uma história não tão feliz. Para a gravação do vídeo, o plano era contar com todos os quatro percorrendo juntos uma praia pelo início da manhã. No entanto, no dia em que estavam marcadas as gravações, aconteceu o funeral da mãe do Will, que lutava contra o câncer durante o processo de gravação de “Parachutes” (inclusive, já notou no encarte do álbum que ele é dedicado a ela?).
Como a banda entraria em turnê no dia seguinte e não havia tempo para remarcar a filmagem, a saída foi gravarem o clipe apenas com Chris caminhando sozinho pela areia, enquanto Guy e Jonny acompanharam o amigo Will na cerimônia da mãe do baterista. O resultado do vídeo mostra um Chris vagante durante um dia nublado e frio, como já conhecemos:
Voltar ao prenúncio do sucesso de “Yellow” também é voltar ao início da trajetória bem-sucedida de apresentações em festivais. Se hoje o Coldplay se apresenta em festivais gigantes com maestria, em junho de 2000 faziam sua primeira aparição para mais ou menos 10.000 pessoas em um palco secundário do Glastonburry – que é considerado por muitos o maior festival de música do mundo. A apresentação naquela edição do Glastonbury ficou marcada como a mais importante que a banda já tinha realizado até aquele momento.
Mesmo com todo o sucesso de “Yellow”, a gravadora Parlophone apostava em um sucesso mais tímido para o álbum “Parachutes“, tendo prensado apenas 61.000 cópias do álbum e estimado uma venda de aproximadamente 40.000 cópias. Imagine a surpresa da gravadora quando mais de 70.000 cópias foram vendidas no Reino Unido apenas na 1ª semana?
Lançado em julho de 2000, “Parachutes” agradou bastante. O sucesso do álbum se converteu em várias indicações em grandes premiações do mundo da música. E a primeira que contou com a participação do Coldplay foi a Mercury Awards, em setembro de 2000.
O talento da banda também foi reconhecido pelo Brit Awards, a maior premiação de música britânica. Foram 5 indicações: melhor grupo, melhor álbum, melhor revelação, melhor single (Yellow) e melhor videoclipe (Yellow). A banda levou para casa os dois primeiros.
A famosa revista britânica NME também premiou bastante o Coldplay, tendo sido reconhecidos como melhor artista revelação, melhor single (Yellow) e álbum do ano. Outra revista de grande renome a prestigiar a banda foi a Q Magazine, que, em sua retrospectiva, elegeu “Parachutes” o melhor álbum de 2000.
Em outubro de 2000, pouco tempo depois do lançamento de seu primeiro álbum, o Coldplay já estava com uma turnê pelo Reino Unido completamente esgotada.
Tudo acontecia muito rapidamente, mas a virada de 2000 para 2001 ainda veio com uma grande surpresa: uma turnê nos EUA foi agendada e não houve uma data sequer que não esgotasse em menos de 2h – algumas, inclusive, foram esgotadas em 15 minutos ou menos! Não tinha mais jeito: o sucesso da banda estava estabelecido.
Nos Estados Unidos, além da apertada agenda de shows, vieram também muitas visitas a rádios, assédio de revistas, apresentações em programas de TV… A palavra descanso estava fora de cogitação. Embora os quatro sempre tivessem almejado o sucesso, aquilo foi demais para aqueles meninos de 20 e poucos anos. Com o sucesso, vieram também a distância de casa e a pressão.
Por motivos de exaustão, precisaram fazer uma pausa na turnê dos EUA, suspendendo algumas datas de show. Março, abril e maio de 2001 foram meses de recuperação: voltaram ao Reino Unido para fazerem shows mais espaçados, além de azeitarem amizades e relações familiares que tinham ficado para trás.
Em maio, depois de um período de descanso, Chris, Guy, Jonny e Will conseguiram voltar para os EUA para finalizar as datas prometidas. O primeiro show de retorno, porém, foi um fiasco: foram recebidos com garrafas d’água por uma plateia que não se animou nem quando a banda apresentou as inéditas “God Put a Smile Upon Your Face” e “In My Place”, que, mais tarde, comporiam o segundo álbum do Coldplay.
Com o passar dos shows nos Estados Unidos, a plateia foi se acalmando em relação ao mau humor inicial devido ao cancelamento das datas anteriores. Ainda bem, né? E parece que esse mau humor foi embora de vez com o lançamento da versão estadunidense do clipe de “Trouble“, em setembro de 2001.
O single da música já havia sido lançado em outubro do ano anterior, mas o vídeo impulsionou “Trouble” mais uma vez nas rádios estadunidenses, a ponto de aquecer os ânimos. Assim, uma “terceira perna” de turnê foi agendada nos Estados Unidos durante os meses de setembro e outubro e, dessa vez, ufa!, nada de garrafas d’água.
Depois de um longo ano de trabalho, que desafiou a integridade da banda em muitos níveis, em dezembro de 2001 foi divulgado que “Parachutes” havia vendido 1 milhão de cópias! O fechamento perfeito para uma temporada que havia demandado tanto dos nossos amados integrantes, não?
O Coldplay, então, fechava sua estreia com tudo: agenda lotada de shows, premiações, sucesso de vendas – feitos, até então, inimagináveis. Nesse contexto, na última entrevista de 2001, que foi conduzida por Nic Harcourt na rádio estadunidense KCRW, as palavras de Chris foram:
“Ano que vem nós vamos lançar o melhor álbum já escutado“
Alguma dúvida da confiança (mas também autocobrança) da banda naquele ponto? E, na minha opinião, Chris estava certíssimo (o segundo álbum é o meu favorito! rs). Então fique atenta (o) que, muito em breve, nós vamos dar um novo passeio juntos, dessa vez pelos momentos mais marcantes do queridinho de muitos: nosso icônico “A Rush of Blood to the Head“.
Referências:
Coldplay timeline. Disponível em: https://timeline.coldplay.com/. Acesso em abril 2023.
SPIVACK, Gary. Coldplay. Look at the stars. Nova Iorque: Pocket Books, 2004.