Chris Martin no Howard Stern – parte 4

26 março, 2012

Seguimos com a tradução da entrevista que o Chris concedeu a Howard Stern. Nessa parte, o Chris fica visivelmente incomodado quando Stern começa a abordar questões pessoas que sabemos incomodarem o Chris. De qualquer forma, tal como nas demais parte da entrevista, diversas idéias interessantes são expressadas aqui.

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[Chris] Independente do que tenham escrito, você simplesmente esquece tão logo você sobe no palco porque todas aquelas pessoas não apenas estão lá para te ver, como também gastaram o dinheiro delas para isso, elas enfrentaram o trânsito, elas estão aqui de corpo e alma e pagaram para isso! Ou seja, por que eu vou me importar com o que alguém escreveu –
[Robin] É, por que os fãs não seriam mais importantes do que um cara qualquer que –
[Chris] Às vezes, você pode acabar dentro de uma bolha e você não encontra com ninguém, você não encontra com ninguém que ouve as suas músicas; você só fica sabendo do lado ruim das coisas.

[Howard] Já aconteceu de alguma música que você achava horrível ter se tornado um sucesso?
[Chris] Sim, uma.
[Howard] Qual?
[Chris] Speed of Sound.
[Howard] Você acha que Speed of Sound é uma música ruim?
[Chris] Não, é só que a gente fez uma gravação ruim.
[Howard] Toca um pouco de Speed of Sound, por favor.
[Chris] Eu não estou a fim, na verdade. [Chris começa a tocar o comço de Speed of Sound, a partir de 00:45] Eu até gosto da música, eu só acho que a gente não conseguiu acertar na gravação.
[Howard] E você não agüentar escutar essa música? É por isso que você não agüenta tocar essa música?
[Chris] Isso.
[Howard] Sério? Isso te tortura.
[…]
[Chris] Como eu disse, o público pode sacar bem rápido se você não está convencido de alguma coisa.
[Howard] Então, por que não tocar a música nos shows até vocês gostarem? Por que você não acerta a gravação aqui e me mostra como ela deveria ser feita?
[Chris] Não, não…
[Howard] Pára de ser fresco!
[Chris] Eu não estou sendo fresco.
[Howard] Vira homem!
[Chris] Eu sou homem, ca****! [risos]
[Howard] Toca a po*** da música do jeito que ela deveria ser tocada e faz isso do jeito que você acha que devia ser feito.
[Chris] Eu não quero tocar!
[Robin] Vocês parecem que estão na escola.
[Howard] Você quer que eu vá aí?
[Chris] Pode vir!
[Howard] Não, eu tenho medo de você.
[Chris] Eu agüento.
[Howard] Tragam a minha arma! [risos]
[Chris] Aposto que tem programas seus que você não acha que foram tão bons.
[Howard] Nunca! [risos] Não, na verdade, a maioria deles é mais ou menos. Eu entendo o que você está dizendo e eu concordo, mas eu pensaria que… Veja, eu não sou um artista de estúdio, mas seria de pensar que você ia querer que a música chegasse no público da maneira que você achasse que ela deveria ser. É uma música brilhante!
[Chris] É uma boa música, mas a gente fez músicas muito melhores desde então.

[Howard] Toca um pouco de The Scientist. [Chris começa a tocar The Scientist a partir de 2:03]

[Howard] Meu deus, isso foi lindo! Você nunca se viciou em drogas ou algo assim?
[Chris]
[Howard] Ahn?
[Chris]
[Howard] Sim ou não?
[Chris] Acho que é tão chato falar sobre isso.
[Howard] Você sabe por que eu estou te perguntando isso? Porque eu acho que… É engraçado porque, quando eu estava vendo você cantar, eu fiquei pensando num cara que participou do programa há muito tempo, o vocalista do Stone Temple Pilots.
[Chris] O Scott?
[Howard] Isso, o Scott Weiland. Eu fico pensando no quanto esse cara é incrivelmente talentoso e na voz incrível que ele tem. Eu fiquei aqui assistindo você e admirando a sua voa incrível. Aliás, você é muito sortudo porque você não apenas sabe tocar, como também sabe cantar! Há tantas pessoas que compõem músicas, mas não conseguem cantar elas, não conseguem executar elas. Isso deve ser frustrante. Enfim, o que me deixa pu*o é que esse pessoal estraga o talento deles se viciando em droga. Eu tenho a impressão que isso acaba com o espírito. Você concorda?
[Chris] Mas ele melhorou bastante, não é?
[Howard] Muito. Mas, enfim, você é um viciado?
[Chris] Eu acho que muitas pessoas que entram em turnê usam remédio para dormir e coisas assim.
[Howard] É verdade. Você ficou viciado nisso?
[Chris] Si– Mas eu não acredito na idéia de expressar o número de CDs que você vendeu dizendo quantas pílulas você tomou.
[Robin] Mas você não está usando propofol para dormir, está?
[Howard] Acho que tem alguns músicos que ficaram se gabando por causa da quantidade de remédio que eles tomaram porque eles fizeram com que eles ficassem meio doidões [?].
[Chris] Mas faz mesmo. É isso que me deixa pu*o. As pessoas ainda acreditam nesse mito do rock’n’roll, mas é tudo mentira. Não existe um conceito do tipo ‘ser descolado’. Ser descolado, para mim, é ir atrás do que você acredita. Simples assim. Não é uma questão de usar as mesmas drogas que tal pessoa usa ou vestir as mesmas calças que elas. Odeio isso.
[Howard] Eu fico deprimido quando era criança e os Beatles passaram por aquela fase de uso de drogas. A música era fabulosa e interessante, mas eu ficava preocupado com a possibilidade de acontecer alguma coisa com aqueles caras que eu venerava. Eu fiquei aflito com eles. Eles estavam adentrando numa área em que podiam facilmente perder a cabeça. É por isso que eu estou te perguntando. Você parece estar sob controle.
[Robin] Você não parece torturado.
[Chris] É que eu simplemente não acredito em falar sobre esse tipo de coisa.
[Howard] Então você também tem problemas.
[Chris] Não um problem– Não, eu… Eu não sei.
[Howard] Você não sabe se você tem um problema. Então, você está na estrada, não está conseguindo dormir, então, decide tomar um remédio.
[Chris] Isso não é bom território para mim.
[Howard] Por quê? Eu não estou entendendo.
[Chris] Por que é uma idéia batida e velha.
[Howard] Então, você realmente tinha um problema?
[Chris] Acho que todo mundo tem algum tipo de problema. Eu não acho que, por você etsra numa banda, o seu problema é mais interessante.
[Howard] Você teme que isso vai encorajar as pessoas a usarem drogas?
[Chris] Não, eu só temo que isso seja meio irritante.
[Howard] Irritante? Por que você tem tanto medo de falar sobre a sua vida? Por que você acha que o que você tem a dizer sobre a sua vida é chato?
[Chris] Bom, eu canto sobre ela.

[Howard] Você canta belas canções de amor. Você não compõe músicas de amor para a sua esposa?
[Chris] Ela está lá em algum lugar.
[Howard] Você já escreveu uma música de amor para ela?
[Chris] Não as que estão nos álbuns; tem sacanagem demais [risos]
[Howard] Você nunca gravou uma música de amor para a sua esposa? Viu? Isso de novo é uma coisa que eu não consigo entender. Você compõe belas músicas de amor e, obviamente, você foi inspirado por mulheres em sua vida. É uma mulher imaginária quando você se inspira numa mulher?
[Chris] Às vezes.
[Howard] Por que você não poderia gravar uma música – Parece que tem muito temor no ar, como se você temesse que as coisas se tornassem públicas.
[Chris] Mas não é disso que a gente está falando.

[Howard] Green Eyes: essa é uma música sobre a Gwyneth!
[Chris] Não, na verdade, essa é de bem antes da gente ter se conhecido.
[Howard] Droga! [risos]
[Robin] E você pensou que tinha descoberto alguma coisa!
[Howard] Mas eu não consigo entender, Chris, por que você não gravaria uma música –
[Chris] Mas eu gravo, não sei por que você está dizendo que eu não gravo.
[Howard] Porque eu perguntei se você já tinha escrito uma música para a sua esposa e você disse que nunca inclui nos álbuns músicas sobre a sua esposa.
[Chris] Não, você disse, ‘uma música de amor específica’– Não sei, cara, eu não tenho uma resposta para você. Eu me sinto tão desconfortável com esse tipo de pergunta.
[Howard] É mesmo?
[Chris] Tudo o que está no álbum é sobre a minha vida, então, se você encontrar uma música de amor, dá para conectar os álbuns, entende?
[Howard] Mas você não vai se comprometer?
[Chris] Eu não quero me comprometer.
[Howard] Você não quer se comprometer por quê?
[Chris] Porque, depois que você lança uma música, ela pode ser o que qualquer um quer que ela seja.
[Howard] Você nunca chegaria na sua esposa depois de ter ficado até as duas da manhã compondo e diria ‘Amor, eu acabei de compor uma bela canção para você e eu quero tocá-la para você’?
[Chris] Você está me deixando todo sem graça! [risos]
[Howard] Você faria isso?
[Chris] Provavelmente.
[Howard] Você fez isso! Isso deve ser o tipo de coisa que deixa a sua esposa empolgada, não?
[Chris] Eu não vou falar sobre isso, Howard.
[Howard] Como assim? Sobre compor músicas sobre a sua esposa?
[Chris] É diferente porque você sabem quem é a minha esposa.
[Howard] E daí?
[Robin] Eles não desfilam em tapete vermelho!
[Chris] O que eu estou dizendo é que tudo o que a gente canta é de verdade, então, quando a questão for amor, você pode somar dois mais dois.
[Howard] Me escuta com atenção. Vamos tocar uma das suas músicas porque o pessoal adora a sua música. Depois, a gente fala sobre o novo álbum.

[Howard] Viva La Vida: fale sobre ela. Outra música que você terminou em dez minutos?
[Chris] Essa é a minha preferida.
[Howard] A sua música preferida entre todas que você já compôs? Por quê?
[Chris] Tirando uma música chamada Paradise. E The Scientist. Eu gosto de muitas delas.

[Howard] Alguns compositores tratam as músicas deles como se fossem os filhos. […] Você quer proteger [?] todas as suas músicas. Vocês têm os direitos sobre as músicas de vocês, não é?
[Chris] Não, a gente praticamente não tem direito sobre quase nenhuma delas.
[Robin] Sério?
[Howard] Vocês não têm a propriedade autoral das músicas de vocês?
[Chris] Eu não tenho certeza. Tem que perguntar para o nosso empresário.
[Howard] Voces venderam os direitos autorais?
[Chris] A gente não têm posse sobre os direitos por pelo menos vinte anos ou algum assim.
[Howard] Mas vocês têm direitos sobre a reprodução?
[Chris] Só de uma parte.
[Howard] Por que? Vocês assinaram um contrato ruim?
[Chris] Não, a gente assinou um bom contrato. A gente tem uma parcela grande da reprodução, mas não os direitos autorais. É por isso que as pessoas costumam achar que as bandas são muito mais ricas do que realmente são: não se lembram dessa parte.
[Howard] Bom, eu sempre assumo que vocês estão nadando em dinheiro.

[Howard] Viva La Vida: como essa música chegou? Foi rápido?
[Chris] Foi bem rápido, sim, a não ser na parte em que todo o público começa a cantar junto, que só veio uns meses depois, em Nova York.
[Howard] Então, uma música chega para você rápido; ela está na sua cabeça; você sabe de antemão que é um sucesso.
[Chris] Eu não sabia. Eu sabia que era boa. E, para essa, eu tinha tipo 55 páginas com letra, porque eu tinha uma idéia de–
[Howard] Como você escreve as letras? Num saquinho de papel?
[Chris] Na minha mão e, depois, no celular.
[Howard] Você guarda as letras? Você escreve as letras em papel e guarda o papel?
[Chris] Na verdade, não.
[Robin] Você não tem um caderno com letras?
[Howard] Por que você não entregou os papéis para mim, para eu vender? [risos] Isso renderia muito dinheiro, não?
[Chris] Eh… Eu acho que não! [Chris começa a tocar Viva La Vida a partir de aproximadamente 10:20]

[Howard] Se eu tocasse piano assim, eu iria em festas e tocaria e pegaria geral.
[Chris] Mas você está se dando bem, cara.
[Howard] Estou me dando bem.
[Robin] Mas, depois, ele tem que começar a falar!
[Howard] Você conheceu a sua esposa durante um show, não é? Você estava tocando, ela te viu e ficou sem palavras. Mas quem é que não ficaria? É algo fabuloso!
[Robin] Como foi essa lenda?
[Howard] A lenda é que a Gwyneth era uma fã. Ela foi assistir um show, ficou histérica naquela noite e voces dois ficaram juntos.

[Howard] É dificil manter um relacionamento quando você está na estrada? Quantos dias por ano você está na estrada?
[Chris] Depende do ano. Talvez, até uns 200 dias.
[Howard] Você fica na estrada por 200 dias: é difícil ser pai, é difícil… A sua carreira absorve uma quantidade enorme de tempo. A sua banda também é uma família. Você precisa satisfazer essa família, você precisa satisfazer a sua família com a sua esposa e com os seus filhos. Como é que você consegue equilibrar tudo isso? Sério, como você consegue?
[Chris] Bom, eu não sei necessariamente se a gente consegue. A gente simplemente tenta, uma semana de cada vez.
[Robin] Vocês têm alguma regra sobre o máximo de intervalo de tempo sem se verem? Porque ela trabalha, você trabalha.
[Chris] Também tem crianças envolvidas, então… Não tem regras, você só–
[Robin] É que alguns casais não podem ficar “tempo demais” sem se ver. Quanto seria esse “demais” para vocês?
[Howard] A fórmula de duas semanas funciona para vocês? Vocês não podem ficar até duas semanas sem se verem?
[Chris] A gente não tem nenhuma regra gravada.
[Robin] Mas qual é máximo de tempo que vocês já ficaram separados?
[Chris] Seis anos. [risos]
[Howard] Isso não ajuda a manter as coisas quentes?
[Chris] Ô, pegando fogo.
[Howard] Mesmo no começo da minha carreira como radialista, eu estava consumido pela minha carreira. Eu pensei ‘Só tem um jeito de um conseguir fazer isso dar certo: eu tenho que dar tudo o que eu tenho’. A sua carreira se torna a sua obsessão. Mas, para um músico: 200 dias por ano?
[Chris] Isso não acontece necessariamente todo ano.
[Howard] Você certamente poderia se dar ao luxo de nao sair em turnê por 200 dias por ano. Sério, dava para você parar de trabalhar hoje.
[Robin] Mas você gosta? Você ama sair em turnê?
[Chris] Eu acho que tudo de bom na minha vida veio da banda, então, a gente encara isso com respeito. Você fez elogios à minha aparência, mas a minha vida é muito melhor por causa da música – não é só uma questão de boa aparência.
[Howard] Se a sua esposa dissesse ‘Eu não quero que você saia em turnê por 200 dias. 100 é mais do que o suficiente’, se ela quisesse que você tivesse mais tempo com os seus filhos, você diria ‘Não, a minha carreira vem primeiro’.
[Chris] Não, não, eu diria ‘sim’.
[Howard] Você abriria mão.

A parte 5 será publicada na quarta-feira (28) e um dia antes, no fórum

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