Nesta extensa matéria do famoso jornal norte- americano, Chris (tenta) dar uma de suas já notórias explicações sobre o mistério envolvendo o nome Mylo Xyloto, fala sobre o futuro do Coldplay (será que existe um?) e explica porque já considera o novo álbum um sucesso. Clique em leia mais para conferir a matéria completa!
Chris Martin é um dos maiores rock stars do mundo, faz parte de uma espécie para o qual atrasos são quase um direito. No entanto, ele estava cheio de desculpas ao aparecer em um restaurante no centro de Manhattan, sem nenhum membro da comitiva à vista, para uma entrevista para o New York Times. “Desculpa o meu atraso”, ele disse, vestindo uma camiseta que dizia “Don’t Mess with Texas” (Não Mexa com o Texas) levemente manchada e tênis gritantemente coloridos. Ele não portava nenhum acessório que celebridades usam para se disfarçar, como óculos ou um chapéu.
O Sr. Martin estava na verdade cinco minutos adiantado. Em uma discussão sobre o novo álbum da banda Mylo Xyloto (Capitol), ele se concentrou na “bagagem”, como ele definiu, de fazer parte do Coldplay. Para um homem que viu milhões de faces e soft-rocked (brincadeira com o soft rock, estilo onde a banda é comumente categorizada) todas elas – seu próximo compromisso era voar para o Brasil para tocar no enorme festival Rock in Rio – ele parece saber que o superestrelato no Rock não é o que costumava ser.
Tendo alcançado o topo do pop enquanto a indústria musical começava sua queda que duraria uma década, o Coldplay é possivelmente o último da linhagem dos grandes dinossauros do rock. Seus hinos cativantes, que lotam arenas, ajudaram a banda a vender mais de 40 milhões de álbuns, um feito quase impossível de se repetir nos dias de hoje.
“Eles são uma das poucas bandas de sua geração capazes de transcender os múltiplos formatos das rádios: rock, alternativo, Top40”, afirma Tom Poleman, presidente das plataformas nacionais de programação para o gigante da rádio Clear Channel. “Quando você possui uma fórmula assim, é como encontrar ouro.”
Em relação à bagagem, está tudo bem. Porém, por quase toda a sua carreira, o Coldplay teve de se provar herdeiro merecedor do título de maior banda. Por um tempo, isso significava basicamente superar a crítica de que era um “Radiohead mais “light”. Agora, com o lançamento de “Mylo Xyloto” em 24 de outubro, o Coldplay se encontra carregando o estranho fardo de ser uma das únicas bandas capazes de rivalizar com as vendas dos gigantes do pop – fazendo do seu sucesso ou fracasso um possível símbolo sobre a viabilidade comercial do rock.
E como se faz um belo álbum de rock à moda antiga? Se você for o Sr. Martin – para quem toda aquela coisa do frontman descolado nunca veio fácil – você começa por assistir vídeos de Bruce Springsteen e Bob Dylan.
“Eu estava assistindo muita coisa sobre o ‘Darkness on the Edge of Town’, e muito sobre o ‘Blonde on Blonde’ e o ‘Sgt. Pepper’s, todos esses discos de verdade”, declarou o Sr. Martin, que aos 34 anos de idade ainda possui aquele brilho de um jovem ainda maravilhado pela sua boa sorte, “e eu percebi que nós tínhamos de tomar uma decisão. Mesmo que o álbum seja uma espécie em extinção, será que poderíamos tentar fazer um bom e de forma coerente, mesmo que seja como levar um cavalo e uma carroça para uma conferência da Nascar?”
Durante uma conversa, o Sr. Martin é tão entusiasmado quanto suas canções são melancólicas, apesar de que ele mal pareça conseguir terminar uma frase sem um comentário autodepreciativo. Brincando sobre os paparazzi que perseguem sua esposa, a atriz Gwyneth Paltrow, ele se diz ser tão ‘desinteressante’, que é confundido por atores de filmes nos quais ele não atuou: “Mais pessoas se aproximam de mim para dizer o quanto eu estava bem em ‘Napoleon Dynamite’ do que em relação a estar no Coldplay“, afirmou sorrindo.
O Coldplay é uma banda do século 21 com ambições do século 20, as quais, por sua maior parte, têm sido atingidas. A banda tem se mantido consistentemente e imensamente popular mesmo que o rock tenha se retirado das paradas e se retraído como formato das rádios. “Viva la Vida or Death and All His Friends” abocanhou três prêmios Grammy e se tornou o álbum mais vendido no mundo em 2008, mais uma vez criando grandes expectativas.
Possivelmente, não há no rock do século 20 maior ambição do que o álbum conceitual de meio de carreira. “Mylo Xyloto” é a tentativa do Coldplay nessa categoria, livremente construído como uma história de amor baseada em uma distopia Orwelliana. Ao mesmo tempo, porém, que “álbum conceitual” frequentemente implica em “desastre de vendas”, “Mylo Xyloto” está recheado das grandiosas melodias, pianos suaves e cintilantes guitarras que os fãs do Coldplay esperam, junto de novos territórios para a banda explorar. Até a cantora Rihanna está presente em uma faixa mais R&B chamada “Princess of China.”
Kevin Weatherly, diretor de programação da influente rádio de rock de Los Angeles KROQ-FM declarou que “Mylo Xyloto” está cheio de hits em potencial. Mas ele também deu crédito a banda por manter seu foco em criar álbuns completos.
“Nós vivemos em um mundo de singles hoje em dia”, afirmou o Sr. Weatherly, “e existem apenas alguns artistas que fazem o que o Coldplay faz, que é entregar um disco completo de músicas de qualidade do começo ao fim.”
“Mylo Xyloto” passou por várias mudanças e viradas nos 18 meses que a banda trabalhou no disco. Jonny Buckland, o guitarrista, definiu como uma destilação de dois álbuns planejados, um acústico e outro eletrônico. As músicas também estão relacionadas a um projeto de animação abandonado, o que pode explicar os toques cinematográficos com vários interlúdios atmosféricos.
Como ajuda, mais uma vez a banda contou com Brian Eno, renomado produtor de David Bowie e Talking Heads, que foi o mentor do Coldplay em sua grande reinvenção em “Viva la Vida.” O Sr. Eno recebeu uma misteriosa creditação no álbum chamada “enoxificação”. O disco na verdade foi produzido por Markus Dravs, Daniel Green e Rik Simpson. (O Sr. Dravs, antigo assistente do Sr. Eno, já foi produtor do álbum “The Suburbs” do Arcade Fire e de “Sigh No More” do Mumford and Sons.).
“Mylo Xyloto” traz algumas novas cores à palheta do Coldplay, como os eletrônicos comprimidos que dão o tom imediato em “Hurts Like Heaven.” Porém, você mal tem que esperar 30 segundos da faixa para ouvir uma explosão de Coldplay clássico: os falsetos otimistas do Sr. Martin que fazem “ooh” e uma grande e presente guitarra. “Up in Flames” apresenta uma batida pesada e mecânica, assim como uma melodia tão tenra quanto qualquer uma que a banda já tenha produzido.
De acordo com o Sr. Buckland, 34, para representar um recomeço, o Coldplay queria um título que não pudesse ser “Googleado”. “Quando você está no seu quinto álbum, você será comparado com todos os seus trabalhos prévios e expectativas,” ele declarou falando ao telefone de Londres. “De uma pequena maneira, isso somos nós tentando nos livrar de todas essas expectativas.”
Quando perguntado sobre o título, o Sr. Martin descreveu um tipo de personagem mítico, símbolo da magia da inspiração artística.
“Música vem de um lugar que nós desconhecemos,” declarou. “Ela meio que vem através dos dedos e dedões. Então nós criamos o conceito de, e se você tivesse digitais musicais, como xylo toes (trocadilho com dedões).” Ele balança sua cabeça, irritado de ter entregado o segredo tão facilmente. E “Mylo”?
“É apenas um ótimo nome”, ele afirma, “para qualquer coisa”.
Desde o começo, os membros do Coldplay – além do Sr. Martin e do Sr. Buckland, há o baixista Guy Berryman e o baterista Will Champion, ambos 33 anos de idade – têm tido dificuldades para balancear seus papéis de músicos pop conquistadores mundiais com os de quatro caras que apenas não conseguem acreditar em suas sortes. Eles se conheceram como colegas de faculdade em Londres na metade dos anos 90 e chegaram à fama mundial em 2000 com “Yellow”, uma inesquecível canção de amor que mostrou que a jovem banda havia absorvido os melhores instintos comerciais de U2 e Radiohead.
Naqueles dias, o Sr. Martin era muito tímido no palco para se afastar muito de seu piano, mas ele logo obteve o antigo segredo da grande ordem dos showmen do rock n’ roll.
“Eu ainda estou aprendendo, mas tenho ótimos professores: Mick Jagger, Bruce Springsteen, Bono Vox,” afirmou. “A coisa mais importante que aprendi com eles é ser você mesmo, não importa o quão ridículo você pareça. Os shows ficam muito mais divertidos quando você vira aquela chave e diz: ‘Eu não ligo para a minha aparência. É exatamente isso o que eu quero fazer.’”
A reunião com o almoço foi uma continuação que o Sr. Martin havia organizado no dia anterior, antes de a outra entrevista – no hotel TriBeCa – ter começado. Altamente envolvido no ciclo de divulgação, ele estava ávido por satisfazer as necessidades de acesso da “mídia impressa”, ele afirmou enquanto cumprimentava um repórter.
Em ambos os dias, o Sr. Martin usou um par de tênis pretos e vermelho-fogo, com cadarços vermelho-pristino e uma lingueta grande demais, como uma versão futurísticas de dançarinos de break clássicos. Seu amigo Jay-Z havia perguntado sobre os tênis, informou o Sr. Martin, mas ele não possuía nenhuma informação – Eles haviam sido escolhidos por um estilista.
Ele e a Sra. Paltrow casaram em 2003 e os tablóides narram cada um dos seus passos, seja caminhadas com seus dois filhos – Apple, 7, e Moses, 5 – ou encontros duplos com Jay-Z e Beyoncé. (Com um sorriso e algumas palavras muito bem treinadas, o Sr. Martin se desviou de algumas perguntas sobre o seu casamento.)
Com seus companheiros de banda na sombra, uma tensão inevitável cresceu, e o Sr. Martin disse no passado que considerava uma carreira solo. Depois ele disse que “Mylo Xyloto” poderia ser o último álbum da banda, mas rapidamente ele se afasta dessa questão, e o Sr. Buckland também não parecia muito preocupado com a mortalidade do Coldplay.
“Nós não nos preocupamos com essas picuinhas ou nada do tipo,” afirmou o guitarrista.
Mais do que qualquer outra grande banda, o Coldplay tem tido que lidar com um grande e sonoro grupo de odiadores que, entre outras coisas, ridicularizam o Sr. Martin como talvez o homem menos macho do rock. (Ele não se ajuda neste aspecto, ao explicar as dificuldades de seus “exercícios femininos”.)
Mas nada cala odiadores como a sobrevivência. Tendo superado em vendas e longevidade a maioria de seus contemporâneos, o Coldplay tem gradualmente ganhado certo respeito. Um indício: grupos no Facebook uma vez populares como “Eu odeio tanto o Coldplay que tenho vontade de chorar” parecem ter diminuído.
“Somos muito gratos por nosso trabalho,” declarou o Sr. Martin. “Durante o tempo em que existimos, vimos muitas bandas ir e vir – mesmo pessoas que eram muito famosas quando lançamos nosso primeiro álbum. Então, quanto mais duramos, mas ficamos: ‘É incrível que ainda estejamos juntos’”.
Na indústria da música, existem algumas coisas que ajudam a afundar qualquer banda, não importa o quão talentosa. Uma é “não jogar o jogo” e não fazer rondas promocionais na TV e nas rádios, uma tarefa que tende a lubrificar todas as engrenagens importantes.
Isso nunca foi um problema para o Coldplay.
“Existem muitos artistas que venderam muito menos e não estão dispostos a fazer o que o Coldplay ainda faz,” declarou o Sr. Weatherly. “Tem a ver com sua ética de trabalho e seu compromisso com sua arte.”
No nível do Coldplay, parte do trabalho não soa tão ruim. No dia 26 de outubro, a American Express irá patrocinar uma transmissão ao vivo de um show em Madrid para o YouTube e o Vevo, dirigido por Anton Corbijn, o diretor e fotógrafo conhecido pelo seu trabalho com o U2.
Tudo isso dá ao Coldplay uma vantagem no mercado e os dois primeiros singles do novo disco, “Paradise e “Every Teardrop is a Waterfall,” já venderam quase 1 milhão de downloads.
É provável que a banda atinja o topo das paradas mais uma vez, porém, com todos os números da indústria caindo – o único blockbuster deste ano é o disco “21”(XL/Columbia) da Adele, um cavalo negro em um mundo de Lady Gaga e Beyoncé – não está mais claro o que é um hit. A indústria estima que as vendas de “Mylo Xyloto” na semana de seu lançamento girem em torno de 400,000 e 500,000 cópias – números menores do que a banda teve com seus últimos dois discos (em torno de 700,000 cópias vendidas), mas ainda suficiente para ser um dos grandes lançamentos do ano.
Para o Sr. Martin, o álbum já é um sucesso. Pensando sobre o árduo processo de gravação, ele citou uma recompensa que muitas bandas sonham, porém poucas alcançam.
“É desafiador”, ele disse, “mas só porque você sabe que a recompensa será um campo de pessoas no México cantando junto com você, o que é uma injeção de adrenalina que faz valer a pena todas as horas de ‘Oh, meu Deus, isto não funciona’. Se você entende isso, que o todo é mais importante que as partes, então esse é a sua passagem para o mundo inteiro.”