[Let’s Talk 18] Midnight e seu experimentalismo

06 abril, 2014

Não há dúvidas que Midnight é até então a música mais experimental e diferente a ter lugar em um álbum do Coldplay. Na verdade a primeira música divulgada do novo álbum, Ghost Stories, pode ter sido o maior susto que já tomamos, tamanha a estranheza sonora. E tudo isso a torna uma música mais complexa de se analisar, o que naturalmente faz com que as opiniões se dividam. Se você gosta do estilo indie folk e eletrônico experimental presentes na música, essa com certeza foi uma ótima surpresa. Se você gosta de estilos mais voltados ao rock alternativo e/ou POP, provavelmente torcerá o nariz.

Pessoalmente me encaixo melhor no primeiro grupo, onde Midnight foi uma bela surpresa, que não só demonstrou a capacidade absurda do Coldplay de se reinventar, como também agradou meu gosto musical pessoal. Tudo isso em conjunto ao fato da canção ser totalmente diferente das outras três apresentadas (Always In My Head, Magic e Another’s Arms), o que sinaliza que podemos esperar muitas surpresas vindas da banda. Mas se você faz parte do segundo grupo, o que realmente não gosta de Midnight por seu estilo, saiba que não há problema nenhum com isso, apenas que seu gosto não foi alcançado, servindo também a outras canções como Magic ou Another’s Arms.

Na verdade Midnight não é a primeira canção do Coldplay que toca o experimentalismo dessa forma. A canção ‘A Spell A Rebell Yell’ é a primeira a vir a cabeça dos fãs mais atentos. O b-side da era Viva La Vida flertava com o experimentalismo de uma forma similar a Midnight, e consequentemente também trouxe debate na época de seu lançamento. Outras canções como ‘Chinese Sleep Chant’ e ‘Goldrush’ também experimentam, cada uma de sua maneira.

A Spell A Rebell Yell

Mas não é o experimentalismo em si que destaca Midnight do som cotidiano da banda, e sim três outros fatores. Em primeiro lugar, como citado acima, Midnight é a primeira música experimental a passar pela peneira de canções e ocupar um lugar em um álbum de estúdio. Segundo se deve ao fato da canção não ter um refrão bem definido, o que causa estranhamento não só em relação as músicas do Coldplay, como a maioria das músicas lançadas atualmente. Não ter um refrão muitas vezes pode ser um suicídio comercial, e as bandas e gravadoras sabem disso. Provando o status alcançado pelo Coldplay, que não só permitiu lançar uma canção como essa, como colocá-la em destaque. Em terceiro e último, e talvez o mais polêmico dos pontos, é a distorção eletrônica aplicada na voz do Chris, que ao contrário do eletrônico utilizado em músicas como Paradise e Magic, não serve com intuito de criar uma camada mais POP, e sim servir ao conceito e ambiente da música.

Esses três pontos tornam Midnight tão amável ou odiável. Mas também nos fazem questionar suas influências e em que cenário a canção se encaixa. Na verdade o grande objetivo desse Let’s Talk é essa descoberta, que nos levará a uma pequena lista de canções que foram inspiradas ou se inspiram de forma semelhante. Vamos lá:

Bon Iver

A comparação entre Midnight e Bon Iver é óbvia. Tão óbvia que a maioria de vocês já deve ter ouvido. Belas melodias, vozes distorcidas e experimentalismo inundam as músicas de Iver, se tornando uma das maiores fontes em que o Coldplay bebeu.

Peter Gabriel

Das influências mais antigas estão as canções de Peter Gabriel, que usa do experimentalismo eletrônico desde muitas décadas atrás.

Radiohead

Se nos dois primeiros álbuns de sua carreira o Coldplay sofreu com comparações a Radiohead, agora a banda revisita os momentos mais experimentais de Thom Yorke e companhia, que em seus álbuns Kid A, Amnesiac e King of Limbs demonstraram um som leve, experimental e distorcido.

Sigur Rós

Alguns membros do Coldplay já se declararam grandes fãs do som da banda islandesa Sigur Rós. Que traz muitos dos elementos de Midnight.

Daughter

Daughter não conta como uma influência direta a Midnight, já que se trata de uma banda bem jovem. Mas se trata, na minha opinião, do grupo atual que compõe as melhores músicas leves, obscuras e que andam de mãos e alma dadas com a melancolia de Midnight.

E por último, e não menos importante, ouçam Midnight novamente:

Oh I'm going to buy a gun and start a war. If you can tell me something worth fighting for.

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