Com o lançamento do EP “Every Teardrop is a Waterfall” nesse domingo(26), muito se comenta sobre as três músicas que o consistem. Mas afinal, o que esse EP representa para o Coldplay? Existe um novo e velho Coldplay? Quanto custa uma passagem para Marte? Leia tudo isso clicando no “Leia Mais”
‘Every Teardrop is a Waterfall’ chegou a algumas semanas dividindo diversas opiniões. Alguns estranharam suas passagens eletrônicas, outros adoraram seu ritmo, seus riffs, sua levada quase épica. Mas, ao mesmo tempo, vimos um Coldplay ousado, disposto a se reinventar diversas vezes.
Pode-se interpretar a primeira música do EP ETIAW como algo comercial, mas eu lhes pergunto: o que é comercial? Comercial é seguir uma única fórmula, algo que a certeza das vendas é tão grande que não precisa ser mudada. O Coldplay já se rendeu ao comercial, no passado, repetindo sua fórmula em diversas músicas, mas não agora. Eu fico me perguntando quantas mãos foram necessárias para tornar ETIAW possível. Com certeza não foram apenas 8, como no passado. Todo esse conjunto de experimentalismo e melodia trouxe uma música orgânica, mas difícil de ser digerida (eu pessoalmente: demorou umas boas 50 vezes para passar a gostar da música).
Os maiores méritos das três músicas que constituem esse EP são o trabalho. Cada instrumento está tão bem encaixado, cada riff de guitarra (uma pequena pausa para um aplauso em conjunto ao senhor Jonny Buckland, que na minha humilde opinião está fazendo de longe suas melhores músicas. O impacto de sua guitarra conseguiu ser tão marcante quanto o piano. E mais: Jonny conseguiu criar uma identidade própria. Conto nos dedos das mãos os guitarristas que conseguem isso), cada centímetro de produção (parabéns aos produtores, Markus Dravs e Brian Eno), até mesmo o baixo que é tão importante quanto discreto. Isso sem esquecer a voz do Chris, que dessa vez vem em diversas formas.
Passando a música principal, temos Major Minus, que nos apresenta um cenário quase que oposto, o violão acústico é contraposto com uma voz estranha, quase irreconhecível. Demora a perceber que na verdade são as vozes do Chris e Will mixadas, tornando-se uma única voz. Mas uma vez, aqui o mérito é o trabalho. Os riffs de guitarra estão tão bem colocados que parecem quase naturais. A música passa em um ritmo rápido, com gritinhos e um falsete poderoso do Chris. Apesar de ser uma música boa, fica um tanto quanto espremida entre duas músicas excelentes, e nela se sente uma falta de “algo mais” para que ela seja elevada ao patamar de suas “irmãs”. Em minha opinião, Major Minus provavelmente não entrará no álbum, já que faz o papel de “b-side” em todas as edições do single ETIAW.
Até que chegamos a Marte, ou quase isso. Quase isso porque a imersão causada por “Moving to Mars” nos leva para outro mundo por alguns instantes. Não estamos mais na terra, e sim no espaço, ultrapassando satélites e estrelas. Na letra da música pode-se encontrar diversas interpretações, quem leu o livro “O Guia do Mochileiro das Galáxias”, por exemplo, pode achar que essa é mais uma música em homenagem à obra de Douglas Adams (sem querer dar spoiler, mas a “história” da letra se assemelha à do livro). Outra dica de interpretação da música veio do leitor “Quim Buckland” nos comentários: MTM pode ser considerada uma música espiritual. Como? Podemos ver diversas referências e metáforas ao céu e ao fim do mundo, com diversas passagens falando sobre o fim da terra, com governos caindo, porém, tudo no final apenas é um “retorno para casa” com um lugar acima das estrelas, talvez nos mudando para Marte.
Mas “Moving To Mars” traz muito mais que uma letra incrível (em minha opinião, sua letra está entre as melhores do Coldplay. Você pode conferir a letra aqui.). O piano inicial nos coloca em um estado zen, e somos contemplados com maravilhas do universo, com grandes viradas instrumentais, violinos, e um clima cria por diversos pequenos sons e detalhes – conhecendo Brian Eno, eu daria a ele parte do mérito por isso. MTM nos contempla com uma grande obra de arte, cujos detalhes fazem muita diferença.
Portanto, MTM nos traz o velho Coldplay? Não. Primeiramente, gostaria de colocar minha opinião sobre essa história de “velho” e “novo” Coldplay. Não existe tal coisa. O Coldplay sempre foi o mesmo, os mesmos quatro caras que se juntaram e formaram uma banda. O Coldplay sempre esteve lá, tanto em Sparks, quanto em Clocks e em Viva La Vida. O Coldplay não mudou, e sim evoluiu dentro de sua própria sonoridade, a estagnação dentro de um estilo musical pode significar a morte para um bom artista, afinal “se já lançamos o nosso melhor, qual a razão de existir?”. Podemos fazer a divisão através de estilos e eras de cada álbum, mas nunca dizer que o “velho Coldplay” não existe. Passando por isso, MTM não nos traz o estilo do Coldplay de outrora. Prova disso é a própria música. O piano inicial pode enganar, mas enquanto Chris Martin praticamente comanda sozinho a música, muitas coisas acontecem no background, tudo se preparando para a grande virada que ainda iria ocorrer. MTM poderia muito bem ser mais uma canção, se não fosse sua atmosfera, os violinos que o procedem, a grande virada no meio da canção, o backing vocal quase imperceptível que persegue a voz de Chris Martin com maestria. MTM é muito mais complexa que uma simples música piano/voz, e a cada segundo nós ouvimos a tal evolução musical da banda que transforma MTM em, não uma música de outra era, e sim tão perto do Coldplay atual como nenhuma outra.
O EP de “Every Teardrop is a Waterfall” nos traz um Coldplay mais maduro, mais experiente, mas, ao mesmo, são os mesmos garotos querendo mudar o mundo, os mesmos garotos que formaram uma banda há duas décadas atrás.
P.S.: Uma pena que Charlie Brown não faz parte desse EP. Mas enfim, essa música merece um EP só para ela, hehe.