A coluna Let’s Talk tem o objetivo de incitar o debate e é isso que eu vou propor com esse texto. Eu escrevo aqui a minha opinião sobre o vídeo clipe de Charlie Brown e proponho que o leitor comente a respeito, concordando ou discordando de mim. Mas, quero deixar bem claro que essa é somente a minha opinião e não reflete o pensamento do site, enquanto veículo de informação sobre o Coldplay. Let’s Talk!
Já tem muita gente torcendo o nariz para o vídeo clipe da música Charlie Brown. Era de se esperar, já que todo o novo trabalho do Coldplay tem gerado críticas – e as velhas comparações com os trabalhos anteriores da banda. Quando se trata de Coldplay, não existe meio-termo. Ninguém gosta “um pouco” da banda: ou a adora ou a detesta.
De acordo com a história proposta pelo álbum conceitual – o amor que nasce e sobrevive num ambiente inóspito – Mylo está numa jornada e busca ser livre para viver o amor. A mim sugere que durante Charlie Brown, ele procura uma válvula de escape, uma fuga dentro da sua realidade. Ele busca a diversão, quer extravasar a sua rebeldia e se encontrar. O enredo do video acompanha de perto o que diz a letra da música e algumas fotos dos bastidores da gravação do clipe já tinham sido divulgadas, dando uma idéia do que esperar sobre todo o visual. Eu concordo que uma banda que apresentou vídeos como The Scientist, Strawberry Swing e Talk, deixa muita gente decepcionada quando não surge com uma idéia inusitada. Também entendo que a expectativa criada em torno do lançamento do vídeo – que chegou a ter sua data adiada – pode ter dado tempo aos fãs de criarem suas próprias leituras, e a imaginação é sempre mais criativa que a realidade. Mas, acredito que eles estejam sendo coerentes com a prévia mostrada na versão ‘live’ de Charlie Brown e na proposta visual da Era MX, com seus fogos de artifício, graffittis, cores que brilham no escuro e uma pegada mais jovem.
As maiores críticas dos fãs vem do fato de que o clipe não tem “a cara” do Coldplay, está muito pop e tem cenas de apelo sexual, com muita “pegação”. Realmente, esses são elementos encontrados em trabalhos de outras bandas com sonoridade pop, hip-hop, dance ou techno. Se o Coldplay hoje é “pop”, estejam certos que essa é a intenção e o caminho que estão trilhando agora. É ingenuidade esperar que essa banda que lota estádios de futebol volte a ser como aquela que lançou Parachutes há mais de uma década. O som da banda vem se adaptando e mudando ao longo dos anos e eu acredito que cada era teve seu momento ideal e tem lugar garantido no seu espaço-tempo. As músicas são atemporais para quem curte a banda, mas para as questões do mercado fonográfico, cada era teve o seu momento. Eles deixaram de ser underground quando tocaram no Glastonbury e ganharam o seu primeiro Grammy. A própria banda já declarou que gostaria que o maior número possível de pessoas ouvissem a música deles e, estrategicamente, um vídeo clipe como o de Charlie Brown ajuda a disseminar a música incrível que ela é – não existe volume alto o suficiente para ouvi-la. Mas, o que as pessoas não estão percebendo é que o mote do vídeo clipe é o AMOR. E isso, sim, é a cara do Coldplay!
A história é um romance. O personagem calça uns tênis coloridos e ganha super-poderes como um cavaleiro medieval empunhando sua espada. Ele entra num carro roubado como quem monta um cavalo branco e vai salvar a sua donzela, destemido. Como diz a letra da música, ele quer ver o que os amigos tem a oferecer a ele e aceita a oferta. Eu aceito a oferta que o Coldplay está me fazendo. A nova sonoridade combina com o momento deles, as roupas e o colorido combinam com as músicas novas e esse clipe de Charlie Brown é a síntese do conceito do álbum. O que os personagens da música querem, é o que toda pessoa quer, principalmente quando se é jovem. Quer estar com os amigos, ouvir música boa, se divertir, enlouquecer um pouco, amar muito, ser amado também. Os caras do Coldplay tanto também querem essas mesmas coisas que estão lá, juntamente com o casal e seus amigos. E o fato mais importante na jornada épica de Mylo e sua amada, é que eles estão buscando ser “felizes para sempre”! Mesmo que seja só por uma noite, como num conto-de-fadas pós-moderno.