Telescope Lens #especial – Feliz aniversário, MX! [pt.1/2]

27 outubro, 2012

Há um ano foi lançado o quinto álbum do Coldplay, Mylo Xyloto. Começando pelo nome, o trabalho gerou confusão entre o público e, sobretudo, dividiu opiniões. Qualquer que tenha sido a reação dos fãs (os antigos e os que se tornaram admiradores da banda com o álbum), Mylo Xyloto está marcando a história do Coldplay. É a ele que se dedica esse Telescope Lens especial. Incluímos nele algumas entrevistas que, na ocasião do lançamento, não pudemos postar aqui. Para comemorar, ponham o álbum para tocar e cliquem em ‘leia mais’ para ler as matérias :-)

Batalha colorida
La Republica (publicação italiana)

O Coldplay urina na frente de John Lennon. Do vaso sanitário, eles olham para os Beatles em Hamburgo. Mas não é falta de respeito – é porque, no banheiro da Bakery, eles penduraram duas fotos na parede: uma de John Lennon […] e uma dos The Beatles na Alemanha em 1960, antes de Ringo Starr entrar na banda, quando eles não eram muito famosos.

“Posso ir ao banheiro?”, pergunta Guy Berryman, baixista do Coldplay, o mais descolado da banda, um cara moreno e boa pinta. Ele tem uma queda por maratonas, está acostumado a correr e a correr com o Chris. Estranho: Guy é perigosamente parecido com Joseph Fiennes, que se apaixonou com Gwyneth Paltrow em Shakespeare Apaixonado. E Gwyneth é a estrela de Hollywood, casada com o Chris. Seria tão legal perguntar se ele foi cotado para o filme e falar sobre as semelhanças…

Mas eu não estou aqui para falar sobre filmes e sim sobre o novo álbum do Coldplay, Mylo Xyloto (o primeiro a perguntar ‘Mas o que caral**** significa isso?’ vai ganhar uma pelúcia Mylo Xyloto). O álbum será lançado em outubro e foi antecipado pelos singles ETIAW e Paradise.

Vejo Berryman desaparecendo em um outro quarto, então, subo para o segundo andar da Bakery. Tem grafitti em todo canto. Isso me faz lembrar da atmosfera do novo álbum e do clipe de ETIAW. O Will vem até mim – ele é o faz-tudo da banda, o cara que toma as decisões na gangue. Mas a minha entrevista está planejada para ser com o Chris e o Jonny. Então, olha lá: lá estão eles sentados em uma mesa, olhando a foto de um jovem Elvis Presley usando chapéu de cowboy, entre a mãe, Gladys, e o pai, Vernon. “É isso aí, a gente é fã do Elvis, é claro!”. Soa estranho: o Coldplay tem curiosidade pela história do rock, tem respeito pelo passado, mas, ao mesmo tempo, juntamente com [Brian] Eno, estão contemplando um futuro para as suas músicas para além do rock. Essa é a razão por trás de Princess Of China – um dueto com a rainha do RnB, Rihanna.

Vamos começar com o título (sim, nós queremos falar sobre isso também!). Chris, o que significa ‘Mylo Xyloto’? De que língua vem essa expressão? Parece grego antigo, mas…
É inglês muito, muito moderno! Tem que ser pronunciado [máilou záilotou]. Duas palavras inventadas pela gente mesmo, assim como o nome da banda. ‘Coldplay’ não quer dizer nada. Peraí… Não é verdade que a gente não quer dizer nada com isso: ‘Coldplay’ não existia como palavra no dicionário, mas, a partir de 1998, ela passou a identificar a gente. Quanto a ‘Mylo Xyloto’, não é uma palavra que você pode encontrar pesquisando na internete. Ou seja, você não pode confiar na internete para saber o que significa. A gente queria alguma coisa nova, uma palavra original e desconhecida, ligada somente a nós e a mais nada. É uma palavra como ‘yahoo’, ‘google’ e ‘iTunes’: misteriosa e diferente de tudo o que você poderia encontrar pesquisando na web…

Chris, em ETIAW, você canta: ‘I turn the music up/I shut the world outside’. É uma coisa meio adolescente, não é?
Não é só isso. É normal para gente fugir da realidade através da música. A gente faz isso. Por dois anos inteiros, antes das sessões de estúdio do MX, eu corria todas as manhãs e, todo dia, eu ouvia um álbum diferente. Eu estava sendo um fã de música de novo: eu tinha me esquecido como era maravilhoso ouvir a música dos nossos colegas.

Falando sobre Charlie Brown, ouvindo essa música, você percebe que você gosta muito de Arcade Fire.
Sim, a gente não tem medo de confessar isso. Este amor por eles tinha que ser externalizado em algum lugar e de alguma maneira. É muito importante para gente manter o nosso fascínio pelas outras bandas ativas e sem sentir inveja. Tudo bem competir, mas você tem que reconhecer o valor de outras bandas. Depois do nosso Grammy, o Radiohead mandou uma carta para a gente dando parabéns.

MX é o quinto álbum de vocês, mas, desculpa aí, eu ainda não entendi uma coisa: o Buckland é ou não é um grande guitarrista? Chris, o que você acha?
Ele não tem muita fama, porque ele não fica exibindo técnica. Mas eu acho que esses “deuses da guitarra”, esse pessoal que fica tocando extensos solos de guitarra, são ridículos. O Jonny é ótimo porque ele compõe melodias fantásticas. Eu amo ele. Sim, o Matt Bellamy é um músico brilhante e o Jonny Greenwood é muito bom, mas, na minha opinião, o Jonny ainda é o número 1.

E você, Buckland, qual é a sua resposta?
Meu riff favorito é o de ‘Cinnamon Girl’, do Neil Young, de 1969: uma só nota.

É verdade que MX foi influenciado por 1984, do George Orwell e The Road, de Cormac McCarthy?
Sim, a idéia por trás desse álbum é a história de duas pessoas oprimidas pelo mundo em que elas estão vivendo. Eles se encontram, se apaixonam e tentam fugir juntos. Paradise fala sobre uma garota que está se sentindo perdida, Charlie Brown é o personagem masculino fugindo com ela. O álbum começa como um momento ruim, mas tem um fim pacífico e doce.

Assim como em ETIAW, uma música dominada por um ritmo eufórico, com alguns elementos de ‘house’ do final dos anos oitenta. […] Vocês foi para a Espanha durante o verão para dançar, como milhares de ingleses?
Quem? A gente? Não, a gente estava fazendo o ensino médio nessa época! A gente ia para a Espanha nas férias, mas junto com os nossos pais. Eles mandavam a gente ir para a cama às dez, nunca estiveram em uma discoteca…

Então, onde foi que você ouviu ‘Ritmo de la noche’, que está n plano fundo de ETIAW?
Em um filme chamado Biutiful, dirigido por Iñárritu e protagonizado por Javier Bardem. Tem uma cena em um clube e alguém toca ‘Ritmo de la noche’, mas o original é do Peter Allen, um cantor dos anos setenta.

É uma música perfeita para dançar. Por que vocês deixaram o Swedish House Mafia fazer um remix?
Inicialmente, a gente tinha pedido para a máfia siciliana, mas eles não estavam tão interessados. A gente pode fazer piada com a máfia siciliana, não pode? A gente ama a Sicília. Você acha que vão levar a piada a sério?

Não, acho que não, mas é melhor seguir com a entrevista. Vamos falar do projeto gráfico do MX. Estou vendo dezenas de livros sobre o graffiti de todas as partes do mundo. Todo o trabalho foi desenvolvido por vocês e pelo Paris, um artista de Bristol [http://paris1974.com/]. Por quê?
É liberdade de expressão total. A gente pinta – ou, pelo menos, a gente finge que está fazendo alguma coisa com latas de spray. A gente pensou em um projeto gráfico muito legal, mas, em um segundo momento, a música do MX obrigou a gente a experimentar. A gente está na ativa há mais de 10 anos, por isso às vezes a gente se vê impelido a ir o mais longe possível. Todo mundo tem uma opinião sobre a gente e, na internete, tem muita negatividade. Então, a gente parou e disse: vamos inventar o nosso próprio mundo particular, com as nossas cores e a nossa arte de rua. Como em uma gangue: para a gente se distinguir e para a gente não se sentir tão amedrontado.

Vocês têm medo de alguma coisa? Por quê? Vocês venderam milhões de cópias e Viva La Vida foi o álbum mais vendido de 2008! Chris, do quê você tem medo?
De nada, na verdade! Mas quando uma banda se torna grande e importante – e a gente foi por um tempo (O quê? Ele está sendo é humilde agora?), você chama a atenção de gente demais e nem todo mundo despende palavras gentis com você. É por isso que eu nunca fiz uma pesquisa sobre a gente na internet.

Com alguns versos estranhos como “I’d Rather be a comma than a full stop” [Prefiro ser uma vírgula do que um ponto final], você estava pedindo por isso!
Os meus próprios parentes foram os primeiros! O meu tio me escreveu uma carta e disse que essa parte de ETIAW é aterrorizante! Mas, na minha opinião, é uma coisa boa: pelo menos eu não estou morto. Tem uma pausa, mas algo vai acontecer amanhã.

Agora, eu mesmo vou fazer uma crítica. Por que, em seus últimos shows, vocês estão fazendo uma homenagem para a Amy Winehouse cantando o macabro verso ‘They tried to make me go to rehab and I said no, no, no’?
Porque a gente tinha alguns shows durante a semana em que a Amy foi encontrada morta. E é uma grande música, na verdade! Até a Apple e o Moses costumam cantar ela. E eles também sabem cada todas as músicas em que a Katy Perry canta sobre rohypnol e outros remédios. Eles também repetem um verso de ‘Lollipop’ do Lil Wayne: ‘She said lick like a lollipop’ [Ela disse para lamber como um pirulito]. É só música pop, nada para se preocupar.

  

  

  

Agradecimentos pela tradução para o inglês: coldpatrix (Coldplayzone), via Coldplaying

People Magazine
(publicação estadunidense)

Você descreveria Mylo Xyloto como um álbum conceitual?
CHRIS: Se fosse 1974, eu descreveria. Mas, em 2011, você não realmente tem permissão para admitir isso.

Com álbuns com mais ritimo, você tem que dançar mais. Então, como é a sua dança?
Eu seria mandado para casa logo depois do primeiro teste para ‘So You Think You Can Dance’ [concurso de dança televisivo]. Minha dança é um tipo de espasmos controlados. Estou plenamente consciente que pode parecer ridículo. Mas eu danço com sinceridade!

Qual música sempre faz você ficar com vontade de dançar?
São duas: ‘Stayin’ Alive’, dos Bee Gees, e ‘Dont Stop Till You Get Enough’, do rei do pop.

Como o dueto com a Rihanna em ‘Princess of China’ surgiu?
Eu perguntei para ela quando a gente fez um show de ano novo, com o Jay-Z, em Las Vegas. Eu me sinto um pouco intimidado pela Rihanna porque eu sou um grande fã, e você sabe, as meninas são intimidantes, especialmente as famosas.

Cinco álbuns do Coldplay: qual é a maior diferença entre o mais recente e o primeiro?
Bem, nesse último, eu realmente tenho um penteado! Antes, ou eu raspava o cabelo ou ele ficava num comprimento aleatório. E eu provavelmente não acreditaria que estaria casado com quem estou agora. Eu ficava trocando apertos de mão com todo mundo.

Qual é sua música favorita do Coldplay?
‘Fix You’ é a música por que eu sou mais agradecido. Essa música ajudou a gente a superar um momento muito obscuro para a banda – a gente perdeu o rumo por um tempo. Mas as minhas músicas preferidas são sempre de outra pessoa, como “Empire State of Mind”, “Use Somebody” ou “Someone Like You”. Essas músicas me fazem pensar “de volta para o trabalho!”.

Já que você é amigo de Jay-Z, algum conselho para os futuros pais?
Cara, eu sou a última pessoa que pode dar conselhos. Todos os dias, é como se você estivesse blefando da melhor maneira possível e tentando não fod** com tudo.

Onde você vê a si mesmo e o Coldplay daqui a 10 anos?
Eu adoraria se a gente fosse tão próximo como que é hoje. Eu não consigo ver a gente não querendo tocar música junto, mesmo que seja só do lado de fora do Taco Bell [rede de restaurantes dos EUA].

Agradecimentos: ashleyMN28, via Coldplaying

Parte 2 | Confira aqui as demais edições do Telescope Lens

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