Tem tanta gente já tirou suas conclusões sobre nós que não tínhamos nada a perder [The Sun]

15 outubro, 2011

Convidados especiais do SFTW [Something For The Weekend, programa da BBC2’] estão na lateral do Cape Town Stadium enquanto o Coldplay se prepara para seu primeiro show na África do Sul. E, como em todos os seus shows, o Coldplay está pronto para dar o melhor de si hoje à noite. Após uma hora de aquecimento vocal, os integrantes da banda estão animando uns aos outros com apenas alguns minutos para subir no palco.

O baterista Will Champion realiza alguns alongamentos de cair o queixo antes de a banda se reunir em um abraço. Chris Martin, Jonny Buckland, Guy Berryman, Will, Phil Harvey, quinto membro não-oficial e empresário da banda , os convidados do SFTW e, er, até eu, depois do Chris me arrastar, somos incluídos no agrupamento. Depois, eles correm até o palco para tocar as novas faixas Mylo Xyloto e Hurts Like Heaven. “Estamos muito contentes por estar aqui, finalmente, após 12 anos. Levou tudo isso de tempo para conseguirmos um visto. Pedimos desculpas”, brinca Chris diante de uma multidão em êxtase ao ser banhada com borboletas de papel.

Nos últimos dias, tem rolado bastante burburinho sobre o Coldplay. Os funcionários da alfândega no aeroporto perguntam: “Você está aqui para ver o Coldplay?”, enquanto os fãs que estão nas filas do lado de fora do estádio são presenteados com um meio que pré-show depois de a banda chegar para fazer a passagem de som. O show na Cidade do Cabo é uma das três apresentações espetaculares que o SFTW testemunhou este verão na preparação para o lançamento do quinto álbum Mylo Xyloto – os outros foram o Glastonbury e o Lollapalooza, em Chicago.

Faz 11 anos desde que a banda – todos se conheceram quando eram estudantes, no final dos anos noventa, na University College London – teve sua primeira música, Shiver, nas paradas. No camarim da banda, o vocalista Chris, 34, diz: “Durante toda a nossa vida adulta, estivemos no Coldplay. Então, a cada vez que reaparecemos de três anos em três anos, percebemos que os pop stars estão cada vez mais jovens. Esquecemos que estamos ficando mais velhos porque estamos juntos o tempo todo. Nós não vemos um ao outro crescendo, pensamos que temos a mesma idade de quando começamos”.

O último álbum do Coldplay, Viva La Vida Or Death And All His Friends, 2008, foi um verdadeiro passo adiante para a banda. Naquela época, Chris disse ao SFTW: “É um pouco arriscado porque não tem uma Yellow”.

Trabalhando com o super-produtor Brian Eno, eles fizeram experimentos. E a percussão retumbante, a atmosfera arrepiante, cordas e tímpano, tudo valeu a pena. O álbum foi o que mais vendeu mundialmente em 2008. Mas Chris explica: “mas não em um país específico, o que é engraçado. Não somos a banda mais popular em nenhum país… apenas no mundo!”.

E, assim, o álbum subseqüente, o atipicamente intitulado Mylo Xyloto, foi feito por uma banda que, finalmente, se sente à vontade consigo mesma; que não se preocupa se é considerada descolada ou sem graça; o Coldplay simplesmente não se importa, desde que sua música passe por sua própria aprovação. O guitarrista Jonny, 34, diz: “Esquentamos a cabeça apenas com o nós cinco, Brian Eno e Markus Dravs (produtor) vamos apreciar”.

Chris acrescenta: “Cada música passa por uma dura seleção só para ser uma candidata a ser gravada. Isso faz com o X Factor pareça um passeio no parque. Nós descartamos um álbum completo antes desse. Mas sempre acabamos fazendo isso”, Will, 33, diz: “Nós tínhamos começado um álbum acústico e, então, compusemos Paradise e concluímos que aquele negócio de acústico não tinha futuro”.

O baixista Guy, 33, acrescenta: “Fomos corajosos e ousados com essas músicas. Tem influências mais modernas, urbanas e do dance. Abordamos essas influências com muito mais confiança”.

Os últimos anos têm sido claramente de aprendizagem crescente para o Coldplay. Chris diz: “Vou ser sincero. No último álbum, passamos por coisas que jamais tínhamos passado antes, como ações judiciais e críticas realmente caústicas. Depois de todo esse sofrimento, isso te deixa mais coeso e deixa tudo aceso. Foi um fechamento de contas”.

O Coldplay foi acusado de plágio três vezes por sua canção Viva La Vida. Primeiro, pela banda norte-americana Creaky Boards e, depois, Yusuf Islam alegou que a música era semelhante a Foreigner Suite, uma de suas músicas. O Creaky Boards recuou, enquanto Yusuf declarou que não estava zangado e que “adoraria tomar uma xícara de chá com o Coldplay para que eles saibam que está tudo bem”.

Porém, em dezembro de 2008, o guitarrista americano Joe Satriani moveu uma ação judicial contra a violação de direitos autorais contra o Coldplay, alegando que Viva La Vida conteria cópias de sua faixa instrumental If I Could Fly. O caso foi abandonado em setembro de 2009 em um tribunal da Califórnia com ambas as partes concordando em fazer acordo fora dos tribunais. Chris diz: “Chegamos a um lugar muito rebaixado no último álbum onde não nos sentimos muito populares, mas foi revigorante como ele nos fez começar do zero. Uma lousa em branco. Tem tanta gente já tirou suas conclusões sobre nós que não tínhamos nada a perder”.

Mylo Xyloto é um álbum explodindo em cores. Paradise e Every Teardrop is a Waterfall estão no topo entre os seus sucessos mais cativantes. É Coldplay em sua fase mais pop, com claras influências urbana e do R&B, especialmente em Princess Of China, que conta com a colaboração de Rihanna.Chris diz: “Nós amamos a música da Rihanna. Amamos tantos tipos diferentes de música que realmente não há nada a perder refletindo isso no álbum”. É um álbum conceitual que segue dois personagens – Mylo e Xyloto – em um mundo assustador e opressivo.

Will diz: “Eles se apaixonam e tentam escapar juntos; as músicas acompanham o que acontece. Em Charlie Brown, eles estão fugindo; Paradise é sobre se sentir perdido. O fim é muito poderoso e é sobre o amor passando por cima de tudo”.

Jonny acrescenta: “As pessoas têm álbuns inteiro muito menos agora, mas queríamos que esse fosse ouvido dessa maneira [como uma totalidade]”.

Mylo Xyloto testemunha Brian Eno assumindo um papel mais extenso com o Coldplay. Deixando de ser apenas um produtor, Jonny diz que ele era “como um membro da banda”, unindo-se à banda para tocar teclado. Chris ri: “Da última vez, ele era como o Dumbledore. Ele aparecia, fazia uma mágica e depois desaparecia, deixando pistas enigmáticas sobre o que devíamos fazer”.

Guy acrescenta: “Mas, dessa vez, o Brian estava fazendo o que ele mais ama fazer – plantar as sementes de idéias, e deixá-las crescer”.

O álbum foi gravado em seu estpudio e também ao longo da estrada, no Japão, Austrália, Los Angeles e Chicago.Chris Explica: “Na manhã do Lollapalooza, tínhamos acabado a canção Up In Flames. Foi uma sessão de gravação à la Phileas Fogg [personagem central de A volta ao mundo em oitenta dias, de Julio Verne]. O Will achou que era boa também, então sabíamos que já podíamos entregar o álbum, já que ele é integrante mais crítico”.

Chris diz que estar longe de sua família […] é difícil, mas poderia ser pior. Ele diz: “Não é como estar em uma plataforma de petróleo ou ser um soldado. Estamos falando de ficar longe uma semana de cada vez e depois encontrar [a família] em Bognor ou em qualquer lugar que você esteja indo. E eu também compro um monte de Lego para levar para casa”.

Depois do show, partimos para uma festa em um clube chamado Trinity. A banda não tem uma reputação de baladeiros, mas eles estão de bom humor. O mágico David Blaine está lá, mostrando seus truques para a banda, equipe, familiares e amigos. Chris diz: “as coisas mudaram tão rápido para a banda que nós não temos muito tempo para refletir. Estamos muito gratos por onde chegamos, apesar de, às vezes, a sensação ser de uma turnê interminável!”. Jonny acrescenta: “Mas, felizmente, não dividimos mais o mesmo quarto”.

”Mas ainda nos trocamos na mesma van, como nos velhos tempos”, interrompe Chris. “É claro que um avião é muito melhor [?], mas, se você não vê mais a cueca do seu companheiro de banda, vocês não são mais uma banda de verdade”.

O Coldplay se acostumou, então, a ter fama, ser o artista principal de grandes festivais como o Glastonbury e tocar para 50.000 fãs numa noite? “Nunca é normal”, diz Chris. “Mas não é tão louco como costumava ser. Só consigo ser reconhecido quando estou com a minha esposa. E eles prestam atenção é nela, o que é ótimo. Faz pouco tempo, um taxista me disse: ‘Você parece com aquele cantor’. Eu disse ‘sou eu’. Mas eu nunca pensar que isso é a vida real. Em turnê, tudo gira em torno de você, então, voltar para casa f*** com a sua cabeça, mas é algo que você precisa. Um dia você é o artista principal em Wembley e, no outro, você está discutindo com um mãe na escola sobre o estacionamento. Isso sim é a vida real.

Fonte: The Sun

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