Steve Lamacq entrevista Jonny e Chris (25/out)

08 dezembro, 2011

Como mencionamos oportunamente, não pudemos acompanhar plenamente a série de matérias e entrevistas feitas por ocasião do lançamento de Mylo Xyloto. Na tentativa de suprir o atraso, começamos agora a publicação desse material. A primeira entrevista será um bate-papo com Steve Lamacq, que comanda programas nas rádios da BBC. As perguntas feitas por Lamacq, como de hábito, foram bastante interessantes. Por meio dessa entrevista, podemos descobrir alguns detalhes da gravação do álbum e algumas interpretações possíveis para algumas de suas faixas.

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Introdução

[A gravação começa com o final da música intitulada ‘Brian Eno’, do MGMT]

STEVE LAMACQ: Esse foi o MGMT, com uma música do álbum Congratulations e, sim a faixa é ‘Brian Eno’, o que é uma ótima deixa para os nossos próximos convidados que, trabalharam com o Brian Eno.
CHRIS MARTIN: Você é bom!
SL: Chris Martin e Jonny Buckland, do Coldplay.
CM: Steve Lamacq.
SL: Quantos bonés desses você tem?
JONNY BUCKLAND: Um.
SL: Você só tem um de cada vez?
JB: E fede para caramba.
SL: E você fica usando até…
JB: Até ele ficar todo destruído.
SL: Até você não agüentar mais o cheiro [‘Til you can bear the aroma no more]?
JB: Até a minha esposa não agüentar mais o cheiro.
CM: Olha só o título de música que você acabou de dar a gente, ‘Bear the aroma no more’. [Chris começa a cantar versos compostos no momento] ‘She said she was leaving/She could bear the aroma no more/She said she was leaving/Just send hat smell outta the door [?]/She bear the aroma/Bear the aroma’. Dá para ver para onde essa música está se direcionando.
SL: Vamos falar desse álbum enquanto vocês vão compondo o próximo. Vocês podem fazer isso pela próxima meia hora?
CM: “Histórias de amor baseadas em temas de higiene”.

Sobre Brian Eno

SL: E quanto ao Eno? Ele é sempre caracterizado como uma espécie de guardião da cidade, que ajuda vocês a destrancarem idéias. Seria justo dizer isso? É isso que ele faz?
JB: É isso. Ele se tornou meio que um integrante da banda, só que um que não fica por aí o tempo todo.
CM: Um integrante temperamental. É mais difícil de agradar ele do que o Guy e o Will.
JB: Eu sou fácil de agradar.
CM: Eu sou mais ou menos. O Guy e o Will…
JB: Quase impossível.
CM: Já com o Brian Eno, nunca dá para saber.
SL: Ele fica com expressões enigmáticas dentro do estúdio?
CM: Você pode tocar ‘Bohemian Rhapsody’ para ele e, no final, você fica sem saber o que ele vai falar. Ele pode falar. ‘Horrível! Completamente horrível! Eu nunca ouvi nada tão horrível na minha vida!’. Ou ele pode falar: ‘Isso é um novo tipo de música. É incrível! Vocês precisam fazer mais coisas assim’. Ele é imprevisível e é isso que o torna tão fantástico.
SL: Ele deixa um silêncio dramático no ar, um segundo em que vocês ficam se entreolhando, como no MasterChef [espécie de ‘reality show’ de cuinária da tevê britânica], antes de os concorrentes saberem quem está indo para a etapa seguinte?
CM: Sim. Mesmo depois de masterizarmos o álbum, ele levou oito dias para contar para a gente o que ele tinha achado. Apesar de ele ter estado presente basicamente em toda a criação do álbum, a gente estava com medo de ele dizer ‘Essa masterização está horrível. Vocês realmente acabaram com o álbum!’. Mas ele deu notas boas para todas as músicas, exceto uma.
SL: Sério? Você vai contar qual para a gente?
CM: Vou. É ‘Don’t Let Ir Break Your Heart’, a penúltima música.
SL: Sério? Eu gostei dessa música.
CM: Ele também. No estúdio. Mas ele disse que a gente encheu a música com coisa demais, o que é provavelmente verdadeiro.

Em que medida Mylo Xyloto pode ser descrito como um álbum conceitual

SL: Quem teve a idéia de álbum conceitual?
CM: A gente estava trabalhando com um cara chamado Mark Osborne, que dirigiu Kung Fu Panda. Ele escreveu para a gente perguntando se a gente tinha interesse em fazer uma animação. A gente respondeu que sim, que ia adorar fazer isso. Ele e eu nos encontramos algumas vezes em Los Angeles durante a turnê e começamos a escrever a estória de dois adolescentes, que vivem num mundo bastante opressivo e que tentam se libertar juntando-se a grupo de artistas. Já tínhamos uma idéia geral do enredo. E, na banda, a gente já tinha algumas músicas novas, então, a gente ficava pensando, talvez essa música vai se encaixar ou talvez a gente use músicas antigas, algo assim. Mas isso ia levar cem milhões de anos.
JB: Ia levar dez anos.
CM: Bom, ia levar cinco anos. Chegou uma hora em que a gente disse ‘A gente não pode fazer isso’. Mas a idéia central da trilha sonora desse filme continuou na nossa mente, como uma espécie de diretriz e enquadramento em relação aos quais organizarmos as músicas. Mas nenhuma música é sobre o filme [?].
SL: O quanto da capacidade de vocês de contar estórias ajudou nesse álbum, considerando algumas facetas dele e considerando também que todos vocês são pais que contam estórias para os seus filhos?
JB: Tem todas essas estórias clássicas que a gente meio que acaba esquecendo, mas se vê de repente relembrando toda noite.
CM: A gente começou a reassistir todos esses filmes clássicos. Algumas coisas da Pixar, ‘Mary Poppins’. Isso que é contar uma estória de forma magistral.
JB: De alguma forma, até os musicais da Disney acabou influenciando a gente.
CM: O álbum é uma espécie de forma de arte que está sob ameaça de extinção, então, tivemos a idéia de fazer um álbum como se fosse alguém fazendo um filme. Nos filmes da Disney, como ‘Mary Poppins’, tudo está meticulosamente lugar. Mesmo se uma idéia era brilhante, se ela não servisse ao filme como um todo, essa idéia era descartada. Foi essa atitude que a gente resolveu assumir: essa música é ótima, mas ela meio que está dizendo a mesma coisa que essa, então, a gente precisa escolher entre elas. Isso deixou a gente bastante disciplinado em relação a seguir uma base definida e os parâmetros… Eu estou sendo muito pedante?
SL: Não, de jeito nenhum. Isso quer dizer que, dessa vez, vocês meio que seguiram um roteiro?
CM: Não dá para dizer isso em relação às músicas elas mesmas. As músicas são sobre emoções humanas e sobre como nos sentimos. Mas, quando a questão é definir uma seqüência e escolher músicas, sabe, seria muito legal se a gente começasse com uma introdução em ritmo acelerado até que todos estejam tocando em uníssono. E seria muito legal ter uma música com perspectiva de uma menina e outra com a perspectiva de um menino e assim por diante. Ou seja, não é que as letras da músicas formam uma estória; foi mais uma questão de conseguir uma ordem estruturada das músicas.

Detalhes da gravação do álbum

SL: E vocês fizeram tudo ao vivo dessa vez, com todo mundo no mesmo lugar?
JB: A gente passou uma quantidade de enorme de tempo só tocando, em círculo.
CM: O Markus Dravs, apesar de o grupo ter sido grande dessa vez, é uma espécie de produtor mestre do picadeiro [ringmaster] estalando o chicote. Ele fica insistindo com ‘Toquem de novo, toquem de novo, toquem de novo’.
SL: E quanto à duração? Você pré-estabelecem uma quantidade de tempo em que vocês vão estar trabalhando no álbum?
CM: Não. Por quantas horas você conseguir. Parte do meu trabalho era checar se alguém estava cansado. E o Phill também; às vezes, ele vinha e falava: ‘Vocês precisam terminar isso porque o Rik [Simpson] – um dos nossos engenheiros acústicos e co-produtor – está basicamente morrendo.
JB: Ele não viu a namorada dele por três meses.
SL: Então ninguém da banda tem meio que problema de memória de curta duração? Eu imagino o Guy indo dar um passeio no interior ou algo assim.
CM: O Guy e o Will têm agendas mais estritas. Eles chegavam às nove e iam embora às seis.
JB: O Guy produziu cerca de seis álbuns desde que a gente começou a gravar o álbum.
SL: […]
CM: Eu e o Jonny costumamos começar um pouco depois e ir noite adentro. Eu não sei se é por que a seção rítmica precisa estar mais acordada, mas eles costumavam começar a trabalhar às oito. Mas a gente é que dizia o que fazer com as idéias. [risos]
SL: Vocês ainda têm a Bakery e um lugar onde vocês podem fazer as gravações e tudo o mais? Eu adoro a idéia da Bakery porque ela é basicamente o quartinho dos fundos do Coldplay. É meio que ‘bom, vamos dar uma voltinha ali e compor um novo álbum’.
CM: Agora, a gente também tem a Beehive, que é na frente. Ela costumava ser uma igreja antiga. Essa é até mais fiel à idéia de ‘quartinho dos fundos’ porque, basicamente, ou a gente estava em casa ou a gente estava lá.

A seleção das músicas

SL: No processo de definir o repertório e a estrutura dele – essa música vai e essa vai aqui –, quantas músicas são descartadas? O que acontece quando vocês passaram muito tempo trabalhando em uma música e, depois, vocês simplesmente decidem descartá-la? Deve ser de partir o coração!
CM: Não, não é. Porque, por mais você seja severo em relação a isso, você sabe que outra pessoa vai ser ainda mais severo e as pessoas podem não gostar.
JB: E também, pode ser que algo ainda melhor apareça, então, não importa. De certo modo, isso vai ficando fácil.
CM: Essa é geralmente a razão por que alguma coisa é descartada: surge alguma coisa que supera a primeira.
JB: Tem esses momentos estranhos em que a gente discute e, obviamente, alguém tem que perder.
CM: Acho que a gente discutiu mais em Viva La Vida do que nesse. Você concorda?
JB: Sim, com certeza.
SL: Porque sempre tem as músicas mais representativas, sempre tem as que chegam bem no final do processo e sempre tem aquelas que são difíceis de terminar.
CM: Sempre tem uma música em torno das quais compomos as demais músicas. Nesse caso, foi ‘Paradise’, que sempre foi a mais difícil de terminar de gravar. A gente fica um tempão preso nisso. Tem uma coisa que me irrita sempre, toda vez, é que sempre perguntam ‘Como está indo o álbum?’ e eu digo ‘Bom, a gente está chegando lá. A gente fez várias músicas’ e todo mundo vai dizer ‘Tá bom, Chris, no último minuto, é claro que você vai compor mais uma música’ e –
JB: E foi isso que aconteceu!
CM: Foi isso [risos], mas será que ninguém podia dizer ‘Ótimo, vocês têm algumas músicas boas’. Todo mundo faz isso: a nossa gravadora faz isso, gente de fora da banda faz isso. Até o Will faz isso às vezes. O Will fica tentando se infiltrar enquanto eu tomando o café [risos].
SL:A gente vai falar mais disso depois. Agora, a gente vai escutar ‘Major Minus’, que eu acho que é uma das músicas-chave desse álbum.

[Major Minus]

A pronúncia de Mylo Xyloto

SL: Essa foi ‘Major Minus’, do mais recente álbum do Coldplay, ‘máilou zailítou’.
JB/CM: ‘záiloutou’
CM: Como em ‘zailoufone’ [‘xilofone’ em inglês]. Foi mal, cara, é um nome estranho para um álbum. Mas olha só quem está falando, um cara chamada Steve Lamacq! Extravagante.
SL: Eu não tinha pensando nisso…
CM: E a gente aprendeu a pronunciar o seu nome! [risos]
SL: Eu dei uma olhada e pensei ‘Tem tantas maneira de alguém pronunciar isso aqui’. Alguém me disse que era ‘zailítou’ e achei que não podia ser isso.
CM: Bom, alguém do Radiohead talvez pronuncie assim [?].

O maior destaque de Jonny, Guy e Will no álbum

SL: […] O Guy Berryman está particulamente evidente nesse álbum. Esse é o álbum do Guy mais do que qualquer outro. O baixo é realmente bastante importante nesse álbum, não é?
CM: O argumento principal do Brian Eno e um dos nossos objetivos nesse álbum foi que, enquanto banda, podíamos demostrar musicalmente a química que há na banda, todos podem compartilhar mais dos holofotes. A gente realmente trabalhou duro nisso. É por isso que o Brian me chutou do estúdio por um tempo. Ele disse ‘Eu não quero nenhum música, eu só quero trabalhar sozinho com o Jonny por duas semanas e depois com o Guy e elevar um pouco a confiança de todo mundo’. Por isso que, quando a gente começou a realmente compor músicas, todos tinham tantas idéias para partes e cons, que tudo acabou se tornando uma glória compartilhada.
SL: E como foi isso para você?
CM: Foi ótimo. Até eu consigo curtir algumas partes – o que normalmente não é verdade [risos]. Há tantas partes que não são minhas, que eu fico ‘OK, vamos esquecer os vocais e os acordes e vamos curtir a guitarra, o baixo e a bateria, porque essas partes são simplesmente ótimas’.
SL: Falando francamente, Jonny, o que foi que você fez nessas duas semanas? ‘Solo de guitarra aqui; eu vou definitivamente tocar mais guitarra em ‘Don’t Let It Break Your Heart’; eu vou tocar muito mais aqui’.
JB: A gente literalmente ainda não tinha nenhuma música ou, pelo menos, foi antes de a maioria das músicas ter sido composta.
CM: A maioria das músicas do álbum. Havia várias músicas, mas todas elas foram assassinadas.
JB: A gente não assassinou todas!
CM: Mas você, sim! [risos] Não, não assassinou, não.
JB: Tem bastante coisa esquisita. Bastante coisa que chega a não ser ouvível.
CM: Eu não vou puxar a sardinha para o meu lado, mas eu analisei todas essas coisas e coloquei todos esses sons crus e esquisitos em pequenos lugares, como em ‘Princess of China’, na parte antes de a Rihanna começar a cantar de novo, tem um trechinho que é mais ou menos assim [sonoridade produzida por volta de 16:22 que não é reproduzível aqui], que passei duas semanas procurando.
JB: Você deve ouvido bastante coisa estranha!
CM: E ouvi, mas foi divertido. Porque eu realmente queria que fosse o álbum do Jonny.

O caráter literário do álbum

SL: Acho que vocês jamais falaram tão abertamente sobre um álbum. É claro que vocês não têm que ficar entregando tudo de bandeja assim, mas há tantas dicas aqui e ali, algumas expressões recorrentes… É mais ou menos como se vocês estivessem desenvolvendo a idéia de um roteiro. É o Connan Doyle dentro de vocês que está aparecendo, não é?
CM: Espero que sim, Steve.
SL: Se o próximo álbum de vocês não chamar Coldplay e o Signo dos Quatro [The Signo f Four é dos Sherlock Holmes], eu vou estranhar [?]. No último álbum, vocês tentaram experimentar com a idéia de escrever segundo a perspectiva de outra pessoa. Dessa vez, de novo, essa idéia essa prosseguindo. Imagino que essa seja a etapa lógica das coisas.
CM: Acho que são duas coisas, Steve. Uma delas é que, em 2005, eu, especial, recebi uma critica do New York Times – foi a última crítica sobre nós que eu li. Ela dizia que a música era bastante boa, mas que as letras não tinha sido escritas com esforço suficiente. Por isso, eu comecei a realmente tentar trabalhar nisso. Foi aí que eu comecei a escutar de novo Bruce Springsteen, Bob Dylan, pessoas que estavam escrevendo de acordo com a perspectiva de outras pessoas. Essa foi, na verdade, uma maneira mais fácil de dizer o que eu pessoalmente penso, especialmente nesse mundo contemporâneo, que é obcecado por celebridades e coisas do tipo. As pessoas acham que sabem como é a sua vida ou eleas têm uma certa idéia de como é o seu dia. No meio da madrugada, quando você está compondo e tentar ser essa pessoa ou aquela pessoa, você acaba chegando numa versão mais honesta de você mesmo, mesmo que isso soe pretensioso.
SL: Antes de ouvir o álbum, eu pensei que ia ser Bonnie e Clyde ou Romeu e Julieta. Depois, enquanto eu estava ouvindo o álbum todo, eu pensei ‘Bom, deve ser Robin Hood e Maid Marian’.
CM: Espera aí. Mas a Maid Marian realmente é uma personagem do Robin Hood. A menina é a personagem mais forte. Não acredito que a gente está falando disso de um jeito tão sério!
SL: E tem mais uma coisa. Eu não conseguia acreditar que você tinha falado isso em voz alta: ‘Crocodiles ticking ‘round the world’. Isso é do Peter Pan!
CM: É tão legal ser levado a sério por um momento! Porque, na maioria das entrevistas nos rádios é assim: ‘Aqui vai um monte de músicas… E agora, a hora dos comerciais!’. Mas, você, você está fazendo perguntas que são realmente… É isso, é do Peter Pan, sim. Mas também é sobre outras pessoas malignas e malvadas.
SL: Parece que é o Peter Pan, Wendy e Big Brother. Não Big Brother, o programa de TV, mas a essência do Big Brother [Lamacq está fazendo referência provavelmente ao Grande Irmão de 1984, de George Orwell].
CM: Preciso dizer: você é bom, cara!

A articulação entre letra e melodia

SL: Também tem algumas expressões recorrentes. O tema de ‘Us Against the World’ aparece depois de um tempo. Você falou do fato de a estória e a melodia serem criadas separadamente. Mas e quanto a juntar as duas coisas? Isso foi um desafio para todo mundo? Porque eu não sei se vocês sabem o que está acontecendo na mente do Chris enquanto vocês estão tentando criar uma trilha sonora para acompanhar isso.
JB: Não necessariamente nesse grau, mas eu acho que a gente compreende as coisas a partir do que está acontecendo no momento. A gente fica tocando junto e tocando junto até o espírito acertar. E isso acontece com a gente tendo em mente que a melodia não precisa refletir exatamente o que a letra está dizendo. Você vai tocando e, alguma hora, você acaba encontrando o que funciona.
SL: Mas, num nível de subconsciência, a química entre vocês deve ser tão intensa que…
CM: É verdade, mas o que aconteceu dessa vez é que o Jonny, o Guy e o Will fizeram foi simplesmente criar um armadura de sonoridade e maneiras de tocar e coisas desse tipo. Assim, quando uma nova letra surgia, quando eu aparecia com uma nova idéia para uma música, o Jonny tinha todas essas novas cores. Eu estou falando por mim aqui, mas às vezes o Jonny já tinha alguma coisa que eu pensava ‘Acho que isso vai com esse verso aqui’.
JB: É, com certeza.
SL: Então você fez a sua lição de casa, Jonny. É isso o que vocês estão dizendo.
CM: E ele estava tocando muito melhor também.
JB: Eu estava preparado de verdade! [risos]
SL: Você não estava só dando uma palhinha.

Possíveis temas do álbum

SL: Falando do álbum e não só da estória ela mesma, já que o álbum fala de todo o tipo de assunto.
CM: Isso. A idéia não é que seja um álbum contando uma estória; é uma questão de como estruturar as músicas e decidir a duração, esse tipo de coisa.
SL: Mas o que estava na sua cabeça? Solidão, frustração, crença, dúvida, perseverança, recuperação, estar perdido, ser encontrado.
CM: Sim.
SL:Muito obrigado. Algo a mais?
CM: É uma tentativa de compreender a vida, mas você nunca consegue. É por isso que você continua gravando álbuns. [risos]
SL: Falando em tentar compreender as coisas, me ocorreu que algumas das letras parecem uma seqüência de sonhos para mim. Então, eu pensei ‘qual seria o significado delas se elas realmente fossem sonhos?’. Eu procurei uma mulher chamada Delphi, que interpreta sonhos.
CM: De verdade?
SL: De verdade.
CM: Isso é verdade? […] Perguntamos a ela, se as imagens do álbum realmente fossem sonhos, o que eles significariam?
SL: 100% verdade. Delphi Ellis é uma especialista em analisar sonhos. Muito obrigado, Delphi.
CM: Obrigado, Delphi.
SL: Tem bastante vôo e, particularmente, voar para cima. Isso é uma imagem extremamente positiva. Voar para cima em sonhos está relacionado a alcançar uma grande aspiração, alturas elevadas, geralmente no âmbito profissional, mas freqüentemente também descreve pessoas ambiciosas que anseiam por uma conquista. Pode simbolizar libertação de preocupações. Por exemplo, você está livre de preocupações. Pessoas que não sonham com vôos tendem a ter mais o pé no chão. Eu sou uma dessas pessoas!
CM: Delphi ou você?
SL: Eu!
CM: Você, o Steve? Legal, então compre o álbum [?].
SL: Eu estava pensando em Paradise como a imagem do céu, do paraíso. Sonhos com paraíso são igualmente positivos. Pode refletir que o sonho está realmente acontecendo. Pode significar que tudo está como deveria estar. Ou, talvez, o desejo de uma pessoa de encontrar o paraíso na vida. Você fica voltando na idéia de tempo e tempo tempestuoso. Metaforicamente falando, quando falamos de tempo tempestuoso, estamos fazendo referência a um momento difícil em um relacionamento ou que alguém está passando por tempos difíceis. Porém, o que há nos sonhos com tempo tempestuoso é uma idéia de esperança, o reconhecimento de que o momento está ruim, mas também a consciência de que isso é apenas transitório.
CM: Basicamente, isso é exatamente sobre o que essas músicas falam. Agora, ela vai nos processar porque –
SL: Não! [risos]. A imagem geral –
CM: O resumo da crítica.
SL: – desses sonhos é: ‘Não desista!’.
CM: Isso é verdade, cara!
SL: […] Não desista!
CM: Não sei quanto a isso, mas a parte do ‘Não desista’ é verdadeira.
SL: Basicamente, essa é a mensagem do álbum em várias partes dele.
CM: Eu espero que sim. Ela é demais. Eu gostei dessa moça.

Os próximos passos da banda?

SL: De agora em diante, todas as críticas vão ser feita por Delphi Ellis. Muito obrigado por terem vindo, rapazes. O que vem a seguir? Um diário cheio de –
CM: A gente não sabe, a gente não sabe.
JB: A gente não tem certeza.
CM: O que você acha que a gente deveria fazer?
SL: Eu não sei. Eu tenderia a achar que vocês já estão cheios de gente falando para vocês o que fazer e aonde ir.
CM: Muita gente fala para onde a gente deveria ir… [risos] Quando uma banda deveria acabar, Steve, o que uma banda deveria fazer?
SL: Acho que uma banda tem que acabar quando não tem mais nada para dizer ou mais nada para expressar.
CM: Sério?
SL: Para descobrir isso, vocês têm olhar para dentro de si mesmos.
CM: Você sempre tem alguma coisa para expressar. […]
SL: Vocês acham que encontrar uma nova maneira de fazer a música de vocês?
CM: Sim, mas. A gente vai trabalhar ainda mais duro com esse álbum porque a gente aplicou tanto amor e paixão nele, que, talvez, a mera idéia de fazer alguma outra coisa parece impossível no momento. Parece uma montanha inteira a ser construída e depois uma montanha inteira a ser escalada.

Sobre a categoria em que o Coldplay se enquadraria

SL: Há tantos detalhes escondidos nesse álbum, tantas sutilezas, que não vai dar para capturar todas elas com só uma ouvida, não é, mesmo se você escutar muito atentamente.
CM: Não. Em uma escala que vai de precisão até “radioheadicidade”, que são os dois parâmetros para descobrir quantas ouvidas são necessárias –
SL: Com certeza. É assim que a gente avalia todas as músicas.
CM: Com a primeira ouvida de uma música da Rihanna, você descobre que é incrível. Mas na sétima vez que você escuta uma música do Radiohead, você descobre que é melhor que Beethoven [não tenho certeza se o Chris disse isso mesmo]. A gente está em algum lugar entre esses dois pólos. [risos] Não estamos à altura de nenhum dos dois!

Partes preferidas

SL: Chris, qual é a melhor parte do Jonny no álbum?
CM: A guitarra em ‘Hurts Like Heaven’. O riff dele em ‘Every Teardrop is a Waterfall’. E o solo dele em ‘Paradise’.
SL: Excelente. Três melhores partes. Quais são as melhores partes do álbum envolvendo o senhor Martin?
JB: ‘Us Against the World’. Os vocais dessa música, que eu adoro. E o refrão de ‘Paradise’.
SL: Nenhuma das quais a gente vai tocar agora. Vamos tocar agora à faixa a que eu fico voltando toda hora, a quarta faixa. Obrigado por terem vindo.
CM: Steve, você pode fazer um favor para a gente, Steve? Você poderia tocar ‘Separater’, do álbum King of Limbs, do Radiohead?

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